Ônibus automáticos, com suspensão que prioriza o conforto, ar condicionado, sistema de computador de bordo que auxilia as operações e vias mais largas e com planejamento melhor.Seriam características ideais para quem é motorista de ônibus.
Mas, dados relacionados à saúde e segurança pública, mostram que a profissão é cercada de várias adversidades que colocam em risco a saúde, a integridade física e a qualidade de vida dos mestres do volante.
Pode-se dizer, sem usar jargões ou frases feitas, que os motoristas em geral, de ônibus, caminhão, carros de socorro e de diversos serviços conduziram e continuarão a conduzir o progresso, ainda mais num país que a partir dos anos de 1950 privilegiou a política rodoviarista e abandonou os transportes ferroviários quase que completamente.
Motoristas de ontem e de hoje podem ser considerados heróis, mas de diferentes batalhas.
Uma pesquisa nacional, com mais de 1300 motoristas de diversas capitais e regiões metropolitanas do País, realizada pela UnB – Universidade de Brasília – em 2008 mostrou dados alarmantes.
O número de afastamentos do trabalho pelos motoristas de ônibus e caminhão registra aumento praticamente em todos os anos. A primeira causa destes afastamentos, quando analisado somente o universo de motoristas de ônibus, são dores nas costas. O segundo maior motivo pelo qual os motoristas “caem no INSS”, quando os afastamentos são superiores a 15 dias, está relacionado a problemas psicológicos, entre os principais, estresse, depressão e síndrome do pânico.
A coordenadora da pesquisa foi a médica laboral Anadergh Barbosa Branco, que resume a realidade relatada por motoristas durante a pesquisa:“A gente sabe que existem linhas que só conseguem ser feitas com escolta [policial, por conta do número de assaltos].
A insegurança é um fator que contribui muito para depressão”. Para a médica, o tempo ideal de trabalho diário é de seis horas. “A posição do motorista é um muito desgastante. Além disso, ele precisa se concentrar no trânsito. Toda essa situação de estresse resulta em outros problemas de saúde.Ainda dentro da análise, foram feitas blitze em diversas regiões do País com motoristas de ônibus e caminhoneiros.
Mais uma vez, os resultados impressionam:
71% dos motoristas estão acima do peso.
34% sofrem de pressão
33% possuem problemas de visão que não sabiam
23% admitiram beber, em alguns casos até o ponto de se embriagar, 3 vezes por semana ou mais
14% declararam ter distúrbios do sono.
No caso dos motoristas de ônibus urbanos, a situação é pior ainda.Os assaltos são mais constantes e as ações de criminosos têm se tornado mais violentas. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não forneceu o número de motoristas que morrem ou se ferem em ações criminosas, mas os casos assustam a categoria.Em relação ao trânsito, a violência também aumentou.
Os congestionamentos, a impaciência dos motoristas de carros e até mesmo de outros motoristas de ônibus e a imprudência de motoboys fazem com que os condutores trabalhem sobre dupla pressão: a de não colocar a própria vida e de diversas pessoas em risco e também de não serem responsabilizados pelos acidentes e acabarem bancando o conserto dos ônibus e outros veículos envolvidos. E uma peça de ônibus é bastante cara.
Quanto ao vandalismo por parte dos passageiros e moradores, embora a regra seja condenada, em alguns casos, o motorista do ônibus acaba pagando por pequenos prejuízos, como de bancos, luminárias, vidros riscados.Já em casos mais extremos de violência gratuita, uma moda que atormenta a vida de motoristas e passageiros contribui para que as tensões aumentem: os constantes incêndios em ônibus.
Basta qualquer coisa acontecer para um grupo de criminosos disfarçados de manifestantes, queimarem um ônibus. É só a polícia, dar um tiro de raspão num traficante de drogas que domina uma favela que pronto, um ou mais ônibus viram enormes fogueiras.
E mesmo quando as reivindicações dos moradores são justas, ônibus também são queimados, o que não se justifica em hipótese nenhuma. Outro agravante na situação dos motoristas de ônibus se intensificou no final dos anos de 1990, com o crescimento do uso dos microônibus. Os veículos são mais ágeis e fáceis de dirigir, porém, os motoristas têm de cobrar a passagem. Nos anos 2000, o acúmulo de serviços que é contestado até mesmo no plano jurídico, se disseminou em quase todas as cidades brasileiras com a adoção dos ônibus midis, os famosos micrões, que são um pouco menores que os veículos convencionais (praticamente do mesmo tamanho de modelos antigos, como o Caio Gabriela). Nos micrões também não há cobrador.
O ato de prestar a atenção no trânsito, receber o passe ou o dinheiro, calcular o troco e entregar aos diversos passageiros, muitas vezes com os ônibus já em movimento também é outra queixa da categoria. Isso sem contar com valores de tarifas que não facilitam em nada o troco, como R$ 2,65, R$ 5,85, etc.