Agora, o Brasil tem de aproveitar o tempo ganho com o adiamento para uma reavaliação de cronogramas e análise de outras prioridades na infraestrutura. Por exemplo, não se pode dizer que o trem-bala é mais importante do que a duplicação da capacidade dos terminais de passageiros dos aeroportos. Ou que tem mais retorno que o aumento do calado dos portos de Santos, Paranaguá, e mais pelo menos oito portos capazes de receber navios de grande porte. É também motivo de dúvidas atribuir importância maior ao trem-bala do que a projetos que poderiam duplicar as atuais malhas metroviárias de São Paulo e Rio de Janeiro, inclusive fornecendo acesso por metrô aos dois aeroportos mais importantes do País. Pois o orçamento do trem-bala engloba os orçamentos de todos os projetos acima listados.
O momento vivido pelo Rio, associado aos congestionamentos que atingem situações incontroláveis em São Paulo, aos eventos de 2014 e 2016, e à deterioração da mobilidade urbana em quase todas as capitais não permitem que o foco das atenções seja todo dirigido para um projeto limitado espacialmente. Todas as regiões têm suas necessidades e dividir os recursos para resolver gargalos diversos é uma demonstração de gestão pública avançada e mais comprometida com a eficiência e competitividade brasileira.
As prioridades em infraestrutura logística começam no interior, passam pelas capitais e desembocam nos portos marítimos. Portanto, do novo governo demanda-se um aumento da densidade ferroviária, principalmente nas fronteiras agrícolas. Não se pode conceber uma nação que depende cada vez mais das fronteiras agrícolas do Centro-Oeste, Nordeste e Norte, sem que tais regiões sejam servidas de uma malha ferroviária conectada a uma rede rodoviária de alimentação.
No caminho do consumo, é preciso cuidar para que a malha rodoviária seja eficiente, principalmente pelo volume maior de estradas asfaltadas e com melhores condições de tráfego para produtos de maior valor agregado. Nesse contexto, é importante priorizar a duplicação das principais rodovias do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, com consequente projeto de transferência para a iniciativa privada, com modelos de concessão que garantam pedágios com alto custo-benefício tanto para concessionários quanto para usuários.
Ao entrar nas grandes cidades, torna-se fundamental melhorar a mobilidade urbana, com investimentos robustos na expansão do metrô e criação de novos sistemas de transporte coletivo. Associada à mobilidade urbana, apresenta-se a duplicação imediata da capacidade de movimentação de passageiros nos aeroportos, principalmente aqueles que serão porta de entrada dos visitantes na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016. A imagem do Brasil será construída a partir dos aeroportos, e neles devem estar nossas atenções.
Os recursos públicos são limitados e, no caso brasileiro, necessários para a busca de melhorias em várias áreas. As vantagens competitivas e comparativas adquiridas nos últimos 16 anos não podem ser comprometidas por situações vergonhosas de infraestrutura. A entrada no seleto clube de países desenvolvidos tem de estar acompanhada de melhor qualidade de vida para os cidadãos. Portanto, não se deve brincar com R$ 33 bilhões quando muita coisa ainda está por ser feita.