Marajó Sant’angelo do Nascimento não vai viajar, mas mesmo assim leva uma muda de roupas limpas na mochila toda vez que sai de casa. Com as duas pernas amputadas, ele já prevê que em algum momento do dia vai ter que sair de sua cadeira de rodas e se arrastar pelo chão para chegar a algum lugar. Mas as coisas podem ser ainda piores. Ao tentar embarcar na quinta-feira passada em um ônibus da linha 920 (Pavuna - Bonsucesso), da empresa Gire Transportes, na Avenida Brás de Pina, Marajó caiu da cadeira quando o elevador deu um tranco enquanto ele subia.
— Em vez de o motorista esperar eu me posicionar, já acionou a plataforma. Isso é falta de treinamento: os carros têm o elevador, mas os condutores não sabem mexer. Me sujei todo. Sempre trago roupa extra, por precaução.
Convidado pelo EXTRA, Marajó percorreu pontos de ônibus de diferentes áreas da cidade, além da Penha. Em Bangu, na Rua Francisco Real, o elevador de acesso de um ônibus da linha 803 (Senador Camará - Alvorada), da empresa Transportes Barra, não retornou à posição inicial de escada, mesmo após o motorista e fiscais que estavam no ponto tentarem contornar o problema à força. Após alguns minutos, o motorista pediu para que Marajó fosse retirado do ônibus e pegasse o próximo (da mesma linha, mas da empresa Andorinha Rio), cujo elevador funcionou regularmente.
Já no centro da cidade, na Rua do Riachuelo, o motorista da linha 497 (Penha - Cosme Velho), da City Rio, não possuía a chave para acionar o elevador. Então, um time formado pelo motorista, passageiros e um pedestre colocou o agente da Lei Seca para dentro do ônibus com a força dos braços.
No Flamengo, na Avenida Beira-Mar, Marajó quase precisou de uma nova muda de roupas. Ao embarcar num ônibus 107 (Central - Urca), da Gire Transportes, sua cadeira de rodas escorregou novamente e ele por pouco não caiu novamente.
— Os motoristas não sabem acionar o elevador, não esperam o cadeirante se posicionar. Eles não estão preparados. — lamenta Marajó, resumindo sua sina com o descaso do transporte público:
— Já estou acostumado a cair — afirma.
A queixa não é em vão. Marajó viveu quase 30 dos seus 47 anos em cima de cadeiras de rodas. Antes, tinha medo de sair sozinho, mas a partir de 2000 começou a se aventurar pelas tortuosas ruas da cidade. A timidez que dizia ter foi embora depois que começou a trabalhar como agente-cadeirante em operações da Lei Seca em bares, restaurantes, colégios e palestras. Hoje, Marajó é um homem falante que faz questão de ressaltar a importância das necessidades dos deficientes físicos e do ditado "se beber, não dirija".
Prazo para adequação de toda a frota é 2014
O Decreto Federal 5.296 de dezembro de 2004 determina apenas que os novos ônibus que entrarem em circulação no país devem ser acessíveis aos cadeirantes. O prazo para que toda a frota esteja dentro dessa especificação vence em 2014.
De acordo com o presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Alerj, deputado Márcio Pacheco (PSC), as denúncias recebidas pela pasta tratam principalmente de equipamentos quebrados e de funcionários despreparados.
— Precisamos ouvir a população. Toda quinta-feira, às 14h, acontece uma reunião ordinária da comissão aberta à população — avisa.
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB-RJ, Geraldo Nogueira, também acredita que é através da mobilização que as empresas podem se sentir pressionadas:
— Quem se sentir lesado deve entrar com uma ação em um Juizado Especial Cível.
Apesar dos problemas, o Rio Ônibus, Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município do Rio de Janeiro, informou que "todos os 8.600 ônibus que operam em linhas municipais do Rio já estão em conformidade com as normas e regulamentos técnicos da legislação federal".
A empresa Transportes Barra informou que no ônibus que apresentou problema em Bangu "o defeito no carro em questão foi identificado e o reparo, realizado". No caso do motorista que não tinha a chave da plataforma, na Rua do Riachuelo, na Lapa, a empresa City Rio informou que os veículos foram vistoriados e passarão a levar as chaves fixadas próximo ao equipamento. Sobre os ônibus onde o cadeirante caiu do elevador, na Penha, e que ele escorregou, no Flamengo, a Gire Transportes informou que já providenciou o reparo dos equipamentos.
Para pesquisadora, ideal é veículo com piso baixo
A superintendente do Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Teresa Costa do Amaral, também encara como uma privação ao direito básico de ir e vir, assegurado pela Constituição brasileira, os impedimentos ocasionados pela falta de acessibilidade nos ônibus cariocas. E ressalta que o elevador para a cadeira de rodas não é a solução ideal:
— O motorista não sabe usar o equipamento, não há manutenção e há demora na operação. O ideal é o ônibus de piso baixo, já adotado em Curitiba. Mas as empresas resistem, pois dizem que o asfalto é irregular.
Para a secretária municipal da Pessoa com Deficiência, Georgette Vidor, o objetivo é que a cidade não tenha ônibus com elevador para cadeirantes no futuro e acredita que essa seja a tendência entre as empresas:
— Já temos 40 ônibus com piso baixo na cidade, o que é uma vitória. A questão é que, quando a lei foi feita, deu a opção do elevador, que é mais barata e, por isso, a mais adotada — disse. — Cada secretaria deve ter preocupação com a pessoa deficiente. Mas temos que entender também que esse não é um problema exclusivo do Brasil. Existem países de primeiro mundo que ainda não são completamente acessíveis.
Fonte: Extra Online
— Em vez de o motorista esperar eu me posicionar, já acionou a plataforma. Isso é falta de treinamento: os carros têm o elevador, mas os condutores não sabem mexer. Me sujei todo. Sempre trago roupa extra, por precaução.
Convidado pelo EXTRA, Marajó percorreu pontos de ônibus de diferentes áreas da cidade, além da Penha. Em Bangu, na Rua Francisco Real, o elevador de acesso de um ônibus da linha 803 (Senador Camará - Alvorada), da empresa Transportes Barra, não retornou à posição inicial de escada, mesmo após o motorista e fiscais que estavam no ponto tentarem contornar o problema à força. Após alguns minutos, o motorista pediu para que Marajó fosse retirado do ônibus e pegasse o próximo (da mesma linha, mas da empresa Andorinha Rio), cujo elevador funcionou regularmente.
Já no centro da cidade, na Rua do Riachuelo, o motorista da linha 497 (Penha - Cosme Velho), da City Rio, não possuía a chave para acionar o elevador. Então, um time formado pelo motorista, passageiros e um pedestre colocou o agente da Lei Seca para dentro do ônibus com a força dos braços.
No Flamengo, na Avenida Beira-Mar, Marajó quase precisou de uma nova muda de roupas. Ao embarcar num ônibus 107 (Central - Urca), da Gire Transportes, sua cadeira de rodas escorregou novamente e ele por pouco não caiu novamente.
— Os motoristas não sabem acionar o elevador, não esperam o cadeirante se posicionar. Eles não estão preparados. — lamenta Marajó, resumindo sua sina com o descaso do transporte público:
— Já estou acostumado a cair — afirma.
A queixa não é em vão. Marajó viveu quase 30 dos seus 47 anos em cima de cadeiras de rodas. Antes, tinha medo de sair sozinho, mas a partir de 2000 começou a se aventurar pelas tortuosas ruas da cidade. A timidez que dizia ter foi embora depois que começou a trabalhar como agente-cadeirante em operações da Lei Seca em bares, restaurantes, colégios e palestras. Hoje, Marajó é um homem falante que faz questão de ressaltar a importância das necessidades dos deficientes físicos e do ditado "se beber, não dirija".
Prazo para adequação de toda a frota é 2014
O Decreto Federal 5.296 de dezembro de 2004 determina apenas que os novos ônibus que entrarem em circulação no país devem ser acessíveis aos cadeirantes. O prazo para que toda a frota esteja dentro dessa especificação vence em 2014.
De acordo com o presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Alerj, deputado Márcio Pacheco (PSC), as denúncias recebidas pela pasta tratam principalmente de equipamentos quebrados e de funcionários despreparados.
— Precisamos ouvir a população. Toda quinta-feira, às 14h, acontece uma reunião ordinária da comissão aberta à população — avisa.
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB-RJ, Geraldo Nogueira, também acredita que é através da mobilização que as empresas podem se sentir pressionadas:
— Quem se sentir lesado deve entrar com uma ação em um Juizado Especial Cível.
Apesar dos problemas, o Rio Ônibus, Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município do Rio de Janeiro, informou que "todos os 8.600 ônibus que operam em linhas municipais do Rio já estão em conformidade com as normas e regulamentos técnicos da legislação federal".
A empresa Transportes Barra informou que no ônibus que apresentou problema em Bangu "o defeito no carro em questão foi identificado e o reparo, realizado". No caso do motorista que não tinha a chave da plataforma, na Rua do Riachuelo, na Lapa, a empresa City Rio informou que os veículos foram vistoriados e passarão a levar as chaves fixadas próximo ao equipamento. Sobre os ônibus onde o cadeirante caiu do elevador, na Penha, e que ele escorregou, no Flamengo, a Gire Transportes informou que já providenciou o reparo dos equipamentos.
Para pesquisadora, ideal é veículo com piso baixo
A superintendente do Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Teresa Costa do Amaral, também encara como uma privação ao direito básico de ir e vir, assegurado pela Constituição brasileira, os impedimentos ocasionados pela falta de acessibilidade nos ônibus cariocas. E ressalta que o elevador para a cadeira de rodas não é a solução ideal:
— O motorista não sabe usar o equipamento, não há manutenção e há demora na operação. O ideal é o ônibus de piso baixo, já adotado em Curitiba. Mas as empresas resistem, pois dizem que o asfalto é irregular.
Para a secretária municipal da Pessoa com Deficiência, Georgette Vidor, o objetivo é que a cidade não tenha ônibus com elevador para cadeirantes no futuro e acredita que essa seja a tendência entre as empresas:
— Já temos 40 ônibus com piso baixo na cidade, o que é uma vitória. A questão é que, quando a lei foi feita, deu a opção do elevador, que é mais barata e, por isso, a mais adotada — disse. — Cada secretaria deve ter preocupação com a pessoa deficiente. Mas temos que entender também que esse não é um problema exclusivo do Brasil. Existem países de primeiro mundo que ainda não são completamente acessíveis.
Fonte: Extra Online
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