Um projeto experimental para tentar reduzir o alto índice de assaltos aos coletivos está entre as propostas anunciadas pela Secretaria de Segurança do Amazonas (SSP-AM) em conjunto com o Ministério Público do Estado (MPE-AM). Caso o projeto seja colocado em prática, será abolido o uso de dinheiro para o pagamento de passagens, ou seja, as linhas de ônibus irão circular possivelmente sem cobrador. A ideia é evitar o acúmulo de dinheiro e inibir a ação dos bandidos.
Após o anúncio da proposta, usuários reclamaram que a falta de dinheiro no caixa dos coletivos não vai melhorar a segurança. Usuária da linha 427, a aposentada Cândida da Silva Góes, 63, faz o mesmo percurso há 15 anos e, apesar de nunca ter sofrido investida direta de criminosos, acredita que a segurança do passageiro pode até piorar. “Não acho que sem os cobradores irá resolver a situação, muito pelo contrário. Agora os criminosos vão direto nos passageiros”, afirmou.
Se para os usuários a situação de insegurança não mudará, para o cobrador de uma das empresas de transporte coletivo, que atua há dez anos na função, a medida também é ineficaz. “Assaltos existem em todo lugar, a ausência do cobrador só deve permanecer se der lucro às empresas”, comentou o cobrador, que preferiu não se identificar.
Caso a proposta venha a ser estabelecida, aproximadamente 1,2 mil cobradores de ônibus podem perder seus respectivos empregos ou serem remanejados para outras funções. A administradora de linha do Expresso Coroado, Silvia Elene, destaca que a medida sugerida já é existente em muitos Estados e, nem por isso, coibiram os assaltos. “Há duas semanas fomos assaltados aqui na estação de ônibus, levaram a renda e nossos celulares, o que vai acontecer é que parte dos cobradores pode ficar desempregados e os assaltos vão continuar porque os bandidos não levam só a renda, mas os pertences dos passageiros”, disse.
A usuária Luciana Lima, 29, que será mais uma medida sem eficácia. Ela lembrou das câmeras existentes em parte dos ônibus sem funcionalidade. “É inaceitável os investimentos que fizeram e elas não funcionam”.
A capital amazonense possui legislação própria sobre o monitoramento da frota por meio de câmeras e DVR veicular, recurso capaz de gravar as imagens captadas no veículo. A lei municipal 789, de 2004, obriga a instalação de câmeras de segurança no interior dos ônibus que circulam por Manaus. Se a empresa for flagrada descumprindo tal demanda, recebe uma advertência.
Dez assaltos por dia
Entre janeiro a outubro, as 10 empresas de transporte coletivo de Manaus registraram 2.767 assaltos, uma média de dez ocorrências por dia. O prejuízo chega a mais de R$ 804 mil. No mesmo período do ano passado, foram registrados 2.203 assaltos, segundo dados do Sinetram.
Por Naférson Cruz