Há 18 anos em construção, o metrô do Distrito Federal está longe de atender as necessidades dos usuários. Faltam estações, segurança, conforto e sobram problemas operacionais. As viagens estão cada vez mais demoradas, devido às constantes paralisações ao longo do percurso. A dependência do governo ainda é grande. O GDF arca com metade dos custos do transporte. Para os trens rodarem, são repassados R$ 7,5 milhões mensais à estatal administradora do serviço. Iniciativas simples que poderiam diminuir esse deficit, como aluguel de lojas e espaços para publicidade, não saem do papel.
A construção do metrô começou em 1992, com a promessa de a primeira viagem ocorrer dois anos depois. Mas a operação teve início somente em 2001, de forma precária. Desde então, a empreitada consumiu mais de R$ 2 bilhões dos cofres públicos, sem previsão de ser entregue à população conforme o projeto original. Das 29 estações planejadas para a Linha 1, composta pelas linhas verde (Ceilândia) e laranja (Samambaia), 24 estão em funcionamento. Nas outras cinco, as obras nem começaram. Existe ainda a proposta de expansão na Asa Norte, com oito estações, mas nem sequer existe um projeto de engenharia para tal.
Em quase todo o mundo, os metrôs operam no vermelho. Mas, em Brasília, o rombo é maior do que em outras cidades brasileiras. Enquanto na capital do país o governo banca 50% dos custos, em outras metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, a participação do Estado fica entre 10% e 20%, respectivamente. Para piorar, o do DF não fatura com o aluguel de lojas nas estações e a publicidade em trens, vias e paradas. Em São Paulo, por exemplo, a receita não tarifária do metrô, que inclui exploração comercial das estações, subiu 44,8% em três anos. Em 2010, essa renda deve ultrapassar R$ 130 milhões.
A integração com os ônibus também poderia aumentar a arrecadação do metrô brasiliense, pois levaria mais passageiros aos trens. Mas só em 13 das 24 estações é possível comprar o bilhete único, que permite o usuário complementar a viagem usando linhas de ônibus e micro-ônibus, por meio do Sistema Fácil. Com isso, muita gente prefere andar de carro. “Moro há 4km de uma estação do metrô, não tem ônibus para me levar até lá. Também não existe a integração onde desço para o trabalho, com isso, preciso caminhar por mais 20 a 30 minutos. Sempre que posso, vou e volto em meu carro, é mais rápido e confortável”, conta o comerciário Rogério Diniz, 26 anos, morador de Samambaia e funcionário de uma drogaria da Asa Sul.
Irregularidades
Somente na metade de 2010, nove anos após começar a transportar passageiros, a direção da companhia administradora do metrô criou medidas para faturar com propaganda. No entanto, ela esbarra na própria burocracia e apresenta licitações com suspeitas de irregularidades. Dois editais de exploração publicitária lançados nos últimos dois meses estão na mira do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). O órgão mandou corrigir itens referentes ao prazo de contratação. O metrô prometeu fazer as alterações conforme as recomendações e a previsão é relançar as concorrências no início de 2011.
Antes desses dois editais, destinados à exploração de publicidade no interior dos trens, nas paredes e escadas das estações, o metrô licitou e contratou uma empresa para cuidar da propaganda por meio de monitores a serem instalados nos pontos de espera e nos vagões. Pelo contrato, todas as paradas e os trens terão telas de LCD com programação de TV e comerciais, além de mensagens com instruções de segurança e postura no metrô. O sistema está em fase de instalação (lançamento de cabos, fibra ótica et.c), mas as TVs estarão funcionando somente em julho, se a nova administração não mudar os planos.
Ainda está em processo de licitação a locação de espaços para máquinas de autoatendimento bancário. As propostas estão na etapa de análise. O aluguel ocorrerá ao fim da concorrência, o que também ficou para ser decidido pelo governo que assume o DF em 1º de janeiro. Já a locação das lojas está ainda mais indefinida. Só poderá ocorrer após o a regularização dos lotes, assunto tratado por uma comissão formada pelo Metrô-DF, Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) e pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduma). A assessoria do metrô não informou quanto a companhia receberá pela exploração da publicidade nos trens e nos prédios.
Superfaturamento
Além dos prejuízos e da demora em criar medidas para diminuí-lo, o metrô de Brasília acumula denúncias de desvio de dinheiro público em sua construção. A mais recente, divulgada este ano, partiu da Controladoria-Geral da União (CGU). Auditoria do órgão ligado à Presidência da República mostrou que de R$ 40 milhões repassados pelo governo federal, R$ 11 milhões teriam sido gastos de forma ilegal nas construções de quatro estações em Ceilândia. Os auditores apontaram sobrepreço, pagamento de valor acima do normal por um produto ou serviço.
Entre outras coisas, o metrô do DF pagou cinco horas de trabalho para um pedreiro assentar um metro quadrado de granito. De acordo com a CGU, 10 vezes mais que o previsto na tabela da Caixa Econômica Federal e 17 vezes mais horas do que é pago pela prefeitura de São Paulo. Na investigação, os técnicos da CGU constataram que quanto maior era a espessura do granito, mais horas eram pagas pelo serviço.
Os auditores da Controladoria-Geral da União também identificaram um gasto com encargos sociais 43% acima do estimado. Para inflacionar essa conta, a direção do metrô pagou adicional noturno e de fim de semana aos funcionários e alterou o valor dos produtos usados na obra. Um tijolo usado durante a semana custava um preço e na madrugada, sábado ou domingo, tinha outro valor. Nenhum diretor do metrô quis dar entrevista sobre essa e outras falhas da companhia.
EXPANSÃO NO PAPEL
» Um projeto do GDF prevê a expansão do metrô em direção à Asa Norte, com a construção de uma estação no Setor Bancário Norte, além de outras duas em Samambaia e duas em Ceilândia. Ao todo, são 6,7km (1km na Asa Norte, 2km em Ceilândia, 3,7km em Samambaia).
A construção do metrô começou em 1992, com a promessa de a primeira viagem ocorrer dois anos depois. Mas a operação teve início somente em 2001, de forma precária. Desde então, a empreitada consumiu mais de R$ 2 bilhões dos cofres públicos, sem previsão de ser entregue à população conforme o projeto original. Das 29 estações planejadas para a Linha 1, composta pelas linhas verde (Ceilândia) e laranja (Samambaia), 24 estão em funcionamento. Nas outras cinco, as obras nem começaram. Existe ainda a proposta de expansão na Asa Norte, com oito estações, mas nem sequer existe um projeto de engenharia para tal.
Em quase todo o mundo, os metrôs operam no vermelho. Mas, em Brasília, o rombo é maior do que em outras cidades brasileiras. Enquanto na capital do país o governo banca 50% dos custos, em outras metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, a participação do Estado fica entre 10% e 20%, respectivamente. Para piorar, o do DF não fatura com o aluguel de lojas nas estações e a publicidade em trens, vias e paradas. Em São Paulo, por exemplo, a receita não tarifária do metrô, que inclui exploração comercial das estações, subiu 44,8% em três anos. Em 2010, essa renda deve ultrapassar R$ 130 milhões.
A integração com os ônibus também poderia aumentar a arrecadação do metrô brasiliense, pois levaria mais passageiros aos trens. Mas só em 13 das 24 estações é possível comprar o bilhete único, que permite o usuário complementar a viagem usando linhas de ônibus e micro-ônibus, por meio do Sistema Fácil. Com isso, muita gente prefere andar de carro. “Moro há 4km de uma estação do metrô, não tem ônibus para me levar até lá. Também não existe a integração onde desço para o trabalho, com isso, preciso caminhar por mais 20 a 30 minutos. Sempre que posso, vou e volto em meu carro, é mais rápido e confortável”, conta o comerciário Rogério Diniz, 26 anos, morador de Samambaia e funcionário de uma drogaria da Asa Sul.
Irregularidades
Somente na metade de 2010, nove anos após começar a transportar passageiros, a direção da companhia administradora do metrô criou medidas para faturar com propaganda. No entanto, ela esbarra na própria burocracia e apresenta licitações com suspeitas de irregularidades. Dois editais de exploração publicitária lançados nos últimos dois meses estão na mira do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). O órgão mandou corrigir itens referentes ao prazo de contratação. O metrô prometeu fazer as alterações conforme as recomendações e a previsão é relançar as concorrências no início de 2011.
Antes desses dois editais, destinados à exploração de publicidade no interior dos trens, nas paredes e escadas das estações, o metrô licitou e contratou uma empresa para cuidar da propaganda por meio de monitores a serem instalados nos pontos de espera e nos vagões. Pelo contrato, todas as paradas e os trens terão telas de LCD com programação de TV e comerciais, além de mensagens com instruções de segurança e postura no metrô. O sistema está em fase de instalação (lançamento de cabos, fibra ótica et.c), mas as TVs estarão funcionando somente em julho, se a nova administração não mudar os planos.
Ainda está em processo de licitação a locação de espaços para máquinas de autoatendimento bancário. As propostas estão na etapa de análise. O aluguel ocorrerá ao fim da concorrência, o que também ficou para ser decidido pelo governo que assume o DF em 1º de janeiro. Já a locação das lojas está ainda mais indefinida. Só poderá ocorrer após o a regularização dos lotes, assunto tratado por uma comissão formada pelo Metrô-DF, Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) e pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduma). A assessoria do metrô não informou quanto a companhia receberá pela exploração da publicidade nos trens e nos prédios.
Superfaturamento
Além dos prejuízos e da demora em criar medidas para diminuí-lo, o metrô de Brasília acumula denúncias de desvio de dinheiro público em sua construção. A mais recente, divulgada este ano, partiu da Controladoria-Geral da União (CGU). Auditoria do órgão ligado à Presidência da República mostrou que de R$ 40 milhões repassados pelo governo federal, R$ 11 milhões teriam sido gastos de forma ilegal nas construções de quatro estações em Ceilândia. Os auditores apontaram sobrepreço, pagamento de valor acima do normal por um produto ou serviço.
Entre outras coisas, o metrô do DF pagou cinco horas de trabalho para um pedreiro assentar um metro quadrado de granito. De acordo com a CGU, 10 vezes mais que o previsto na tabela da Caixa Econômica Federal e 17 vezes mais horas do que é pago pela prefeitura de São Paulo. Na investigação, os técnicos da CGU constataram que quanto maior era a espessura do granito, mais horas eram pagas pelo serviço.
Os auditores da Controladoria-Geral da União também identificaram um gasto com encargos sociais 43% acima do estimado. Para inflacionar essa conta, a direção do metrô pagou adicional noturno e de fim de semana aos funcionários e alterou o valor dos produtos usados na obra. Um tijolo usado durante a semana custava um preço e na madrugada, sábado ou domingo, tinha outro valor. Nenhum diretor do metrô quis dar entrevista sobre essa e outras falhas da companhia.
EXPANSÃO NO PAPEL
» Um projeto do GDF prevê a expansão do metrô em direção à Asa Norte, com a construção de uma estação no Setor Bancário Norte, além de outras duas em Samambaia e duas em Ceilândia. Ao todo, são 6,7km (1km na Asa Norte, 2km em Ceilândia, 3,7km em Samambaia).
Fonte: Correio Braziliense
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