Vendido por R$ 4 nas roleta dos ônibus municipais do Rio, o bilhete ‘MetrÔnibus Expresso’, que garante integração entre coletivos e metrô, alimenta esquema milionário de fraude. Um milhão de tíquetes são emitidos por mês, e todos estão vulneráveis. Milhares são negociados no mercado paralelo, provocando prejuízos ao metrô e às empresas de ônibus.
Nas entradas das principais estações de metrô, membros de quadrilha especializada em vender os bilhetes oferecem tíquetes, que custam R$ 4, por preço menor. Com uma câmera escondida, O DIA acompanhou, por duas semanas, o trabalho da gangue nas estações Saens Peña, São Francisco Xavier, Largo do Machado, Botafogo, Del Castilho e Estácio.
Guardas municipais e seguranças do metrô não intimidam. “Pegamos tíquetes que dão direito a viagem de metrô com o pessoal dos ônibus. Eles conseguem nos passar por R$ 2, porque, quando um passageiro paga passagem comum, de R$ 2,50, colocam mais R$ 1,50 do bolso para completar os R$ 4 do bilhete Expresso. Assim, ganham R$ 0,50 por passagem”, contou um vendedor.
Movimento dita o preço
Nas bilheterias do metrô, a viagem custa R$ 3,10. Na entrada das estações, as passagens com bilhetes desviados são oferecidas a valores de R$ 2,80 a R$ 3. “O preço depende do movimento. Na Saens Peña, onde o movimento é grande, cobramos R$ 3. Na São Francisco Xavier, passamos por R$ 2,80”, explicou outro membro da quadrilha.
Grupo oferece até garantia
Sua satisfação ou o dinheiro de volta. O grupo tem até estratégia de ‘marketing’ para convencer os passageiros mais desconfiados com a facilidade da passagem mais barata. Há os que ofereçam ‘garantia’.
“Garantimos a troca do tíquete ou a devolução do dinheiro se ele não passar na roleta. Quando percebemos que um passageiro está desconfiado, com medo de estarmos vendendo tíquetes falsos, acompanhamos ele até a roleta para mostrar que nosso negócio é 100% seguro”, contou uma vendedora que atua em um dos acessos da Estação Saens Peña.
Outra particularidade da quadrilha é a promoção de uma espécie de rodízio de vendedores nas estações. “É para despistar os policiais militares”, explicou um deles.
Funcionários fazem renda extra vendendo tíquetes à quadrilha
A rentabilidade deste comércio ilegal de bilhetes de integração Expresso atrai cada vez mais rodoviários. “Todo mundo quer ganhar um dinheirinho a mais. E, neste caso, ninguém acha que está cometendo um crime, pois completamos os R$ 4 que são o valor da integração”, argumentou um rodoviário que preferiu não se identificar.
“Os empresários ficam furiosos porque, às vezes, acontece de um ônibus voltar para a garagem no fim do dia como se só tivesse levado passageiro de integração. Isso é um prejuízo enorme pra eles”, ressaltou.
A Fetranspor informa que faz verificações rotineiras sobre possíveis fraudes para coibir más práticas e confia na ação das autoridades policiais. Caso se confirme o envolvimento de funcionários, haverá punições, de acordo com a lei.
Bilhete de papel dificulta rastrear e calcular perdas
O bilhete da integração é feito de papel, dificultando o rastreamento pelas empresas de ônibus e pelo Metrô Rio. “Todo mês recebemos cerca de um milhão de bilhetes de integração Expresso. Vamos iniciar uma investigação para tentar frear esse derrame de tíquetes negociados de maneira irregular”, anunciou o diretor de Relações Institucionais do Metrô, Joubert Flores.
Preocupados, os empresários desconhecem a dimensão do impacto financeiro que a fraude representa. Pelas viagens feitas com o bilhete Integração Expresso, cujo valor é R$ 4, tanto ônibus quanto o metrô recebem R$ 2 cada.
Com a fraude, as empresas de ônibus perdem R$0,50 por passagem. Já o MetrôRio deixa de receber R$ 1,10 a cada integração, já que a tarifa comum do metrô custa R$ 3,10.