A greve dos metroviários será discutida, amanhã, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 10ª Região. Hoje, às 15h, os servidores do Metrô do Distrito Federal se reunirão em assembleia, em frente ao Palácio do Buriti. No entanto, não há expectativa para que a maior paralisação da categoria já registrada no país seja encerrada. Os metroviários aguardam novas propostas da direção da companhia, que, por sua vez, só aceita discutir com a volta dos trabalhos normais. A greve foi iniciada em 12 de dezembro do ano passado e, nesta segunda-feira, completa seu 36º dia. “Existe possibilidade de retorno, mas a condicionante é a negociação efetiva para a apresentação de proposta, o que, até agora, não surgiu”, afirma o coordenador-geral do Sindmetrô-DF, Israel Almeida Pereira.
O sinal sobre a falta de acordo desanima o brasiliense, refém do sistema de transporte da capital da República. “Com a paralisação, os nossos horários ficam descontrolados. Os trens estão muito cheios, chego atrasado ao trabalho e perco a condução de volta para casa”, reclama o motorista Camilo Barbosa dos Santos, 52 anos, que mora na Cidade Ocidental (GO). Ele trabalha em um shopping no Guará e, quatro vezes por semana, vai até a Rodoviária do Plano Piloto de ônibus para chegar de metrô ao serviço. Segundo ele, as opções para fugir do caos no metrô são ainda piores.
A reclamação de Camilo é a mesma da maior parte da população. Com uma frota de ônibus velha e com problemas crônicos — como os constantes descumprimento de horários e de rotas —, a deficitária e cara frota de táxis, além dos congestionamentos e faltas de vagas em estacionamentos que desanimam o trabalhador a tirar o carro da garagem, o brasiliense tem no metrô uma oportunidade de se locomover mais rapidamente. No entanto, apenas 30% dos servidores estão trabalhando, com nove trens nos horários de pico e seis no restante do dia.
A vendedora Fábia Araújo de Souza, 25 anos, mora na Granja do Torto e usa o metrô todos os dias para chegar até a loja em que trabalha, no Guará. Ela conta que, agora, o tempo de espera por um trem chega a 40 minutos. “A greve está incomodando muito. Chego atrasada no trabalho e, se for de ônibus, perco mais tempo. A melhor alternativa é o metrô, mas assim está péssimo”, desabafa. O Metrô-DF atende a uma média de 160 mil usuários por dia.
A importância do serviço fez com que o Ministério Público do Trabalho recomendasse, na última sexta-feira, o fim da greve. O procurador regional do Trabalho Cristiano Paixão apresentará na audiência de amanhã o parecer sobre a paralisação com a opção pela “não abusividade” do movimento grevista. Segundo ele, é preciso que os servidores voltem imediatamente ao trabalho para a reabertura do diálogo.
O Metrô-DF apresentou aos trabalhadores proposta de adiantar as negociações da data base para este mês, desde que a greve termine. Para a direção do órgão, há uma precipitação no posicionamento dos servidores — porque a pauta estava prevista para março —, mas afirma estar preparada para discutir o assunto na Justiça do Trabalho. Para o Sindmetrô, a diretoria tenta burlar acordo firmado em março do ano passado. Segundo Israel Pereira, não há pleito por reajuste de salário, mas pelo cumprimento de itens combinados, como o pagamento de gratificações. “Queremos a efetivação do acordo coletivo feito em 2011 e, como a greve é legítima, o abono dos dias de paralisação”, explica Pereira.
Velharias
Hoje, 3.953 ônibus trafegam nas vias da cidade, sendo que 45% deles ultrapassaram a idade limite de sete anos permitida por lei para operar. Por conta da má qualidade dos coletivos, os auditores do DFTrans aplicaram, no ano passado, 12,5 mil autos de infração e 3.747 termos de apreensão e retenção. Isso resultou em R$ 8 milhões em multas para 15 empresas com autorização para funcionar em Brasília. O GDF vai iniciar no próximo mês licitação para o ingresso de novas empresas no setor.