Depois de encerrar 2015 com sua maior inflação em mais de uma década, o país começa 2016 com os índices de preços pressionada por itens administrados. Cariocas mal viraram o ano e já tiveram de enfrentar tarifas de ônibus e táxi mais caras. Já os paulistanos terão de desembolsar mais para andar de ônibus, metrô ou trem na próxima semana. Foram anunciados também aumentos no transporte público de Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre.
Boa parte desse efeito será sentido em janeiro, mas até o fim do ano outras cidades promoverão reajustes no transporte. Os reajustes já anunciados devem representar um impacto de 0,20 ponto porcentual na inflação, calcula a Tendências Consultoria Integrada. Para a LCA Consultores, o impacto final deve ser de 0,31 ponto percentual na inflação em 2016. O cálculo exclui passagens aéreas e transporte escolar, que não têm preços controlados.
Em 2015, a inflação no primeiro trimestre deu um salto com a alta de tarifas até então represadas, como energia elétrica, combustíveis e transporte público. Esses itens tiveram peso decisivo para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegar a 10,48% no intervalo de doze meses encerrado em novembro.
Agora, as tarifas de transporte público dão um novo salto, efeito secundário da inflação de dois dígitos que já penalizou o bolso dos brasileiros em 2015. Isso porque muitos contratos tomam como base índices de preços, como IGP-M ou o IPCA. "Claramente, é um belo exemplo de como a inflação passada afeta os reajustes do presente. Há essa ideia de carregamento, que é um empecilho para o Banco Central na batalha contra o aumento de preços", afirma o analista Marcio Milan, da Tendências.
Em São Paulo, região com maior peso no índice oficial de inflação, as tarifas de ônibus, trem e metrô vão passar de 3,50 reais para 3,80 reais no dia 9 - alta de 8,57%. No Rio, o ônibus aumentou de 3,40 reais para 3,80 reais, avanço de 11,7%. "Uma parte desses reajustes era esperada. O que não se esperava era a magnitude, especialmente no Rio", diz Milan.
Os reajustes de ônibus no Rio e em São Paulo terão, cada um, impacto de 0,07 ponto porcentual na inflação, calcula a LCA. Com menor peso em termos nacionais, Belo Horizonte teve alta de 8,82% na tarifa de ônibus, que passou de 3,40 reais para 3,70 reais no dia 3. Em Salvador, o valor subiu 10% no dia 2, de 3 reais para 3,30 reais.
Há também aumentos de táxi no Rio, no Recife e em Porto Alegre, além de reajuste no ônibus intermunicipal no Rio e em Belo Horizonte. O Rio ainda verá suas tarifas de trem e barcas ficarem mais caras em fevereiro.
O ônibus urbano, sozinho, responde por 2,55% dos gastos de uma família média brasileira, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para os consumidores de baixa renda, essa fatia beira os 10%. Por isso eles são, como em 2015, os mais penalizados por esses aumentos.
Sem alívio em ano eleitoral - Aparentemente, nem o ano eleitoral tem persuadido as administrações públicas a aliviar a mão nos reajustes. Embora, do ponto de vista político, as eleições municipais sejam motivo para amenizar aumentos, a pressão sobre os cofres públicos parece ter prevalecido. "Havia expectativa de que os reajustes fossem mais tímidos, mas isso não se concretizou. Há pressão de custos, e algumas prefeituras estão com caixa apertado e não podem dar subsídios", diz André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Entre os custos estão o óleo diesel, que subiu 12,75% nos doze meses até novembro, segundo o IPCA, e a mão de obra. O economista da FGV lembra que o salário mínimo - que guia boa parte das remunerações do setor de transporte - avançou 11,6% neste ano, para 880 reais. "Até agora, quem tinha que dar reajuste o fez. Não conseguimos perceber processo de represamento", afirma o economista Étore Sanchez, da LCA Consultores.
Informações: Estadão Conteúdo
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