Brasília e Rio de Janeiro - Para cada situação há um meio de transporte mais adequado. Consultado pela Agência Brasil, o especialista em políticas públicas de transportes e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Artur Morais, mostrou em quais casos é mais vantajoso andar a pé, de bicicleta, usar moto, carro ou o transporte público para se locomover.
“As pessoas associam o carro à rapidez. Nem sempre isso é verdade. Carro faz parte do nosso imaginário desde o tempo em que éramos crianças, e isso acaba refletindo na nossa cultura. Há muitas situações em que você chega mais rápido indo a pé, de bicicleta ou de moto”, disse Morais.
Segundo ele, estudos da Comissão Europeia mostram que para distâncias de até 8 quilômetros a bicicleta é mais rápida que os outros meios. “Mas há que se levar em consideração a existência de ciclovias seguras para o trajeto, coisa que, no Brasil, existe predominantemente em orlas e parques porque temos o hábito de associar esse meio de transporte apenas ao lazer”, acrescenta.
Apesar de não haver ciclovias no trajeto entre a casa e o trabalho do luthier [profissional que faz, reforma ou conserta instrumentos musicais] Carlos Kazen, de 43 anos – e de já ter sido atropelado por um carro quando se deslocava de bicicleta –, ele insiste em usar esse meio de transporte para percorrer quatro vezes por dia os 4 quilômetros (km) que separam sua casa de seu trabalho, ambos no Plano Piloto, em Brasília.
“Andar de bicicleta é um prazer para mim, além de ser o meio de transporte mais barato. Só uso carro nos casos em que preciso entregar instrumentos mais pesados, como guitarras, contrabaixos ou cajóns [instrumento percussivo] na casa de meus clientes”, justifica Kazen.
Andar a pé, afirma Morais, é o ideal para distâncias de até 2 km. “Leva cerca de 20 minutos. Além de ser mais saudável e barato, evita contratempos como a busca por vagas nos estacionamentos e as paradas em sinais de trânsito”, informa o especialista.
"Gasto em média 15 minutos para chegar no meu trabalho à pé. É bem menos tempo do que gastaria se fosse de carro, porque há trânsito e dificuldade para arrumar vagas nos estacionamentos do centro [de Brasília]. Além do mais, é muito mais gostoso fazer o percurso [de quase 2 km] a pé. Dá para pensar na vida e planejar as atividades do dia com tranquilidade. De carro há sempre uma certa tensão", justifica o auditor dos Correios Edwin Souza de Faria, de 41 anos. "O fato de morar perto me permite, também, almoçar sempre em casa", acrescenta.
Já as motos, do jeito que são utilizadas hoje, representam perigo para quem as pilota. Mas também têm pontos positivos. “As vantagens estão relacionadas à locomoção rápida, inclusive por grandes distâncias. Além disso, são econômicas e não são prejudicadas pelos engarrafamentos”, avalia Morais.
Flávio da Silveira, de 30 anos, supervisor administrativo, mora em São João de Meriti, no Rio de Janeiro. Ele usa moto por considerar uma forma mais rápida e econômica de se locomover. Mesmo sabendo dos riscos desse tipo de transporte, diz que não o trocaria por outro. “Moto é economia, qualidade de vida e rapidez."
Transportes públicos como ônibus, metrô e trem são “ideais para situações de cotidiano”, mas dependem da quantidade de usuários. “Grande demandas são mais bem atendidas por transportes sobre trilhos [metrô e trem]”, afirma Morais.
Para ele, boa parte dos problemas de trânsito das grandes cidades se devem ao fato de a população utilizar carros para os deslocamentos cotidianos, entre a casa e o trabalho. “Sou da opinião de que carro é apenas para deslocamentos excepcionais ou para o lazer."
Os táxis também servem para o uso eventual e podem ser vantajosos também no aspecto financeiro. “A manutenção de carros custa caro. Se levarmos em consideração os gastos com estacionamentos, a desvalorização dos carros com o passar dos anos, as mensalidades e o tempo gasto para encontrar vagas, há muitas situações em que usar táxis pode ser, além de mais prático, mais econômico."
É o caso do empresário Marcelo da Costa, de 31 anos, que mora no bairro de Fátima, no Rio de Janeiro. Ele vai pro centro da cidade de táxi por considerar este meio mais cômodo e rápido. Além disso, acrescenta, não tem um custo tão alto. “Se o metrô funcionasse melhor e fosse mais perto da minha casa eu até deixaria de usar o táxi."
A auxiliar de cozinha Fernanda Salete Soares, de 28 anos, mora em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, e escolhe o ônibus como meio de transporte pela comodidade. “Ele passa na porta da minha casa", disse. Já a auxiliar administrativo Joana Dark Faustino, de 20 anos, usa o ônibus apenas de vez em quando. Por causa dos congestionamentos, prefere utilizar a barca que liga Niterói, onde mora, à capital carioca.
Morador de Marechal Hermes, o autônomo Aloísio Neto Pereira, 55, utiliza o trem por ser mais rápido e não pegar engarrafamento. “Gasto 25 minutos para chegar ao centro. Quando tenho que pegar ônibus gasto duas horas para fazer o mesmo percurso”, disse.
Fonte: Agência Brasil - Edição: Andréa Quintiere