Ver um ônibus envolvido em um acidente de trânsito parece cada vez mais comum em Curitiba. Pelo menos três a cada dez moradores da cidade já passaram por isso, segundo levantamento da Paraná Pesquisas feito com exclusividade para a Gazeta do Povo. Das 510 pessoas ouvidas entre terça e quinta-feira da semana passada, 35% disseram que já presenciaram um veículo de transporte coletivo da capital envolvido em batidas de trânsito.
De novembro de 2008 a janeiro deste ano, três pessoas morreram e 86 ficaram feridas em cinco acidentes graves envolvendo ônibus em Curitiba. O caso mais recente a chamar a atenção foi no dia 8 deste mês, quando uma colisão entre um biarticulado e um ligeirinho, na Travessa da Lapa, no centro de Curitiba, deixou 40 pessoas feridas.
Apesar desse tipo de ocorrência se tornar cada vez mais comum na cidade, a pesquisa mostra que 50,5% da população considera o transporte coletivo ótimo ou bom. Outros 28% dizem que o sistema é regular e pouco menos de 20% afirma que andar de ônibus na capital é ruim ou péssimo. Os principais problemas apontados são superlotação, demora entre um ônibus e outro e o preço da tarifa. As pessoas que não usam o transporte coletivo como principal meio de transporte têm uma avaliação levemente melhor das que encaram os ônibus todos os dias. A diferença, porém, está dentro da margem de erro de 4,5% do levantamento.
Imagem forte
Segundo a pesquisa, somente dois em cada dez curitibanos não gostam nada do sistema de ônibus da cidade. “É muito forte a imagem que se fez [do sistema] nos últimos anos. Ele funciona, mas tem problemas”, analisa o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. Ele avalia que a tendência é essa imagem se deteriorar nos próximos anos, caso as deficiências não sejam atacadas e os problemas resolvidos. “O problema não é tanto o preço da tarifa. O grande desafio é a superlotação.”
Para o engenheiro civil, mestre em transportes e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Ricardo Bertin, essa avaliação da população deve pautar o planejamento nos próximos anos, pois o sistema está perto da saturação. “Tradicionalmente, temos um bom sistema. Tanto que ele foi copiado em Bogotá, na Colômbia. A cidade foi a primeira a colocar os ônibus em canaletas, numa espécie de pré-metrô”, disse. “O sistema está chegando a seu ponto de saturação. Sou a favor da implantação de um sistema metroviário, como o metrô.”
Lotação, demora e tarifa
Não é preciso ser um especialista para notar os principais gargalos do sistema. A população apontou como problemas o que todos os especialistas citam como as principais deficiências que afastam as pessoas do transporte público: lotação, demora e, claro, o preço da passagem. “Precisamos ter o dobro de ônibus, principalmente nos horários de pico”, acredita o engenheiro civil Clóvis Lunardi, especialista em transporte e ex-presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
Ricardo Bertin também avalia que oferecer mais veículos é essencial para melhorar o índice de satisfação dos usuários, mas aponta uma possível consequência: o aumento do preço da passagem. “Só se reduz o tempo de espera no ponto se colocar mais ônibus. Com isso você reduz a lotação, mas aumenta os custos”, lembra. Ele sugere a desoneração tributária dos insumos – como pneus e óleo diesel – como forma de combater a elevação do preço.
O arquiteto Carlos Ceneviva, ex-presidente da Urbanização de Curitiba (Urbs) e do Ippuc, acredita que os usuários não se importariam de pagar por um serviço de qualidade. “O preço da passagem só é caro se o serviço é ruim”, afima. Na pesquisa, 49,1% dos entrevistados disseram que o atual preço de R$ 2,20 é caro e 46% o consideraram justo. Pouco mais de 3% acham a tarifa barata e 77% disseram que R$ 2,50 seria um preço muito alto diante do que é oferecido. “Há uma correlação entre os 50% que aprovam o sistema e os 46% que acham o valor justo”, diz Ceneviva.