Nem mesmo o início da operação do BRT (sigla em inglês para transporte rápido por ônibus) afasta os ônibus de motor dianteiro da frota de Belo Horizonte, conhecidos por proporcionarem menor conforto aos passageiros, produzirem mais ruído, porém, serem mais econômicos para os empresários que operam o sistema. Isso porque, atendendo uma demanda específica do mercado brasileiro, as fabricantes criaram ônibus com motor dianteiro com suspensão a ar. Dessa forma, os veículos classificados como ultrapassados por especialista poderão acessar os corredores do BRT e se adaptar às plataformas de embarque.
Além dos ônibus articulados que vão fazer as linhas expressas do BRT, os empresários de Belo Horizonte estão adquirindo veículos chamados de Padrons, que vão servir como alimentadores do sistema. Esses ônibus serão responsáveis por trazer os usuários dos bairros até as estações do BRT. Até agora, todos os 350 já encomendados são de motor dianteiro, adaptados para o desembarque em nível na plataforma. “Isso é uma aberração. Quando deveriam aproveitar a implantação do BRT para melhorar a frota e trazer mais conforto, fazem gambiarras para manter uma tecnologia antiga circulando na cidade”, avalia o engenheiro e presidente do Instituto Mobilidade Sustentável, João Luiz da Silva Dias.
A utilização dos ônibus de motor dianteiro em transportes coletivos urbanos é proibida em países desenvolvidos. No Brasil, a cidade de São Paulo aboliu esse tipo de veículo do transporte público em 2006. Com o motor na frente, o barulho é maior, e os arranques mais agressivos que os veículos com motor central ou na traseira. Além disso, o motorista sofre com o calor.
Porém, esses veículos ainda predominam no mercado brasileiro porque consomem menos óleo diesel, a manutenção é mais barata e contam com maior valorização na hora da revenda. Esses critérios fazem com que os empresários resistam em abrir mão do motor dianteiro. Em Belo Horizonte, mais de 70% da frota é formada por ônibus desse modelo.
Durante a Transpúblico – feira que reuniu os principais fabricantes de ônibus do país em São Paulo, na semana passada –, várias empresas apresentaram modelos com motor dianteiro e suspensão a ar. Até a sueca Volvo, que nunca havia fabricado esse tipo de ônibus, lançou um modelo para atender aos brasileiros.
Para João Dias, os ônibus que serão usados no transporte público não podem ser definidos por uma ótica de mercado. “O usuário não pode ficar à mercê da negociação entre empresário e fabricantes. Quem tem que determinar o tipo de ônibus que será usado é o poder público”, avalia.
Nas especificações técnicas da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), não há impedimento para ônibus com motores dianteiros.
Informações: O Tempo
0 comentários:
Postar um comentário