O perfil da mobilidade urbana mudou bastante nos últimos anos, e o avanço da tecnologia contribuiu de maneira significativa para isso. Conforme a pesquisa Mobilidade da População Urbana, realizada pela CNT em parceria com a NTU, 90,4% dos entrevistados com mais de 15 anos têm celular com acesso à internet. Já 42,5% dos ouvidos consideram que falta ou são limitados os canais de atendimento em empresas e órgãos públicos para consulta, planejamento e avaliação das viagens de ônibus.
“A evasão de passageiros é um problema global, que envolve várias questões. Mas quanto mais cômodo e previsível o transporte for, melhor. Por isso crescemos tanto”, observou o gerente de comunicação do Moovit no Brasil, Marcelo Tavela.
O aplicativo nasceu em Israel, idealizado pelo mesmo fundador do Waze, e começou a operar no Brasil em 2013. “Hoje estamos em todas as capitais, nas cidades com mais de 200 mil habitantes, e em quase todas com mais de 100 mil.” O Brasil é campeão de audiência, com 12,5 milhões de usuários, e São Paulo a cidade onde mais se usa o Moovit no mundo.
De acordo com Tavela, a plataforma quer responder duas perguntas: como chegar aonde se pretende e em quanto tempo.
Para isso são combinadas opções de transporte disponíveis.
“Tudo isso vai sendo mapeado ao longo do tempo. Quando o usuário chega ele pode, por filtros, personalizar a busca, inclusive escolhendo ficar dentro de um mesmo sistema para usar, por exemplo, o bilhete único.”
Com um conjunto de opções semelhante está a Cittamobi, plataforma desenvolvida com tecnologia 100% nacional. “Estamos há dez anos no mercado com a ideia de que as pessoas querem e precisam de informação para se locomover. Inicialmente a gente funcionava com envio de SMS. Hoje somos uma plataforma que tem um aplicativo no qual investimos fortemente em qualidade de dados. Trabalhamos para ter assertividade, para a que chega no aplicativo ser a mais apurada possível e o passageiro saber, em tempo real, onde está o ônibus dele, a que horas vai passar e em quais paradas”, disse a diretora de produto (CPO) da Cittamobi, Emanuele Cassimiro.
A intermodalidade é um ponto forte dessa ferramenta.
Além dos ônibus, na cidade do Rio de Janeiro, a Cittamobi disponibiliza horários do VLT e das barcas; na Bahia, o horário do metrô; na capital paulista, estão acessíveis os horários da Linha Amarela e dos trens que ligam a região do ABC, de Jundiaí e do Alto Tietê a São Paulo.
A ferramenta condensa informações de mais de 70 mil ônibus monitorados no país e possui 25 milhões de usuários em 19 estados brasileiros. Em Porto Alegre o Cittamobi foi o aplicativo oficial da prefeitura para avisar a população sobre as linhas durante as chuvas de 2024. “A situação estava muito inconstante, e nós passamos a emitir alertas sobre linhas operantes e inoperantes, onde tinha posto de atendimento,
etc. Para isso, não criamos nada novo. Usamos o que já estava em operação de forma adequada à situação”, comentou Emanuele, ao falar sobre a importância da disponibilidade de dados do transporte público.
Desafios da informação
O fluxo de informações é bem parecido entre os aplicativos voltados ao transporte coletivo. As plataformas se alimentam, basicamente, de dados estruturados da rota, APIs específicos sobre horários e alterações e informações de geolocalização, principalmente por GPS. Tudo isso é combinado com notícias repassadas por uma rede que inclui desde gestores de tráfego a usuários que reportam, de forma voluntária e em tempo real, eventualidades como acidentes, protestos e greves, sinalizam linhas que ainda não estavam mapeadas e comentam sobre a lotação dos veículos.
Esse conjunto, oriundo de várias fontes, é processado por algoritmos que calculam o tempo dos percursos e lançam atualizações nas plataformas. Portanto, maior ou menor precisão dos aplicativos depende do bom funcionamento dessa cadeia que envolve etapas operacionais e técnicas.
Nesse ponto, o Brasil ainda vive desafios.
“Nosso problema está longe de ser os aplicativos. Os grandes players globais estão aqui, e as empresas nacionais também são muito boas. Mas a gente depende do cadastro das informações de planejamento de forma padronizada, do cumprimento fiel desse planejamento e de GPS mais preciso”, defende o sócio fundador do ecossistema Bus2, Gustavo Balieiro.
No caso do cadastro das informações, onde começa a cadeia, o uso de dados em GTFS (General Transit Feed Specification) por prefeituras ou operadoras do transporte e a disponibilização deles é algo fundamental ao desenvolvimento das tecnologias. “O GTFS é a base de absolutamente tudo. É a base da informação para o usuário”, completa Balieiro.
Tecnologia e Inovação
O GTFS foi desenvolvido pelo Google em meados de 2005 como maneira de uniformizar dados de transporte público de distintas regiões do mundo para serem lidos e processados por qualquer software sem adaptações específicas. A partir dele, surgiu a funcionalidade do Google Maps para transporte público.
Os feeds gerados são de GTFS Estática — referente às informações estáticas sobre horários e localizações de paradas de ônibus, linhas, e outras — e, mais recentemente, de GTFS Realtime, com atualizações em tempo real, alertas de atrasos e mudanças de cursos. No entanto, mesmo predominante em nível mundial, essa padronização ainda é desconhecida por grande parte dos gestores brasileiros.
Como forma de resolver esse gargalo, algumas empresas passaram a oferecer ferramentas de monitoramento e gestão de frotas que funcionam como integrador de informações para os desenvolvedores de aplicativos. Uma delas é a Cittati, com a FLITS. Ela gera e repassa dados de GPS, APIs e GTFS aos softwares de tecnologia que entregam o produto final ao passageiro. Um aplicativo que usa o serviço da FLITS é a MobiliBus, desenvolvida pela Bus2. Ele atende usuários de Uberlândia e Uberaba e tem entre suas funcionalidades a previsão de chegada dos ônibus, com cálculos realizados mesmo quando o veículo está offline.
A capital paulista é uma das cidades que mantém os dados em GTFS abertos. Apesar de não possuir aplicativo próprio, todos os ônibus que operam em São Paulo possuem GPS e as informações recebidas pela tecnologia embarcada ficam disponíveis às aplicações de localização dos veículos. A SPTrans também possui o site Olho Vivo, que disponibiliza ao usuário um formatador de origem-destino com linhas de interesse e trajetos. Utilizam a tecnologia Olho Vivo aplicativos como o Cadê o Ônibus, o Cittamobi, o Moovit e o SP Pass.
“Ter mais dados permite aumentar a previsibilidade e levar mais passageiros para o transporte público. Hoje temos cidades em que 75% das empresas disponibilizam dados que nos permitem dar informações em tempo real de maneira mais precisa, enquanto 25% não o fazem. E a maioria dos passageiros que usa o nosso aplicativo acaba escolhendo aquela que traz mais confiabilidade de informações”, defendeu Marcelo Tavela.
Recentemente a discussão sobre o uso de GTFS passou a abranger o debate em torno da revisão do modelo de remuneração e subsídio do sistema de transporte. “A gente tem um grande problema que é a dificuldade de medição de dados por falta de padronização. A popularização do GTFS seria uma oportunidade para estimar custos operacionais e rediscutir o modelo de remuneração e subsídio. Essa discussão já está em curso”, disse Balieiro, lembrando que o assunto foi pauta do MobilityData Summit deste ano, em Montreal no Canadá.
Informações: NTU
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