São 18 anos de profissão e muita correria. Todos os dias, faça chuva ou faça sol, o motorista de ônibus Antônio Lins, 50, enfrenta os entraves das ruas da cidade para cumprir o itinerário da linha Valéria R-2. Às 4h18, ele assina o ponto de chegada na Estação Pirajá e, às 4h21, já está de saída, como mostra o Relatório Operacional Veicular (ROV) da empresa onde trabalha. Durante a manhã, a cada retorno para o terminal, os intervalos de descanso variam de 5 a 17 minutos. “Nossos horários são muito apertados. Os primeiros da manhã são só bate-e-volta”, conta. A pressão que Lins vive na prática é a mesma que a psicóloga, perita do trânsito há nove anos, Elzinete Magalhães, confere nos psicotestes que aplica para retirada de habilitação e renovação da carteira de motoristas. “O que eu observo nas entrevistas preliminares é que eles falam muito em cumprir metas. Têm sempre que fazer muitas corridas, chegar no horário. O nível de estresse é muito alto”, alerta a especialista. Pressão psicológica é também o que Elzinete aponta como motivação para o acidente ocorrido em Jardim Armação, envolvendo o ônibus da empresa Dois de Julho, que completa hoje uma semana. Para ela, a obrigação de cumprir metas de roteiros e horários é o que leva ao descontrole no trânsito. Sem se identificar, um motorista entrevistado pela reportagem acabou desabafando: “Quando o sinal fecha, dá vontade de sair levando tudo o que está na frente. Infelizmente, é isso o que a gente sente”. Carta-horária – Uma das maiores queixas entre motoristas é a carta-horária – limite de tempo previsto para cada viagem. Antônio Lins, por exemplo, acaba fazendo hora extra todo dia, por não cumprir: “Nossa carga horária era para ser de sete horas e 20 minutos. Há oito anos, era isso que eu fazia em cinco viagens, mas depois subiu para seis e agora já são sete viagens com uma hora a mais de jornada”. O motorista Josué Santos, 32 anos, oito na atividade, também acha difícil respeitar a carta-horária. Ele tem uma hora e 20 minutos para fazer o trajeto Estação Pirajá-Bonfim, mas nem sempre consegue. “Se o trânsito está livre, dá para fazer. O problema é que nunca está: são 700 mil veículos rodando na cidade e sempre encontramos engarrafamentos”, ele reclama. A pressão se intensifica com as condições precárias nos terminais. Na Estação Pirajá, o banheiro masculino está sem torneira, e mãos e rosto têm de ser lavados do lado de fora. Também não há lugar de repouso e a soneca após o almoço acaba sendo improvisada no próprio interior do ônibus, quando dá tempo. Cansado da rotina estressante, Josué pensa em mudar de ramo e já começou a estudar para concursos públicos, nível técnico. “A maioria dos colegas quer sair do sistema. Só não sai porque é pai de família. Aqui, sofremos humilhações. Eles botam regras difíceis de cumprir. No papel, funciona, mas a prática é outra”, queixa-se.
Trolebus em SP
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