Enquanto milhares de passageiros lutam diariamente por um lugar nos ônibus lotados de Brasília, 50 coletivos novinhos estão estacionados em garagens no Recanto das Emas e no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN) à espera da instalação dos leitores de cartão da Fácil. Os veículos da empresa Riacho Grande estariam parados há pelo menos três meses, segundo um funcionário que não quis se identificar. Grama e mato crescem ao redor dos carros. Os pneus limpos revelam que os ônibus nunca tocaram o asfalto. No interior, ainda é possível perceber o “cheiro de novo”. As poltronas estão empoeiradas por causa do tempo sem uso, mas o piso permanece intacto.
Os veículos movidos a biodiesel — que emitem até 30% menos poluentes — e com acessibilidade deveriam substituir parte da frota antiga da empresa Riacho Grande. Mas, de acordo com funcionários da empresa, os veículos ainda aguardam a instalação do leitor de cartão da Fácil. Por meio da assessoria de imprensa, a Fácil alegou que vai analisar a situação dos veículos e só irá se pronunciar após fazer a verificação do caso.
O Departamento de Fiscalização (DFTrans) da Secretaria de Transporte realizou diversas blitzes no ano passado a fim de garantir a segurança dos passageiros do DF. Até setembro, o órgão havia realizado quase 5 mil autuações a empresas de ônibus do Distrito Federal. Os problemas encontrados eram relacionados à falta de manutenção; extintores de incêndio vencidos; ônibus sem ordem de serviço circulando em itinerários de outras empresas; à falta de equipamento obrigatório, como o cinto de segurança e o extintor de incêndio. Também foram lacrados ônibus que rodavam com pneus carecas, com assentos soltos ou quebrados, com problemas na parte elétrica e nos freios e coletivos em péssimo estado de conservação.
Até setembro, o DFTrans realizou 4.592 autuações.As empresas notificadas eram obrigadas a tirar o veículo de circulação até que se consertasse o problema. As multas variavam entre R$ 127 e R$ 1 mil. O DFTrans, então, realizava vistoria para que o coletivo pudesse voltar a circular com segurança. A estudante Adelina Rodrigues de Queiroz, 21, utiliza ônibus todos os dias para seguir do Lago Sul, onde mora, até a Universidade de Brasília, local em que estuda. Ela critica o péssimo estado de conservação dos carros — piso sujo, cadeiras quebradas e muito barulho do motor. “Os ônibus são péssimos, estão sempre sujos e com mau cheiro. Os serviços de transporte oferecidos deixam a desejar”, apontou.
Servidor público, Carlos Henrique Guedes, 46, também se incomoda com os ruídos emitidos pelos veículos. “Os carros são muito barulhentos”, resume, rapidamente. Moradora de Taguatinga, Poliana Alecrim da Cruz, 24, é outra que está insatisfeita com a frota do DF. “Corremos risco ao andarmos nestes ônibus com pneus carecas, principalmente durante a chuva”, pontuou.A reportagem do Correio foi até a Viação Riacho Grande, no Recanto das Emas e no SAAN para questionar sobre a frota nova estacionada há meses, mas não foi recebida pelos responsáveis, nem obteve retorno das ligações.
Fonte: Correio Brasiliense
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