Cansados das horas perdidas nos ônibus lentos e lotados, dois em cada cinco passageiros do transporte coletivo pretendem abandoná-lo e comprar uma motocicleta. A constatação é de uma pesquisa feita pelo especialista Luiz Fernando Veloso, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), com 400 passageiros de ônibus e motociclistas. O levantamento indica que 40% dos passageiros querem a mudança. Levando-se em conta 1,2 milhão de viagens diárias de ônibus em BH, seriam 480 mil trocando o cartão BHBus pelo guidão.
O desejo de migração reforça a tendência do segmento da frota que mais cresce. Entre março do ano passado e deste ano, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) registrou aumento de 8,5% no número de motocicletas, contra 6,1% de carros e 7% do total de veículos em BH. Dos motociclistas entrevistados, 89% têm os ônibus como principal meio de transporte. “Isso mostra que o usuário está muito insatisfeito com o transporte público, e a saída que encontra – pelos preços baixos das prestações e da manutenção – é comprar uma moto”, aponta o orientador da pesquisa, Frederico Rodrigues, doutor em engenharia de transportes e diretor da consultoria ImTraff.
Segundo 37% dos entrevisados, a velocidade dos veículos é o que mais incomoda, seguida pelo excesso de passageiros (35%), o descumprimento do quadro de horários (33%) e o preço alto da tarifa (23%). O total não dá 100%, segundo o especialista, porque alguns entrevistados apresentaram mais de um motivo. “A questão da agilidade é uma característica do sistema, porque os ônibus não rodam em pistas próprias, mas em meio ao tráfego misto. O desconforto também é grande, já que o padrão internacional de lotação é de seis pessoas por metro quadrado e há linhas que chegam a ter 12 pessoas”, informa Rodrigues.
Das pessoas que disseram querer deixar os ônibus para adquirir a própria moto, 56% são das classes D e C, com curso superior incompleto ou médio completo. A idade de 55% é de 18 a 25 anos. “São pessoas de baixo poder aquisitivo que podem arcar com as prestações desse veículo e não de um carro. Estão dispostos a expor sua segurança num meio de transporte muito perigoso porque estão muito insatisfeitos”, analisa Rodrigues. Dos entrevistados com curso superior, apenas 4% gostariam de adquirir uma moto.
Segundo o levantamento, 39% escolheram a moto como meio de transporte ao ônibus por causa da agilidade. O mais impressionante é que o segundo maior motivo de escolha, com 25%, não está relacionado diretamente às motos. Os perigos a que os motociclistas estão sujeitos também ficaram visíveis na pesquisa. Dos entrevistados que pilotam motos, 69% já sofreram acidente. Contudo, isso não torna o retorno aos ônibus mais atrativo, já que 80% dos acidentados não desejam abandonar a moto e voltar para o ônibus ou conseguir um carro. Apenas 19% disseram que trocariam de transporte por causa da falta de segurança.
Rodrigues acredita que a implantação dos transporte rápido por ônibus (BRT) pode retardar essa tendência, se o novo sistema conseguir ser mais veloz. “O problema é a transição das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado, pelo Complexo da Lagoinha, para o BRT Central, que deve ser feito por pistas comuns e pode ser um ponto frágil de congestionamentos”, avalia.
Consórcio
Para se ver livre dos ônibus, há quem já paga prestação de consórcio de moto mesmo sem ter habilitação. “Moro no Bairro São Gabriel (Região Nordeste) e trabalho no Santa Terezinha (Pampulha). Gasto muito tempo à espera do ônibus e quando ele vem, está sempre lotado. A moto vai ser uma solução”, garante o garçom Fábio Magalhães, de 18 anos.
Vaga rotativa seria opção no Centro
A implantação de vagas rotativas para motos é estudada pela BHTrans para atenuar a falta de estacionamento. As opções em avaliação são parquímetro (pagamento na hora) ou compra de créditos pelo celular, segundo o gerente de estacionamento da empresa, Sérgio Rocha. A novidade se explica pela dificuldade de encontrar estacionamento. Em alguns casos, a sorte de parar na área delimitada para motos só vem depois de algumas voltas no quarteirão. Quando a pressa é maior, muitos ignoram a sinalização e param além da placa indicativa de estacionamento. Hoje, já são 181,9 mil motos, que não se adequam mais às 2.178 vagas do Centro, nem mesmo aos 5.229 pontos de estacionamento de moto restantes na cidade.
Como consequência, os estacionamentos privados para motos estão absorvendo a demanda reprimida, cobrando preços mais baixos do que os praticados nos estabelecimentos que trabalham com carros. A hora custa em média R$ 1, a diária de R$ 3 a R$ 5 e mensalistas pagam de R$ 45 a R$ 50. Alguns trabalham com a metade do valor no primeiro mês, para atrair clientes.
“Percebi que faltavam vagas e resolvi alugar um ponto para trabalhar somente com motos. São cerca de 250 por dia. Grande parte é mensalista e trabalha no Centro”, afirma o empresário Reginaldo Reis Silva, de 48 anos, proprietário de um estacionamento na Rua Tupinambás. Conforto do qual o promotor de vendas Frederico Lemos, de 31, não abre mão. “Cansei de procurar vagas. Já desisti de andar de ônibus para ter mais rapidez no trânsito. Não fico mais sem o estacionamento privado”, garante.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas Gerais, Rogério dos Santos Lara, a falta de vagas traz prejuízos para a categoria. "Grande parte das entregas são feitas na Região Central. Com a demora para estacionar, perde-se tempo e dinheiro, pois o pagamento é feito por serviço”,diz.
Em 2011, os estacionamentos privados somavam pouco mais de um dezena e apesar de não ter números, o gerente de estacionamento da BHTrans, Sérgio Rocha, afirma que estão em número muito maior. “Eles se tornaram solução para a disputa pela vaga, já que não há espaço para todas as motos. O Centro continua do mesmo tamanho, mas a frota de carros cresceu muito”, diz.
Fonte: Estado de Minas
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