Quando a Copa chegar em menos de 60 dias, muitos torcedores sentirão no dia-a-dia aquela que é uma das principais deficiências da África do Sul: o transporte público. As limitações não se restringem às cidades grandes, como Joanesburgo e Cidade do Cabo. O problema é crônico em toda a África do Sul.
O governo prometeu melhorar o sistema e legalizar as vans (aqui chamadas de “taxi”), que circulam em péssimas condições e não respeitam as leis de trânsito. Um trem rápido (Gautrain) seria a solução para o deslocamento problemático entre Joanesburgo e a capital, Pretória. No entanto, o trecho não ficará pronto a tempo do Mundial, e as vans continuam a rodar sem fiscalização.
Ônibus municipais são vistos esporadicamente nas ruas e mesmo assim só nas principais avenidas. Quem mora nos bairros afastados está isolado. Mesmo com tantas deficiências, muitos torcedores dependerão de vans e ônibus para chegar aos estádios. Por isso a reportagem do G1 percorreu um dos trechos que mais serão usados durante a Copa – entre Sandton (principal bairro hoteleiro de Joanesburgo) e o estádio Soccer City (na entrada de Soweto), usando o transporte público da cidade. Cerca de 20 quilômetros separam os dois lugares. Vans não têm sinalização sobre itinerário
A reportagem se programou para pegar o ônibus municipal que liga Sandton ao centro às 10h30 (ônibus são escassos e passam em horários determinados). Ao chegar ao local indicado na internet (o shopping Sandton City), ninguém soube informar o lugar exato onde esperá-lo. Rodei algumas ruas sem sucesso até decidir que iria de van (principal meio de transporte da população).
O problema que é as vans não têm letreiros indicando seu itinerário. Cada bairro ou região corresponde a um sinal com os dedos, então é preciso conhecê-los ou perguntar na rua. Também não há paradas demarcadas, ou melhor, qualquer esquina pode ser um ponto. Basta fazer o sinal que as vans param em qualquer lugar, até no meio da rua. Dedinho pra cima, sinalizando o centro da cidade, a primeira van parou em menos de dez minutos.
O preço é outra variável – depende do lugar onde você pega a van, ou seja, quanto mais perto do seu destino, mais barato fica. Desembolsei R9 (pouco mais de R$ 2) pelo trajeto. A van não estava cheia, e o motorista deu voltas pela cidade para pegar mais passageiros. Em geral, as vans têm capacidade para dez pessoas, mas dificilmente circulam com menos de 14.
Também é muito raro encontrar um passageiro branco, mas não há nenhum tipo de hostilidade. Cheguei ao centro em meia hora (às 11h30). Lá, começava a segunda parte do percurso até Soweto. A ideia era testar o BRT (Bus Rapid Transit), sistema articulado de ônibus que foi construído especialmente para a Copa.
O BRT é bem sinalizado e organizado. Comprei o bilhete (R6, o equivalente a R$1,50) e embarquei em menos de cinco minutos. Há diversos pontos do BRT entre o centro e Soweto e os ônibus circulam numa pista exclusiva, o que evita as retenções no trânsito. Cheguei à Soccer City em aproximadamente 25 minutos (às 12h10), mas não pude descer, pois a estação em frente ao estádio ainda não ficou pronta. Continuei por mais 15 minutos até o estádio Orlando, no coração de Soweto. É provável que o local seja usado para treinos de algumas seleções durante a Copa.
A volta ao centro pelo BRT foi tranquila. Para quem está acostumado a andar nas vans, ele é bastante confortável. No entanto, é limitado. Até o momento, apenas o trajeto entre Soweto e o estádio Ellis Park, com passagem pelo Soccer City, foi finalizado. Ou seja, está longe de resolver as deficiências de transporte em Joanesburgo.
Além disso, há um problema grave: muitos jogos terminam à noite e, a menos que os torcedores decidam pagar por um táxi convencional, deve-se voltar ao centro para pegar uma van, o que pode se transformar numa incursão perigosa.
Fonte: G1
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