Trânsito na Av. Dois Rios no Ibura
Desprovida de itens básicos, como infraestrutura e serviços, boa parte da periferia do Recife e das principais cidades da Região Metropolitana, como Olinda e Jaboatão dos Guararapes, sofre também com o trânsito desordenado.
Se a circulação nos maiores corredores viários está cada dia mais travada, no subúrbio, com ruas estreitas, ocupadas desordenadamente e sem qualquer controle do poder público, a situação é ainda pior. Placas de sinalização, por exemplo, não existem. O mais grave é que o estrangulamento repercute na operação dos ônibus. Há empresas que perdem entre 400 e 500 viagens, por mês, por causa dos congestionamentos na periferia.
Os números do Grande Recife Consórcio de Transporte confirmam essas perdas. Em fevereiro passado, foram 8.751 viagens que não se completaram. Em março houve pequena queda, chegando a 6.948 viagens. E somente na primeira quinzena de abril os números já se aproximavam das 3 mil viagens. O órgão diz que as perdas têm aumentado 5% a cada ano. “Em março, por exemplo, realizamos 705 mil viagens, o que significa que perdemos 1% delas. Isso é muita coisa para um sistema de transporte. E mexe com a população, não só com as pessoas que estão na periferia, mas também aquelas que ficam nos grandes corredores. A regularidade e a confiabilidade do serviço vai por água abaixo. Um intervalo que deveria ser de dez minutos, pula para 30”, argumenta a diretora de Operações do Grande Recife, Taciana Ferreira.
E como ônibus em qualquer cidade é sinônimo de periferia, o problema é visto na maioria das 385 linhas em operação. Há casos pontuais, empresas que registram mais perdas, mas de forma geral todas sofrem. Até porque a maioria das linhas é radial – sai do subúrbio para o Centro. Para se ter ideia do quanto o transporte público está ligado ao subúrbio, o sistema do Grande Recife possui 81 miniterminais e todos estão na periferia. Dos 13 terminais integrados entre ônibus e metrô, dois ficam no entorno de feiras e mercados, como é o caso do TI de Cavaleiro, em Jaboatão, e de Afogados, na Zona Oeste do Recife.
Trânsito na Av. Dois Rios no Ibura
Foto mostra a quantidade de ônibus parados
Além do aumento dos intervalos nas linhas e do tempo de viagem para quem está nos coletivos, os congestionamentos nas periferias geram, ainda, impacto econômico. E quem paga é a população que anda de ônibus. Um coletivo preso num congestionamento representa mais consumo de diesel, de hora trabalhada pelo motorista e cobrador e maior desgaste dos veículos. Mais custos são gerados, sem haver produtividade para gerar receita e compensá-lo, já que não entram passageiros nos ônibus. Eles apenas descem.
“Das 16 linhas que temos, apenas uma não sai da periferia. Dos 119 veículos, cem trafegam por vias estreitas de Nova Descoberta e Vasco da Gama (Zona Norte). Por causa dos congestionamentos, especialmente nos três quilômetros entre o Mercado de Nova Descoberta e a Ladeira do Visgueiro, que separa os dois bairros, perdemos uma média de 400 a 500 viagens por mês. Já tivemos veículos que levaram 30 minutos para percorrer apenas esse trajeto”, revela o diretor-executivo da Empresa Pedrosa, Antero Parahyba. O diretor elogia a preocupação do governo em priorizar os projetos para os grandes corredores viários, mas lembra que o subúrbio não pode ser esquecido, caso contrário, os ônibus não conseguirão alimentar os corredores para usufruir dos seus benefícios.
A empresa chegou a propor uma parceria à Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) e um plano de sinalização para a região foi elaborado, mas terminou engavetado. Diretor de Trânsito da CTTU, Agostinho Maia argumenta que não adianta espalhar sinalização pelos subúrbios da cidade se não há fiscalização. Pondera, ainda, que o maior problema da periferia é a ocupação desordenada do espaço público. Atualmente, a CTTU dispõe da mesma quantidade de agentes de trânsito que possuía quando foi criada, em 2003: 296 homens para cumprir todas as funções. Para a área de Nova Descoberta, que inclui outros 28 bairros, são apenas dez agentes.
Em Olinda e Jaboatão, a situação não é diferente. A Caxangá e a Empresa Metropolitana, que operam nos subúrbios das duas cidades, respectivamente, amargam perdas de até 5% das viagens programadas. Para tentar amenizar o problema, optaram por se unir a antigos concorrentes. “Fizemos uma parceria com o sistema complementar, ajudando os ex-kombeiros a comprar micro-ônibus e fazendo com que eles nos alimentassem. Agora, eles entram nos locais mais difíceis da cidade, onde o ônibus não cabe ou tem muita dificuldade para trafegar, e trazem os passageiros para nós no Terminal Integrado da Caenga”, explica o empresário Paulo Chaves Júnior, proprietário da Caxangá e Metropolitana. Exemplo de que, numa terra onde o desordenamento urbano é pleno e o desrespeito às regras de trânsito ainda maior, as soluções só vêm com parcerias.
Fonte: Dep.Raul Jungmann