Mesmo com a determinação de que 40% da frota dos ônibus volte a circular às 17 horas desta quarta (26), os motoristas e cobradores do transporte público de Curitiba e Região Metropolitana encontram dificuldades para chegar até as garagens por causa paralisação do transporte coletivo.
Na garagem da empresa Glória, no bairro Boa Vista, apenas dez veículos foram às ruas até as 17h30. O diretor de operações, Gelson Forlin, contou que pela manhã os motoristas e cobradores que foram ao local foram impedidos de trabalhar por outros funcionários, que montaram um piquete em frente a garagem. “Agora eles [os trabalhadores] não conseguem chegar até aqui”, disse Forlin. A Glória tem de 80 a 90 veículos.
Na garagem da empresa Marechal, no Centro Cívico, a situação era mais tensa. Em frente ao local há duas barracas e uma tenda de grevistas que são favoráveis à paralisação total. Os cinco veículos que saíram da garagem foram hostilizados pelos manifestantes. Os motoristas e cobradores também têm dificuldade para chegar ao local pela falta de meios de transporte.
Determinação
O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e região metropolitana (Sindimoc) acatou a determinação da desembargadora Ana Maria Zaina, do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT), de retorno de 40% da frota de ônibus a partir das 17 horas desta quarta-feira.
Durante a audiência com os trabalhadores, que ainda está em curso, a desembargadora exigiu também que 50% da frota volte a funcionar as 6 horas de quinta (27).
Os 40% serão mantidos nos horários de pico(entre 6h e 8h, de segunda-feira a sábado, e 17h às 19h, de segunda a sexta-feira). Já para os demais horários, a determinação é que circule 30% da frota. Conforme a Urbanização de Curitiba (Urbs), a quantidade corresponde a 1.186 veículos nos horários de pico e 607 nos demais horários.
Em uma pausa concedida durante a audiência para que o sindicato comunicasse os trabalhadores da decisão, o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, solicitou que os motoristas e cobradores fizessem o controle dos percentuais na porta das garagens.
A quantia determinada para a frota de 30% e 40% vale para todas as linhas que operam no transporte coletivo de Curitiba e Região Metropolitana, além das linhas Turismo e Aeroporto Executivo.
A multa aplicada ao sindicato em caso de descumprimento subiu de R$ 10 mil para R$ 100 mil por dia. O advogado do Sindimoc, Elias Mattar Assad, disse que o sindicato deve cumprir a determinação judicial, mas aguardará a notificação oficial.
Mesmo com a ordem da Justiça, a paralisação não deve ser encerrada a tempo do horário de pico do fim da tarde. Questionado se a categoria atenderia imediatamente à determinação judicial, o advogado do sindicato disse que "enquanto não acabar a audiência, as coisas ficarão como estão”.
Representantes do sindicato e das empresas de ônibus de Curitiba estão reunidos nesta tarde em audiência no TRT. "Talvez saiamos do tribunal com acordo, mas caso isso não aconteça, faremos de tudo para cumprir a ordem judicial que vier", afirmou Assad.
Na audiência, a Urbs entregou um documento que especifica a quantiodade que representa 30% e 40% dos ônibus por linha. O sindicato recebeu o documento e disse que deve colocar em prática.
A ordem judicial que determinou o retorno imediato da circulação de ônibus é da desembargadora Ana Carolina Zaina. "A lei do direito de greve prevê multa em caso de uso abusivo desse direito, por isso estabelecemos R$ 100 mil diários. Porém estou convicta de que a categoria encontrará um caminho de paz", comenta a desembargadora.
Esse caminho de paz está longe está longe de ocorrer. Depois de 1h30 de audiência, o sindicato patronal ainda não propôs o reajuste aos trabalhadores acima da inflação, principal pedido da categoria. Representantes do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Setransp) afirmam que a categoria suporta oferecer no máximo o reajuste da correção do INPC, que é de 5,26% acumulado até fevereiro. O sindicato pede aumento de 22% para cobradores e 16% para motoristas de ônibus.
Para minimizar os problemas com a falta de ônibus, a Urbs abriu cadastramento de veículos particulares para fazer transporte alternativo. Até o meio dia desta quarta, 260 veículos estavam cadastrados. A maioria deles são vans, além de dez micro ônibus e um ônibus.
Os motoristas desses veículos precisam estar com a documentação pessoal e do veículo em dia e com o carro em boas condições. Além disso, os donos desses transportes precisam cobrar no máximo R$ 6 de tarifa, caso contrário respondem a sanções previstas no previstas no Código Brasileiro de Trânsito.
Táxis
Desde a madrugada, as centrais telefônicas de táxi estão congestionadas. Às 11h30, a reportagem tentou entrar em contato com quatro empresas que prestam o serviço. Apenas em uma delas foi possível falar com a atendente. Quantos às outras, a ligação sequer completou.
A empresa que atendeu a reportagem informou que mantém toda a frota em circulação, o que equivale e 240 carros. A quantidade é insuficiente para atender a todos os pedidos, e não estão sendo estabelecidos horários para a busca dos clientes em suas casas. Segundo a empresa, a tendência é de que no horário do almoço aumente ainda mais demanda pelos táxis.
A situação de contato com as centrais telefônicas não mudou muito desde o início da manhã. No período, a reportagem tentou os mesmos contatos e também só conseguiu conversar com uma única central - a mesma do fim da manhã. Para conseguir falar com a telefonista foram necessários aproximadamente cinco minutos de espera.
De acordo com a empresa, por volta das 7h15, toda a frota estava circulando no período, e, apesar dos contatos, também não havia previsão de tempo para que as pessoas fossem buscadas em casa. Na mesma empresa, a fila de espera começou por volta das 5h30.
Para economizar e agilizar o transporte, uma alternativa para quem precisa chegar ao trabalho é dividir uma viagem de táxi com colegas e vizinhos. É o que fez a auxiliar de serviços gerais Lenir Batista, de 49 anos. Moradora do Sítio Cercado, ela e mais três amigas dividiram o valor de uma corrida até o centro, de onde elas seguiram a pé para seus locais de trabalho para economizar. "Agora vou a pé até perto do [Hospital] Evangélico para economizar um pouco porque não tenho dinheiro", declarou Lenir, que ficou no telefone para conseguir um táxi das 5h30 até as 7 horas.
Pouco antes das 7 horas, na região central, havia táxis em pelo menos dois pontos - nas praças Rui Barbosa e Tiradentes -, porém, não havia passageiros.
Informações: Gazeta do Povo