O desrespeito dos motoristas às faixas exclusivas de ônibus no centro de Belo Horizonte tem prejudicado o bom funcionamento das linhas do Move (nome dado ao BRT da capital) que circulam pela região. Três meses após a implantação das novas pistas nas avenidas Augusto de Lima, no centro, e Professor Alfredo Balena, na área hospitalar – delimitadas por linhas azuis pintadas no asfalto –, condutores de carros, caminhões e motos ainda insistem em utilizar as faixas exclusivas, obrigando os veículos do Move a fazerem desvios repentinos. Motoristas dos ônibus articulados reclamam que o comportamento tem atrapalhado e atrasado as viagens do BRT.
A reportagem percorreu os principais trajetos do Move fora dos corredores das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. Em uma hora de observação na avenida Augusto de Lima, 39 automóveis foram vistos transitando na faixa exclusiva, em trechos onde até mesmo a conversão à direita é proibida – uma média de um a cada um minuto e 53 segundos. Outros 28 veículos, incluindo carros de passeio, motos, táxis e caminhões, foram flagrados estacionados nas áreas exclusivas – um a cada dois minutos e 14 segundos. Com os obstáculos, 14 ônibus precisaram fazer desvios e transitar por outra faixa.
“Isso é o tempo todo e atrapalha demais o percurso, principalmente na subida da Augusto de Lima”, reclamou o motorista Afonso Barros, 33. “Acabamos tendo que desviar dos carros, atrasando a viagem. Sem falar no risco de bater em quem vem pela esquerda”.
Na região hospitalar, o problema se repetiu. Um veículo estacionado em um ponto de ônibus da rua Paraíba, entre as avenidas Carandaí e Professor Alfredo Balena, irritou o motorista Rogério Oliveira, 47, obrigado a desviar e a parar afastado, fazendo passageiros irem até quase o meio da rua para conseguir subir no coletivo. “Esse é um exemplo de como os carros estão nos atrapalhando. Os corredores do Move não estão sendo nada exclusivos”.
Prejuízo. Para especialistas, o BRT só conseguirá atender com eficácia seu propósito quando os outros veículos começarem a respeitar o sistema como um todo. “Quando o BRT sai da busway e entra no tráfego normal, ele está sujeito a encontrar todas as interferências convencionais do trânsito. E quando elas acontecem diretamente no seu percurso, pode haver retenções, aumento no tempo da viagem e redução na produtividade do veículo, que vai ter que frear e mudar de direção, podendo até causar acidentes”, explicou o professor Guilherme de Castro Leiva, coordenador do curso de Transporte e Trânsito do Cefet-MG.
Segundo o professor, o prejuízo depende da magnitude da intervenção na via, podendo ir de atrasos de alguns segundos até três minutos, quando o fluxo está intenso, ou mesmo chegar a horas, em caso de acidente. “Principalmente quando estamos falando da área hospitalar, onde há várias pessoas com mobilidade reduzida nas travessias, o respeito às regras precisa ser sério”.
Funcionamento. Na região central, veículos de passeio, táxis, caminhões e motos só podem acessar as faixas exclusivas de ônibus para fazer a conversão à direita nos locais liberados pela sinalização. Nesses casos, há trechos pintados com linha branca tracejada.
Punição. Quem desrespeita o uso exclusivo das faixas de ônibus está sujeito a receber três pontos na carteira de habilitação e a pagar multa no valor de R$ 53,21. Caso estacione em algum local dessas faixas, a infração passa a ser média (quatro pontos) ou grave (cinco), dependendo da sinalização existente. A multa ao infrator pode chegar a R$ 127,69.
Por luiza Muzzi
Informações: O Tempo