Durante o trajeto pela cidade do Rio, um motorista de ônibus estaciona fora do ponto, no meio do trânsito, desce e compra uma água, enquanto os passageiros aguardam dentro do veículo.
“Isso sempre acontece. Tomam cafezinho, isso é básico, né?”, afirma a doméstica Daniele Caetano de Souza, que considera a prática um absurdo. A promotora de vendas Tânia Mara já ficou parada em um posto de gasolina enquanto o motorista comprava água. “Ele ficou um bom tempo tomando a água e a gente lá esperando”, reclamou ela.
“Isso é descaso. Isso aí é falta de respeito com o usuário. Eu acho que quando a gente sai pro trabalho a gente tem que sair pronto”, alegou o supervisor de vendas Camilo Cavalcanti, também vítima do mau comportamento dos motoristas.
A auditora Andréia Ferreira também contou que a prática é comum entre os motoristas do Rio. “Acho um absurdo. Se eu quiser tomar café eu não posso, fora que atrasa todo mundo, e geralmente eles não param no ponto, param em um lugar que acaba atrapalhando o trânsito”, disse ela.
Acostumado com a cena durante as viagens de ônibus, o servidor público César Augusto se surpreendeu com uma atitude perigosa de um motorista, que parou para beber uma dose de cachaça. “Ninguém falou nada, ninguém reclamou. Eu desci no ponto seguinte”, contou.
Novo código disciplinar promete ser mais rigoroso
De acordo com a Secretaria municipal de Transportes, o novo Código Disciplinar de Transporte de Passageiros por Ônibus, que promete ter um efeito mais rigoroso a partir deste sábado (30), diz que se o motorista "interromper viagem, durante a operação, sem motivo justo" comete uma falta grave e a empresa é multada em R$ 121.
Segundo a secretaria, este é o caso do motorista que para o ônibus para fazer um lanche, trocar dinheiro “ou outra finalidade alheia ao veículo que dirige”. Além da multa, ele ainda pode ser penalizado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) por estacionamento irregular, caso a parada tenha ocorrido fora do ponto.
No episódio em que o motorista estacionou o veículo para beber uma dose de cachaça, citada por um servidor público, a falta é classificada como gravíssima e a multa é de R$ 161.
Já a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) alegou que desenvolveu, em parceira com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o curso “Motorista Cidadão”, que já treinou mais de 14 mil profissionais. O número para reclamações de motoristas em todo o estado do Rio é o 0800 886 1000.
As novas regras passam a valer quando começam a operar os consórcios vencedores da licitação do sistema de ônibus. No novo código, segundo a secretaria, as empresas devem assumir "inteira responsabilidade pela atuação de todos os seus empregados”. A secretaria afirmou que, ao mesmo tempo, pode punir motoristas e cobradores que contrariem as determinações do código, através de denúncias dos passageiros e em fiscalizações.
No dia 17 de setembro,
o prefeito do Rio, Eduardo Paes, assinou o contrato com os quatro consórcios vencedores da licitação para operar os ônibus municipais nos próximos 20 anos. A capital foi dividida em quatro áreas e os veículos terão cores diferentes, representando cada uma delas. Outras mudanças estão previstas, como a implantação de câmeras de vídeo e o uso do rastreador GPS para acompanhar a movimentação da frota.