O verão acabou, o calor foi infernal, mas ar-condicionado nos ônibus urbanos não foi um dos modismos que marcaram a estação mais quente do ano. Apenas 11% da frota urbana da cidade (848 veículos) oferecem o conforto. Se por um lado há casos de linhas inteiras rodando como “quentões”, existem também aquelas que, à margem das regras estabelecidas no contrato de concessão, decidiram circular com a frota toda ou praticamente toda com ar-condicionado. Esta medida seria ótima, não fosse por um detalhe: o Bilhete Único Carioca não é aceito em ônibus com tarifas mais altas.
As duas situações mostram que as concessionárias agem praticamente com carta branca. Embora dentro da legalidade, a maior parte das empresas, por exemplo, decidiu radicalizar uma regra do contrato de concessão pela qual só podem ter até 20% da frota oferecendo serviços como o ar-condicionado, cobrando, por isso, tarifas mais altas. Não existe um mínimo. Por isso, nos terminais de ônibus, não é difícil ouvir despachantes e motoristas falando que, em suas linhas, não existe sequer um ônibus com ar. Segundo a Secretaria municipal de Transportes, o limite foi uma forma de garantir aos passageiros o uso do bilhete único, já que o cartão não é aceito em tarifas superiores a R$ 2,75.
— Minha empresa tem 19 linhas. São 251 ônibus. Nenhuma dessas linhas tem ar. Todas aceitam o bilhete único — diz o empresário Paulo Valente.
Outras empresas desafiam a aparente frágil fiscalização da Secretaria municipal de Transportes. No último dia 12, o EXTRA acompanhou o tráfego na Central do Brasil. Em duas horas, contabilizou dez ônibus da linha 154 (Central- Ipanema) saindo do terminal. Todas com ar. Despachantes contaram que a empresa não dá opção “sem ar” no 154. A secretaria explicou que essa linha já tinha 100% dos veículos refrigerados antes da licitação (em 2010). Por isso, 80% dos carros deveriam cobrar a tarifa do bilhete único (R$ 2,75). Mas o EXTRA verificou que todos cobravam R$ 3,10.
Meta
Faltando quatro anos para 2016, meta estabelecida pelo prefeito Eduardo Paes para que toda a frota do Rio tenha ar, as empresas continuam colocando em circulação ônibus novinhos em folha sem o sistema de refrigeração.
Este ano, duas concenssionárias jogaram às ruas 150 modelos conhecidos como “Mega BRS”. São veículos comprados para circular nos corredores expressos já criados na cidade. De acordo com a secretaria, o motivo de eles serem sem ar é exatamente para poderem aceitar o bilhete único.
Segundo um representante da Neobus, que fabricou as carrocerias, o custo de se instalar ar em ônibus que já circula é de R$ 50 mil.
A Fetranspor não respondeu se fará a adequação desejada por Paes até 2016 e nem como fará isso. Afirmou ainda que “os compromissos presentes no edital de licitação não contemplam substituição da frota por veículos com ar-condicionado”.
A Secretaria de Transportes informou que iniciou um amplo levantamento de problemas operacionais das linhas que circulam no município. Com base nesse relatório, as irregularidades encontradas serão objeto de multas contratuais.