Os juiz-foranos enfrenta hoje o terceiro dia de greve dos motoristas e cobradores. Depois de mais de cinco horas de negociação a portas fechadas e de alguma flexibilização de Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (Sinttro) e Astransp, não houve acordo na terceira reunião mediada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O movimento continua, mas a expectativa é que, desta vez, exista o cumprimento da determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de que 80% da frota, constituída por 588 ônibus, estejam em circulação. Ontem, apenas 15% da frota ou 90 ônibus estiveram nas ruas, conforme o último boletim divulgado pela Astransp. Pelo descumprimento, o Sinttro está sujeito a multa diária de R$ 50 mil, conforme liminar concedida pelo desembargador Jorge Berg de Mendonça na noite de terça-feira. O sindicato anunciou que vai recorrer.
Cerca de 300 pessoas, conforme estimativa da Polícia Militar (PM), esperavam, do lado de fora, o resultado das negociações. A PM montou um forte esquema de segurança, que incluía 120 homens em seis viaturas, só na porta do MTE. Desde as 15h30, os manifestantes realizaram apitaço, empunharam faixas e formaram um corredor humano na Rua Santo Antônio, limitando o tráfego de veículos. No meio da tarde, o tráfego no local chegou a ser interrompido pela própria PM. Apesar dos ânimos exaltados, não houve registro de ocorrências no local. A manifestação se estendeu até as 22h, quando terminou a assembleia da categoria.
Nesta quarta-feira (6) pela manhã, o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) fez um apelo para que os rodoviários cumpram a determinação judicial e mantenham a circulação de ônibus nas ruas. "Ao permanecerem em regime de paralisação total, os rodoviários estão descumprindo uma determinação judicial. O que eu peço é que eles voltem às suas atividades, pois a mais prejudicada com isso é a população de Juiz de Fora."
Nesta quinta-feira, representantes de Sinttro e Astransp voltam a ser reunir em audiência convocada pelo TRT, em Belo Horizonte. O TRT foi procurado, mas não se posicionou sobre o assunto. Ontem, a Astransp ofereceu como última proposta do dia o reajuste linear de 9,63%. O índice anterior oferecido pela entidade era de 6,63%, referente à correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O Sinttro não divulgou o percentual pleiteado, apenas considerou a proposta "desfavorável". O pleito inicial da categoria era reajuste de 28% para motoristas e de 49% para trocadores. O índice oferecido pela Astransp chegou a ser apresentado em assembleia realizada na porta do MTE, por volta das 22h, mas foi rejeitado pela categoria.
O presidente da Astransp, Fernando Goretti, comenta que a contraproposta representa quase 50% de ganho real. Com este aumento, o salário dos motoristas chegaria próximo a R$ 1.447, sendo 50% para trocadores. Apesar de o Sinttro não ter mencionado valores ontem, segundo Goretti, o pedido da categoria teria chegado a R$ 1.695, sendo 60% para trocador. Para ele, a liminar do TRT demonstra que foi reconhecida a abusividade da greve. Goretti ressaltou, no entanto, o descumprimento da decisão judicial, fruto de ação impetrada pela entidade.
O presidente do Sinttro, Adilson Rezende, garante que, desde que teve conhecimento sobre a decisão do TRT, tem sido feito um trabalho de convencimento da categoria a retornar ao trabalho, para cumprir os 80% de oferta do serviço. Ele, inclusive, reforçou o aviso na assembleia realizada na porta do MTE. "Defendemos que cumpra-se a determinação judicial, mas não temos como forçar os trabalhadores a voltarem ao serviço. Depende da vontade deles."
Responsabilidade
O promotor do Ministério Público do Trabalho, José Reis Santos Carvalho, avaliou que o "caos não pode continuar", destacando os prejuízos à população. Ele entende que a diretoria do Sinttro tem responsabilidade no cumprimento da decisão judicial e, inclusive, a advertiu sobre esta necessidade. A obrigação da Astransp, segundo o promotor, é disponibilizar a frota para este fim. José Reis aposta em uma solução pacífica, sem a intervenção judicial, e está otimista em relação ao encontro, hoje, em Belo Horizonte.