Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre pretendem iniciar novas operações em sistemas BRT nos próximos meses. Até 2016, mais mil quilômetros devem ser implantados
Do projeto abstrato às pistas concretas. Após quatro anos do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento “PAC Copa do Mundo”, é assim que, em breve, sete cidades brasileiras, que irão sediar os jogos da Copa do Mundo de 2014, poderão resumir os longos meses de investimentos na moderna, eficiente e sustentável mobilidade urbana tão sonhada pelos brasileiros.
Desde 2009, o Governo Federal já disponibilizou R$ 51 bilhões para a infraestrutura do transporte público e da mobilidade urbana de forma geral. Os recursos foram disponibilizados por meio dos PACs Copa do Mundo, Mobilidade Grandes Cidades e Mobilidade Médias Cidades. Hoje, parte dessa verba está sendo utilizada na implantação de corredores exclusivos de ônibus e sistemas rápidos de ônibus, os conhecidos BRT (Bus Rapid Transit).
Até 2014, a previsão é de inaugurar cerca de 250 quilômetros de novas linhas de BRT nas cidades de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS). Até 2016, 25 cidades brasileiras estarão com o foco na implantação desses sistemas que prometem revolucionar a mobilidade urbana nessas cidades e inspirar outras cidades a investirem nessa solução.
No total, serão 113 projetos, sendo 53 de BRT com 697 km de extensão e 60 de corredores exclusivos, que somarão 575 km. Juntos, esses projetos totalizam 1.272 km de vias para os ônibus circularem livres e com eficiência. Serão nove mil veículos BRT, operando em 442 estações e 60 terminais. Tudo isso em benefício de mais de 57 milhões de brasileiros.
BRASÍLIA
Mesmo não estando no cronograma das obras de mobilidade urbana para a Copa de 2014, a capital federal tem previsão de finalizar as obras do Expresso DF, sistema que ligará as regiões administrativas de Santa Maria, Gama, Park Way ao Plano Piloto - centro de Brasília- até dezembro de 2013. Com 43 km de extensão, o sistema terá capacidade diária de transportar cerca de 200 mil passageiros. Ao todo, serão 15 estações com embarque em nível e 15 passarelas para a segurança de travessia dos pedestres.
Quando em operação, o BRT do Distrito Federal prevê uma redução no tempo de viagem de 90 para 40 minutos. O monitoramento da frota, feito pelo Centro de Controle Operacional (CCO), ajudará no controle do tempo do percurso e também em casos de emergências. O novo sistema terá ramais no Gama (8,7km de extensão) e em Santa Maria (5,3km). O trecho se tornará único a partir de um ponto de encontro na BR-040, a 27,8km de dois pontos de desembarque no Plano Piloto (terminal Asa Sul e rodoviária do Plano Piloto).
BELO HORIZONTE
Outros projetos que estão em dia e devem ser inaugurados no primeiro semestre de 2014 são os de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A cidade toca quatro obras de BRT previstas na matriz de responsabilidades para a Copa do Mundo.
As quatro obras são: corredor Antônio Carlos/Pedro I, corredor Carlos Luz/Pedro II, corredor Área Central e corredor Cristiano Machado. Serão 41,6 quilômetros com mais de 60 estações e cerca de 420 ônibus. A demanda diária estimada é de 750 mil passageiros em todos os corredores.
CAPITAL MINEIRA VAI INAUGURAR MAIS DE 40 KM DE CORREDORES EXCLUSIVOS PARA ÔNIBUS
O caso de Belo Horizonte é tão positivo que foi usado recentemente como exemplo pelo juiz federal Marllon Sousa em uma decisão contra as obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Cuiabá (MT), que visava a construção e implantação do modal. Na decisão, o magistrado destacou que, se Belo Horizonte, que tem 2,4 milhões de habitantes, adotou o BRT, não há justificativa para Cuiabá escolher o VLT, que é um modelo mais oneroso para o poder público.
Segundo o diretor-presidente da BHTrans, Ramon Victor César, em cada corredor o sistema contará com linhas expressas e paradoras. Haverá ainda linhas interligando os corredores de BRT com os demais da cidade. “O BRT será expandido progressivamente para outros corredores que justifique a implantação de média/alta capacidade, conforme previsto no Plano de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte. Estamos concluindo o projeto na avenida Pedro II e o próximo a ser desenvolvido será o da avenida Amazonas. O plano prevê que toda a rede seja implantada até 2020”, afirma César.
CURITIBA
Cidade pioneira na concepção dos sistemas BRT, Curitiba, vai expandir a Linha Verde, o BRT brasileiro mais conhecido do mundo. O corredor, que hoje possui 22 km em sua extensão, já está em fase de construção de mais 3 km. O projeto também contempla o fechamento lateral das estações tubos com vidros de película interna, capaz de reduzir a incidência de luz solar e aumentar o conforto térmico. As estações possuem sistemas de captação de águas de chuva, que serão utilizadas para a limpeza das instalações.
Com recursos do PAC da Copa e contrapartidas, a extensão da Linha Verde Sul tem custo estimado de R$ 15,5 milhões e previsão de ser entregue à população até maio de 2014, conforme ofício entregue em dezembro de 2012 pela prefeitura da capital paranaense ao Ministério das Cidades. Por falta de repasse de recursos, as obras haviam sido paradas, mas foram retomadas em janeiro de 2013.
Atualmente, Curitiba opera com uma rede de transporte totalmente integrada formando um sistema completo de BRT com 81 km de extensão de corredores e ainda com a previsão de inauguração – em maio de 2014 – do Corredor Aeroporto Rodoviária (15 km) e a reforma do Corredor Avenida Cândido de Abreu (1,1 km).
FORTALEZA
A prefeitura de Fortaleza, no Ceará, criou recentemente uma secretaria especial para a Copa do Mundo. A cidade deve receber dois jogos da seleção brasileira no Mundial. O órgão vai acompanhar as obras e tentar resolver os problemas de logística que envolvem a criação dos corredores exclusivos para a implantação dos sistemas BRT.
Em um mês, a secretaria iniciou o acompanhamento semanal dos órgãos, instituições e empresas envolvidas. “Entre eles, estão o deslocamento de linhas telefônicas, postes de iluminação pública e gás que não estavam previstos nem no projeto inicial nem no orçamento”, explica o secretário recém-nomeado Domingos Neto. As obras agora se concentrarão nas etapas de alargamento, terraplanagem, pavimentação, urbanização, paisagismo e sinalização de vias.
Na capital cearense, são quatro projetos de BRT nas avenidas Dedé Brasil, Paulino Rocha, Alberto Craveiro e Raul Barbosa, que totalizam 20 quilômetros de extensão. Serão 52 novas estações com demanda diária estimada em 245 mil pessoas no total. Nos horários de pico, cada corredor atenderá a uma demanda concentrada que varia de 6 a 11 mil pessoas.
Segundo Domingos Neto, o projeto foi pensado não só para atender a rede hoteleira e turística, mas para facilitar o deslocamento em toda a cidade, deixando um legado para as próximas gerações. “As vias que dão acesso à região onde se localiza o setor hoteleiro, o aeroporto e o estádio Castelão estão nesse fluxo. Também estão regiões muito afetadas por congestionamentos. Tratam-se de vias que ligam os locais de maior fluxo, onde as pessoas trabalham, aos bairros dormitórios. O legado fica para a cidade, sem dúvida”, explica.
RECIFE DEVE INAUGURAR O BRT NORTE/SUL PARA BENEFICIAR 180 MIL PESSOAS
RECIFE
O corredor Norte/Sul conta com dois trechos, sendo o primeiro já em obra com 33,2 km (de Igarassu até o Centro da Cidade), previsto para setembro de 2013, e com investimento de R$ 151 milhões. Esse trecho terá 33 estações e vai beneficiar cerca de 180 mil passageiros por dia quando estiver concluído. O segundo trecho, do Tacaruna até o Terminal de Joana Bezerra, cerca de 4,8 km de extensão, terá sua obra iniciada ainda neste trimestre e contará com 9 estações de embarque e desembarque. O investimento para esse trecho é de R$ 110 milhões. A obra será entregue em dezembro de 2014.
O corredor Leste/Oeste, previsto para fevereiro de 2014 terá 12,3 km de extensão e um investimento de R$ 145 milhões, beneficiando a região metropolitana de Recife, por meio da interligação da Avenida Caxangá à Cidade da Copa. Isso será feito por meio da UR-7, em São Lourenço da Mata, onde o BRT atenderá o terminal e a estação de metrô a serem inaugurados.
Outro corredor que ficará pronto até 2014 será o Ramal da Copa. Com investimento de R$ 131 milhões, o Ramal tem 6,3 km de extensão e também vai operar com o sistema BRT ou o Transporte Rápido por Ônibus (TRO), como é chamado em Recife. Sua principal função é levar à população usuária de ônibus até a Arena da Copa. Sua primeira fase (ramal interno) será entregue em abril de 2013. Em junho, para a Copa das Confederações, outro trecho estará concluído e em dezembro deste ano, todo o Ramal será entregue. Serão beneficiados 20 mil passageiros/dia.
RIO DE JANEIRO
Outra cidade que está com os projetos adiantados visando melhorias de mobilidade tanto para os eventos esportivos quando para a população é o Rio de Janeiro. Em 2012, foi inaugurado o BRT Transoeste com 31 estações. O corredor tem 56 km de extensão total e liga a Barra da Tijuca à Santa Cruz e Campo Grande com capacidade para transportar 220 mil passageiros por dia.
BRT TRANSCARIOCA TERÁ UMA PONTE EXCLUSIVA PARA OS ÔNIBUS.
A previsão é que até agosto deste ano o corredor esteja funcionando completamente com as 53 estações previstas. Até agora, o projeto já atingiu o objetivo de reduzir pela metade o tempo de viagem do carioca nessa região. Além do Transoeste, o Transcarioca também está previsto para ser concluído em 2013. A linha terá 41 km de extensão, 46 estações e capacidade máxima para transportar 400 mil pessoas por dia.
O BRT Transcarioca vai ligar o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim até a Barra da Tijuca, passando pela Penha e a Ilha do Governador. Nesse trecho, está sendo construída a Ponte Estaiada da Ilha do Governador, que será usada exclusivamente pelos ônibus. Serão 400 metros de ponte construídos ao lado do atual acesso sobre a Baía de Guanabara.
A expectativa é de grande redução no tempo de viagem. De acordo com a prefeitura do Rio de Janeiro, o trajeto entre a Ilha do Governador e Santa Cruz, que é de até três horas em horário de pico, poderá ser feito em 50 minutos com os novos corredores.
O diretor de Comunicação e Marketing da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), Paulo Fraga, lembra que essa rapidez do deslocamento é o que faz do BRT um exemplo mundial para solução em transporte. “Na verdade, o BRT é uma tendência mundial. Hoje, se você for parar para analisar, os grandes projetos de mobilidade urbana no mundo estão focados no BRT. E, se você for comparar, o custo para implantação da malha ferroviária e metroviária é muito alto. Por isso, o BRT é tão viável”, justifica.
PORTO ALEGRE
A cidade reinaugura até agosto deste ano os corredores adaptados para BRT João Pessoa, Protásio Alves e Bento Gonçalves. O projeto com os três corredores prevê 17,2 quilômetros somando custos no valor de 199,5 milhões com desapropriações.
PORTO ALEGRE ESTÁ MODERNIZANDO OS CORREDORES EXCLUSIVOS PARA INAUGURAR BRT NESTE ANO
Na Avenida Bento Gonçalves a adequação será entre os terminais Azenha e o Terminal Antônio de Carvalho, numa extensão aproximada de 6,5 km, e com previsão de 12 estações de embarque e desembarque.
O corredor da Avenida Protásio Alves está localizado entre a Rua Sarmento Leite e a Rua Saturnino de Brito numa extensão de aproximadamente 7,5 km, com previsão de 14 estações de embarque e desembarque.
Já o corredor da Avenida João Pessoa terá a adequação no trecho compreendido entre a Avenida Azenha e Avenida Salgado Filho com extensão aproximada de 3,2 km, com previsão de 8 estações e 1 estação de integração multimodal.
DE OLHO NAS OBRAS
A NTU lançou em 2012 o projeto BRT Brasil no intuito de acompanhar a implantação desses projetos no Brasil. O monitoramento é realizado por uma rede técnica, composta por profissionais das empresas de transportes associadas e dos órgãos públicos envolvidos nas implantações do BRT. Essa rede alimenta o banco de dados da NTU, que pode ser consultada em www.brtbrasil.org.br.
O presidente da NTU, Otávio Cunha, lembra que em todo o Brasil serão 1.272 quilômetros de corredores. Isso representa investimentos privados em veículos e sistemas inteligentes com monitoramento da operação em tempo real, por GPS, e gerenciamento por meio do Centro de Controle Operacional (CCO). “Estamos falando em R$ 8 bilhões de investimentos privados, 521 estações e 60 terminais”, ressalta.
Cunha destaca que a priorização do transporte público coletivo em detrimento do individual é a solução para melhorar a mobilidade nas cidades. Ele lembra que é possível, num sistema BRT, com ônibus articulados e biarticulados, atingir demandas de 40 a 45 mil passageiros por hora e por sentido. “Poucos metrôs no mundo operam com essa capacidade. Você consegue melhorar muito a qualidade do transporte e as viagens vão ser muito mais rápidas”, aponta.
A qualidade, eficiência e segurança, aliados à maior velocidade comercial, vai estimular o usuário do transporte público individual motorizado a migrar para esse sistema. A expectativa é que haja uma transferência em torno de 20% para o transporte coletivo. “O BRT é uma invenção brasileira que ganhou o mundo, presente em mais de 145 cidades. O maior conforto e a rapidez proporcionados pelo BRT certamente convencerão o usuário do automóvel a usar o transporte público como uma boa opção de deslocamento”, opina.
GANHOS DE MOBILIDADE
Os projetos de mobilidade contribuirão para a melhoria dos principais indicadores de qualidade do transporte público. Entre eles:
Aumento de 2% ao ano dos passageiros transportados;
Transferência superior a 20% das viagens do transporte individual para o coletivo;
Redução de 40% no tempo de viagem;
Aumento de 78% na velocidade média nos corredores;
Aumento significativo de confiabilidade dos serviços.
Fonte: NTU / Portal da Transparência do Governo Federal / Consórcio BRT-Sul *Estimativa.
Fonte: Revista NTU Urbano - Jan/Fev 2013