A Fundação Getúlio Vargas revisou um estudo bianual, feito desde 2002, sobre o preço do congestionamento da cidade de São Paulo e concluiu: o prejuízo de manter as filas intermináveis de carros parados já equivale a 1% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
O custo do trânsito soma o gasto com combustíveis para carros, ônibus e caminhões parados, estimativas sobre os gastos que a saúde pública tem por causa da poluição e - mais importante - as horas de salário perdidas pelas pessoas sentadas, amarradas aos cintos de segurança, sem trabalhar.
Essa conta deu, no ano passado, R$ 40 bilhões, segundo o vice-presidente da FGV e ex-secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Marcos Cintra. Significa dizer que cada cidadão deixou de ganhar ou gastou cerca de R$ 3,6 mil por estar parado olhando para o carro da frente, desperdiçando combustível e respirando o ar poluído.
Para calcular o preço das filas de carros parados, a pesquisa usou funções matemáticas e estimou a frota presa nos congestionamentos (baseada nos índices de trânsito divulgados pela CET) e os gastos de combustível desses veículos a uma velocidade média de 15 km/h (dado também fornecido pela CET). A comparação, para calcular o desperdício, foi feita com a mesma frota trafegando a uma velocidade média de 50 km/h.
Só a gasolina queimada pelos carros esperando o semáforo abrir dá um gasto de R$ 3 bilhões, divididos por motorista. É mais ou menos o que o governo do Estado de São Paulo está gastando para construir o Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, obra viária que promete aliviar o tráfego.
Cintra, no entanto, duvida da eficácia das grande obras viárias feitas para resolver o trânsito. "A lógica da cidade é de grandes artérias de tráfego. O tráfego deveria ser diluído em pequenas obras para espalhar os veículos pelas outras vias. Mas a solução definitiva é o investimento em transporte público."
Cargas. Na conta do prejuízo também entra o chamado custo São Paulo, para a indústria e o comércio - e consequentemente para toda a economia. O estudo mostra que cada caminhão que passa pelo Município precisa de R$ 28 a mais para rodar por causa do trânsito.
Somando todos os caminhões que circulam anualmente na cidade, o gasto que os caminhoneiros e empresários têm é de R$ 4 bilhões - valor repassado às mercadorias consumidas na cidade.
Subestimado. Na primeira vez que a FGV fez esse estudo, em 2002, o prejuízo coletivo foi estimado em R$ 10 bilhões. Ou seja, em dez anos, a falta de prioridade para o transporte público fez o custo do trânsito ser multiplicado por quatro.
O custo real, entretanto, pode ser bem maior. Isso porque a conta usa dados do trânsito feitos pela CET, que são questionados por não incluir a cidade toda. E não leva em consideração que o dinheiro que São Paulo deixou de ganhar poderia ter sido investido, o que traria maior retorno.
Informações: ANTP