Lotação esgotada no maior terminal rodoviário da América Latina. Vinte e um anos depois de inaugurado, o Terminal João Goulart, no Centro, está completamente saturado e suas plataformas, construídas para receber diariamente 600 ônibus municipais e intermunicipais, não são suficientes para as operações de embarque e desembarque dos atuais 1.681 coletivos. Com o transtorno frequente, os passageiros dos ônibus são os mais prejudicados com a confusão, principalmente na hora do rush, pela manhã e no início da noite, quando a falta de espaço provoca desordem, atrasos e conflitos entre usuários, rodoviários e agentes de trânsito. Pelo terminal passam cerca de 550 mil pessoas por dia.
O caos no João Goulart vai parar na Justiça do Trabalho nesta segunda-feira. Revoltados com as multas aplicadas por agentes da Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans) e da Superintendência de Terminais de Niterói (Suten), o Sindicato dos Rodoviários está denunciando os dois órgãos ao Ministério Público do Trabalho. Na queixa, os rodoviários informam que estão sendo multados por obstrução das vias e argumentam que não são responsáveis pelo caos causado pela superlotação do terminal.
— Como não encontram soluções para resolver o problema do terminal, resolveram multar os motoristas num local onde não cabe multa porque o João Goulart é um espaço restrito, não é uma via pública. Os rodoviários estão revoltados e já ameaçam fazer uma greve se o problema não for resolvido. O terminal tem que ser ampliado com urgência — cobrou o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Rubens dos Santos Oliveira, acrescentando que já mandou ofícios ao prefeito Rodrigo Neves e ao presidente da NitTrans, coronel Paulo Afonso, pedindo solução para o problema das multas.
As multas começaram a ser aplicadas pelos agentes de trânsito em 2011. Até agora, cerca de 300 motoristas já sofreram sanções. Cada um está sujeito ao pagamento de multa de R$ 191,50, além de perder sete pontos na carteira de habilitação. Do João Goulart partem ônibus para bairros de Niterói, São Gonçalo, Rio, Baixada Fluminense e para municípios da Região dos Lagos.
— Fui multado porque fiquei menos de três minutos na fila dupla para desembarcar os passageiros. Não poderia largá-los no meio do caminho. Fui desrespeitado, vítima de um absurdo — indignou-se o motorista Valdinei Sigmaringa da Cruz, de 47 anos.
Para tentar amenizar o caos, as empresas de ônibus escolhem seus funcionários mais experientes para coordenarem as operações de embarque e desembarque no terminal. Eles contam que existem linhas que sequer têm baias nas plataformas e há casos em que sete delas usam apenas duas baias.
— Houve um aumento explosivo de usuários quando começou o bilhete único e, depois, com a redução vans. A dificuldade de mobilidade também contribuiu porque são necessários mais ônibus para atender à demanda. Somente a linha 515 (Niterói-Mutuá) transporta 20 mil passageiros por dia, o triplo de 20 anos atrás — explica José Carlos Teixeira da Mota, rodoviário há 29 anos e há 15 atuando no João Goulart.
O vigilante Sérgio Renato Corrêa de Souza, que passa pelo terminal há mais de dez anos, diz que já cansou de testemunhar brigas e discussões:
— Na hora do pico, depois das 17h, os ônibus não conseguem chegar ao ponto porque são bloqueados por outros que estão embarcando ou desembarcando passageiros no meio da pista. É confusão todo dia porque são muitos ônibus para pouco espaço.
O despachante Ronaldo Corrêa conta que o horário crítico do terminal é entre 17h e 20h:
— Os ônibus costumam ficar retidos em “pontos negros”, como a Praça do Barreto, onde os sinais demoram quatro minutos para abrir, e em vias de mão dupla, como a Mário Vianna (em Santa Rosa) e a Desembargador Lima Castro (no Fonseca). Por causa disso, chegam todos juntos, e os motoristas não podem deixar os passageiros longe das plataformas.
No ano passado, o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários (Setrerj) entregou à Suten o projeto para ampliação do Terminal João Goulart, separando as plataformas de embarque e de desembarque.
— Além de prejudicar os rodoviários, os passageiros são sacrificados com a demora no embarque e no desembarque e com a consequente confusão nas plataformas por causa do espaço reduzido. Nós recebemos muitas reclamações de usuários, mas não temos responsabilidade na administração do terminal. A redução do número de ônibus também é impossível porque a frota é compatível com a demanda de passageiros — avalia Márcio Barbosa, superintendente do Setrerj.
ADMINISTRADORA JÁ PEDIU AMPLIAÇÃO
A Teroni Terminais Rodoviários, que tem a concessão para administrar o terminal, informou que solicitou a ampliação há mais de três anos, mas ainda não obteve resposta da prefeitura. Para amenizar o caos, a empresa criou, com seus recursos, uma área nos fundos do João Goulart para estacionamento de ônibus quando houver excesso deles nas plataformas. Também abriu uma área para os veículos da Viação 1001 que ligam Niterói à Região dos Lagos. A empresa esclareceu ainda que seus funcionários não têm poder de multa.
A prefeitura de Niterói informou, através de nota, que os motoristas são multados no interior do terminal por bloqueio indevido de vias, desobediência e falta de respeito com as autoridades credenciadas de trânsito (ofensas, ameaças e o não uso do cinto de segurança). Os motoristas infratores que se sentirem injustiçados podem impetrar recurso junto à NitTrans.
Ainda segundo a nota, o município tem planos para fazer melhorias no Centro de Niterói e no João Goulart: “Algumas medidas já estão sendo tomadas: remanejamento de todos os fiscais de pista para melhor organização dentro das baias do terminal, além do stand by (área de espera), que é fundamental para o funcionamento do terminal. Vale ressaltar que outros projetos estão sendo elaborados para melhoras futuras”.
Por Paulo Roberto Araújo