São ao menos cinco passarelas provisórias, três abrigos de ônibus improvisados e de madeira, além de uma estação e três viadutos inacabados. Ao longo da Avenida Brasil, a promessa de solução para aproximar a Zona Oeste do Centro, facilitar o acesso para quem vem da Baixada e proporcionar a integração com outros corredores se transformou em incômodos esqueletos. As obras do corredor BRT Transbrasil estão paradas desde julho do ano passado.
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Foto: Guilherme Pinto / Extra |
O secretário municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, Indio da Costa, promete que até o fim de junho, o cenário começará a mudar, com o reinício da obra.
— Já acertamos a retomada nesse semestre. Só não tenho ainda uma data, porque depende de acertos burocráticos — diz Indio da Costa.
O atraso vai custar caro aos cariocas. Segundo o secretário, a prefeitura já acertou com o consórcio formado pela Odebrecht, Queiroz Galvão e OAS o pagamento do primeiro reajuste no valor de R$ 47 milhões. Indio da Costa diz que o reajuste, que é anual, é previsto no contrato. Um segundo pagamento está em discussão. O consórcio diz que a correção é para manter o equilíbio econômico e financeiro da obra.
— É dinheiro nosso pelo ralo. Quanto mais tempo passar, mais vão gastar — critica o mecânico de gás, Valdez Miranda, de 40 anos, que contava com o BRT para encurtar a distância de casa, em Cordovil, e o trabalho, em Bonsucesso.
O funcionário público Ronaldo Brasil, de 58 anos, morador de Madureira, faz coro nas críticas:
— É uma falta de responsabilidade começar uma obra dessa e não concluir. Tem que cobrar, principalmente, do governo que saiu. Essa situação traz transtornos para quem passa por aqui todos os dias e tem de conviver com esses esqueletos. É uma pena, pois o BRT seria útil para quem utiliza o transporte público. Do jeito que está, ela (a obra) não beneficia ninguém. Pelo contrário. Deve recomeçar logo, até porque, certamente, a demora na conclusão vai gerar mais gastos. A gente tem exemplos recentes, como o Maracanã — lembra.
A promotora de vendas Vanderly Nicolau, de 48 anos, do Jardim América, calcula que o corredor reduziria a uma as duas horas que leva até o trabalho, no Centro. Quinta-feira, ela esperava o ônibus num abrigo de madeira e com cobertura de zinco. A passarela fixa, que era perto da parada, foi derrubada. Agora, tem uma provisória, feita com tubulações metálicas a cem metros dali. A frase, “Por que parou” pichada no esqueleto da estação, perto da Fiocruz, traduz a indignação com a demora na conclusão da obra.
Corredor até o Caju
A prefeitura garante que vai concluir as obras, mas a prioridade é para o que a gestão passada deixou inacabado, ou seja, de Deodoro ao Caju. A ligação do corredor com o Centro — permitindo acessar o trecho da Rodoviária à Central, a cargo Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) — , bem como a construção de três terminais vão ficar para uma segunda etapa, pois, segundo Indio da Costa, nem os terminais nem foram licitados.
O de Deodoro, ponto de conexão com o Transolímpica e Transoeste, é um deles. Os outros dois são os de ligação com a Baixada: no Trevo das Margaridas, pela Dutra, e das Missões, pela Washignton Luiz. A nova previsão para conclusão das obras é meados do ano que vem. O custo inicial do corredor foi de cerca de R$ 1,4 bilhão, sendo que pouco mais da metade deste montante foi pago. De acordo com o secretário, o valor já desembolsado corresponde ao mesmo percentual de execução da obra, ou seja 55% do total.
Entenda o histórico
Iniciadas em novembro de 2014, as obras do BRT Transbrasil foram paralisadas no fim de julho do ano passado, pouco antes da Olimpíada, com o argumento de que era para facilitar a mobilidade nos Jogos. A previsão de retomada em setembro não se concretizou. De início, a prefeitura tentou negar que as obras estivessem paradas, mas o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada revelou, em outubro, que 90% da mão de obra dos canteiros, que girava em torno de 1.200 operários, havia sido dispensada.
Logo depois, a prefeitura admitiu a paralisação, mas garantiu que não era por falta de dinheiro. O impasse seria por conta do pedido de reajustes e aditivos. No começo do ano, a atual gestão informou que a empresa responsável cobrava R$ 40 milhões em novos itens e R$ 45 milhões de reajuste no contrato para prosseguir com as obras. A prefeitura ficou de avaliar o pedido e agilizar o recomeço, o que ainda é só promessa.