O vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 7ª Região, desembargador Manoel Arízio Eduardo de Castro, reconheceu, no início da noite de ontem, a abusividade da greve deflagrada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará (Sintro). No despacho, determinou a volta imediata ao trabalho de motoristas, trocadores e fiscais. Caso ocorra o descumprimento, esses profissionais ficarão passíveis de demissão por justa causa.
A solicitação de reconhecimento da abusividade foi feita pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado (Sindiônibus), que documentou provas com base nas matérias jornalísticas exibidas pelos noticiários das televisões de Fortaleza, que mostraram motoristas depredando ônibus, furando pneus e fazendo a população descer dos coletivos. Argumentou, também, que ação dos grevistas gerou um verdadeiro caos no trânsito da cidade.
O assessor jurídico do Sindiônibus, Cleto Gomes, faz apelo para que os profissionais retornem, dentro da normalidade, às suas atividades e aguardem as determinações judiciais sobre o dissídio coletivo.DissídioO procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Ceará, Francisco Gérson Marques de Lima, ajuizou, no final da tarde de ontem, perante o (TRT), dissídio coletivo de greve referente aos trabalhadores em transportes rodoviários.
A ação judicial foi proposta após motoristas, cobradores e fiscais do transporte coletivo urbano de Fortaleza terem iniciado ontem uma nova paralisação, aprovada em assembleia da categoria acontecida no último sábado, dia 7.
No dissídio, o procurador sugere que seja fixado reajuste de 10% para os trabalhadores do setor, retroativo a 1º de maio último (data-base da categoria). Ele também pede a concessão de tutela antecipada para que as empresas adiantem, desde já, aos trabalhadores, o percentual de 5,5% retroativo a 1º de maio.
O percentual indicado para o adiantamento é o proposto pelo Sindiônibus e que, segundo as empresas, já começou a ser pago no início deste mês. A diferença em relação ao percentual que vier a ser fixado pelo Tribunal Regional do Trabalho ao final do processo será desembolsada posteriormente.Em seu parecer, Géson Marques justificou o fato de ter mudado o percentual por ele anteriormente proposto de 8,7% para o agora formulado de 10%, alegando que fatos novos motivaram a nova propositura.
Reunião
O desembargador Arízio de Castro agendou para a próxima terça-feira, dia 17, reunião para uma tentativa de negociação entre patrões e empregados.Hoje, ele analisa e determina a posição do TRT sobre a sugestão do procurador do MPT no que se refere à concessão de tutela antecipada.
Leis de trânsito ignoradas
No cruzamento das avenidas João Pessoa e Universidade, os fotossensores disparavam flashs continuamente. Os condutores de carros e motos ignoravam as cores do semáforo, invadindo as preferenciais, ocasionando o risco de graves colisões. "Parece o fim dos tempos, sabe aquele filme o Armagedon?", disse a secretária Lídia Louvriei.
Caminhando desde o Centro até o Porangabussu, ela deparou-se com milhares de pessoas que pareciam compor uma verdadeira procissão de penitentes. Adentrando o meio das ruas, pedestres tentavam parar as topics de qualquer maneira.
Na Avenida João Pessoa, no cruzamento com a Rua Delmiro de Farias, próximo ao Colégio Salesiano, um congestionamento começava a se formar de forma intensa. Nas ruas perpendiculares, os ônibus rodavam em operação tartaruga, bem próximos uns dos outros, impediam que o fluxo prosseguisse.
O patrulhamento dos policias do Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio) chegou ao local às 17h30. A partir do cruzamento da Avenida João Pessoa com Rua João Sorongo, próximo a sede do Ceará Sporting Clube, a população era orientada a descer dos ônibus. Indignados por não terem o valor das passagens devolvidos, as pessoas reclamavam e tentavam protestar como podiam.
A funcionária pública Fátima Bastos, de 63 anos, pretendia chegar em casa como nos dias anteriores. Porém, em virtude da greve, não viu nenhuma possibilidade de volta para casa até, pelo menos, às 20 horas. A orientação dos fiscais era para que seguissem a pé. O que parecia impossível já que ela deveria ir ao Conjunto Ceará.
Por volta das 17 horas, na Av. Raul Barbosa, circulavam muitos ônibus vazios, alguns com os letreiros dos itinerantes desligados, outro com destinos diferentes dos convencionais.