O resultado do levantamento do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT), mostrando apoio de 48,6% dos entrevistados ao rodízio de veículos no Município, e 44,9% de posicionamentos contrários à medida, é comemorado por especialistas, na medida em que evidencia a preocupação das pessoas com a relação carro x cidade. Ainda assim, a Prefeitura descarta a adoção do rodízio em Santos, pelo menos por enquanto.
A avaliação do prefeito João Paulo Papa, contrário à ideia, é distinta de seu secretário de Meio Ambiente, Fábio Alexandre Nunes, o Professor Fabião (PSB), empolgado com o resultado da pesquisa IPAT.
Também se mostra favorável à medida o secretário estadual de Meio Ambiente, o santista Bruno Covas (PSDB).
A pesquisa, publicada ontem, sinaliza uma rápida mudança de avaliação do santista ao tema em apenas quatro anos. Quando o IPAT ouviu os munícipes em 2007, apenas 20% dos entrevistados eram a favor, e 75,5% haviam se posicionado contra o sistema rotativo.
Mudança de visão
Papa vê como principal resultado do levantamento a mudança de mentalidade. Ele destaca que, até então, qualquer pesquisa feita com os motoristas sempre trazia como resultado pedidos de melhora na infraestrutura para os automóveis, como alargamento de vias e estreitamento das calçadas.
O chefe do Executivo sinaliza uma tendência não só nacional, mas presente em outros países, na qual o carro passa a ser considerado um dos principais vilões das cidades. “Uma mudança de mentalidade tal como aconteceu com o cigarro, visto hoje com sérias restrições pelo malefício provocado”.
Fatores como o aumento da população nas principais cidades e, consequentemente, da frota urbana podem reverter a imagem hoje positiva do carro. “Deixará de ser uma imagem de prestígio e se tornará símbolo da ineficiência, devido aos congestionamentos e poluição”.
Apesar disso, Papa ainda se posiciona contrário ao rodízio por considerar efeito somente a curto prazo. “O resultado imediato da retirada dos carros de circulação se anula com o aumento da frota de veículos”.
Segundo o prefeito, Santos tem condições de inovar na resolução do problema dos congestionamentos, e não apenas copiar modelos.
Uma mudança na análise do transporte público é um dos caminhos. “Muitos falam hoje do transporte coletivo, mas não o usam. Temos uma frota com média de um ano de uso e ouso afirmar: é a frota mais nova do País, com ônibus seguros e limpos”.
As reclamações quanto à pouca frequência dos coletivos no período noturno e fins de semana são rebatidas por Papa. “A procura cai muito e manter a mesma frequência dos horários de semana resultaria na elevação do custo do sistema, onerando a passagem”.
Responderia ‘não’
Caso fosse questionado pelo IPAT, Papa responderia contrariamente ao rodízio. “Diria não, neste momento; como munícipe, como prefeito e como engenheiro da área”.
O “uso moderado” do carro, segundo o chefe do Executivo, afastaria as medidas extremas de rodízio e pedágio urbano.
Secretários de Meio Ambiente são a favor
O secretário estadual Bruno Covas (Meio Ambiente)esponderia favoravelmente ao rodízio, caso fosse abordado por um pesquisador do IPAT.
Ele lembra, porém, o fato de o sistema ter a questão ambiental como principal objetivo, quando a medida foi implantada na Capital. “Depois acabou continuando pela questão da mobilidade urbana”.
Segundo o secretário estadual, 80% da poluição das regiões metropolitanas têm como causa o setor de transporte. “Notamos isso com o programa de inspeção veicular”.
O aumento da adesão do santista à ideia do rodízio de veículos, na avaliação de Bruno Covas, se dá hoje pela questão da mobilidade.
“O santista está preparado para o rodízio, a pesquisa do IPAT mostra isso. Temos levantamento apontando o quanto a população da Baixada Santista usa a bicicleta”.
A sugestão do secretário é um programa de adesão voluntária para ver a receptividade da ideia.
‘Sobrevivente’
Vereador licenciado e secretário municipal de Meio Ambiente, Fábio Alexandre Nunes, o Fabião, lembra de sua proposta, apresentada em 2007, instituindo rodízio ambiental, por três meses, no inverno. Nessa época do ano a dispersão dos poluentes é menor.
A matéria criou polêmica, acabou sendo retirada da pauta da Câmara e ele se considera até um “sobrevivente” no Legislativo por ter sido reeleito, devido à grande repercussão negativa naquele ano.
A capacidade de fazer o munícipe organizar seus deslocamentos com o rodízio é a principal vantagem da medida, na avaliação de Fabião.
“Rodízio não é solução, é paliativo em um processo de sensibilizar a sociedade para perceber outros modais, como a bicicleta e um transporte coletivo eficiente”.
Segundo ele, o uso do veículo tem de ser desestimulado. “As questões a serem feitas são: trânsito é problema? E carro é a solução?”.
Poucos munícipes têm, segundo ele, noção da poluição “difusa” resultante dos carros. “É perceptível em dias de chuva: uma mancha de óleo. Esse material cai nas galerias de água pluvial e vai para o mar”.
Empresas
A classe empresarial também poderia contribuir para o fim dos congestionamentos. Fabião propõe o término dos horários formais nas empresas, onde a imensa maioria dos funcionários cumpre jornada das 8 às 18 horas. “Caso Santos se tornasse o primeiro município, fora das capitais, a assumir o rodízio de veículos, retomaria seus status de cidade de vanguarda”.
Pesquisa sinaliza rápida mudança de avaliação do santista ao tema em apenas quatro anos