Agilidade e ônibus estão prestes a deixar de ser antônimos. Será assinado, no mês que vem, o contrato bilionário do projeto que promete transformar as tartarugas do trânsito em sinônimo de rapidez. A equação para que o Transporte Rápido por Ônibus, o BRT (da sigla Bus Rapid Transit), saia do papel estará praticamente montada, com a assinatura pela Prefeitura de Belo Horizonte, a 116 quilômetros de Itabira,do financiamento da Caixa Econômica Federal (CEF).
A partir de uma linha de crédito criada pelo governo federal para obras de mobilidade nas 12 cidades sedes da Copa do Mundo’2014, o banco vai liberar R$ 1 bilhão para a implantação em BH de três corredores do BRT (Antônio Carlos – Pedro I, Cristiano Machado e Pedro II – Carlos Luz) e adaptação de vias no Centro. A exemplo das capitais Bogotá (Colômbia) e Curitiba, a aposta belo-horizontina é na criação de um sistema de ônibus nos moldes do metrô, com pistas exclusivas, instalação de estações com plataformas em nível e pagamento da tarifa antes do embarque.
A liberação do trânsito da Avenida Antônio Carlos, que passa a contar com uma busway (pista com duas faixas somente para ônibus) e sete viadutos (eliminando cruzamentos), é um importante passo para o projeto. Mas, para que a equação do BRT dê certo, com a implantação de 38 quilômetros de corredores rápidos de ônibus até 2012, como prevê a BHTrans, empresa que administra o trânsito na capital, será necessário resolver ainda um problema: as desapropriações. Na Avenida Dom Pedro I, que corta as regiões da Pampulha e de Venda Nova, todos os imóveis no sentido bairro/Centro darão lugar a novas pistas. A solução da prefeitura é, sob o rótulo de uma operação urbana consorciada, abaixar o potencial construtivo da região, contribuindo para reduzir o preço dos imóveis. A ideia é facilitar a desapropriação, mas já causa polêmica entre os proprietários.
De acordo com o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas, apesar de o contrato com a Caixa não ter sido assinado, os trabalhos estão em andamento, com a licitação de projetos executivos dos corredores. Além de oferecer transporte de qualidade no campeonato mundial de futebol, ligando diversos pontos da cidade ao Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, o desafio é reverter uma estatística preocupante. “Atualmente, 60% dos veículos motorizados são ônibus e 40% carros e motos. Em 2020, a estimativa é de uma inversão para 50% de cada tipo. Com esse sistema, queremos reverter a curva, recuperar o espaço do ônibus e até aumentá-lo para 68% dos veículos”, afirma Freitas.
Outra intenção é reduzir o tempo das viagens. Segundo o diretor, com o BRT será possível aumentar de 10km/h para 20 km/h a velocidade média dos ônibus no hipercentro e de 17km/h para 30km/h nos corredores viários. “Se elimino cruzamentos, faço o embarque em nível e deixo o trânsito livre, diminuo o tempo das viagens. Queremos atrair o usuário do automóvel para o transporte coletivo”, afirma. Uma central SitBus, que vai administrar por satélite itinerários e tempo de viagem, também faz parte do projeto e fornecerá informações sobre os coletivos aos usuários em tempo real.
Se a promessa for cumprida, a dona de casa Kátia Lage Maria, de 26 anos, é uma das que topa largar o carro em casa. “Com certeza usaria ônibus, seria bem mais prático. Na cidade não tem lugar para estacionar direito. Mas hoje o ônibus é precário, demorado e cheio”, diz a moradora do Bairro São João Batista, em Venda Nova, futura usuária do corredor Antônio Carlos-Pedro I. A empregada doméstica Terezinha Antônia, de 58, também torce para que a proposta do BRT dê certo, já que não tem outra alternativa de transporte senão o coletivo. Todos os dias ela enfrenta uma via-crúcis na Avenida Pedro II e semana passada não foi diferente. “Vim correndo para pegar o ônibus das 16h. São quase 17h e até agora nada. E, muitas vezes, quando passa, o ônibus está lotado”, reclama.
Projeto
Os três corredores viários de BRT atenderão um público de 850 mil passageiros por dia, aproximadamente. O mais adiantado é o das avenidas Antônio Carlos – Pedro I. Apesar de o prazo de conclusão dos corredores ser no segundo semestre de 2012, o projeto executivo da Antônio Carlos é o único em elaboração, devendo ficar pronto em setembro. Depois disso já podem começar as obras para a criação do corredor de 16 quilômetros, do Complexo da Lagoinha, na Região Nordeste, até a Avenida Vilarinho, em Venda Nova, projetado para transportar 25 mil passageiros por hora por sentido.
Orçada em R$ 700 milhões, a obra inclui a duplicação da Pedro I para a criação de pista exclusiva com duas faixas por sentido, assim como há hoje na Antônio Carlos. Um ramal, pela Avenida Portugal, até o Céu Azul, em Venda Nova, também está previsto. (As informações são do jornal Estado de Minas)
Segundo o diretor da BHTrans Célio Freitas, o projeto mais simples é o da Avenida Cristiano Machado com cinco quilômetros. Nas intervenções para a construção da Linha Verde, a via recebeu uma busway. Para implantar o transporte rápido, serão necessários R$ 50 milhões apenas para adaptações.
A licitação para contratar projeto executivo fica aberta até esta semana. Nesta primeira fase, o BRT irá do Complexo da Lagoinha até a Estação São Gabriel, no bairro de mesmo nome, na Região Nordeste, com capacidade para carregar 17 mil pessoas por sentido por hora. A ideia, entretanto, é levá-lo, numa segunda etapa, até a Avenida José Cândido da Silveira, no Bairro Cidade Nova, também na Nordeste, e, depois, da Estação São Gabriel à Estação Vilarinho, em Venda Nova.
Diferentemente da Cristiano Machado, o corredor rápido Pedro II-Carlos Luz, que abrangerá os 12 quilômetros das duas avenidas, vai demandar grandes mudanças nas vias, num custo de R$ 230 milhões, cuja licitação para o projeto executivo está em andamento. Para eliminar cruzamentos, um viaduto será erguido na interseção das duas avenidas. Será preciso alargar as vias onde forem construídas as estações. Nesse corredor não haverá pistas exclusivas para os ônibus, mas faixas junto aos canteiros centrais.
O projeto do BRT também cria corredores estratégicos no Centro da cidade, nas avenidas Paraná, Amazonas e Santos Dumont.
Fonte: Via Comercial