Parar distante do ponto ou ignorar o pedido do passageiro, agressões verbais e outras ações desrespeitosas com o passageiro. Reclamações comuns aos usuários de transporte público em Salvador são mais danosas no trato com o público idoso.
Fernando Amorim | Ag. A TARDE |
Nos últimos três anos, foram registradas 18.855 queixas na Transalvador. Destas, 8.152 são relativas a maus tratos englobando: atitudes inconvenientes, não esperar o embarque e desembarque, não parar no ponto ou parar distante dele, além de parar e não abrir a porta.
Com base nos dados, o vereador Leandro Guerrilha (PSL) apresentou um projeto de lei que visa a obrigatoriedade anual de cobradores, fiscais e motoristas de ônibus, micro-ônibus e vans serem submetidos a treinamento anual com carga horária mínima de 20 horas/aula.
O aperfeiçoamento é voltado ao tratamento aos idosos, crianças, mulheres gestantes e pessoas com deficiência. "O programa abrange noções de responsabilidade civil e penal, por danos e lesões corporais aos usuários, gestão de crises decorrentes de tumulto e insatisfação e direção defensiva", explicou o vereador. O documento deve ser colocado em discussão no início do próximo mês.
Dificuldade
"Recebemos esse tipo de reclamação, no entanto, a apuração esbarra na dificuldade de identificar o veículo e o motorista. Nem sempre o idoso tem esses dados", disse o promotor Ulisses Campos, do Grupo de Atuação Especial de Defesa dos Idosos (Geido), do Ministério Público da Bahia.
Para tentar inibir atitudes desse tipo, o promotor Ulisses Campos está elaborando uma recomendação, que deve ser concluída até o início da segunda quinzena deste mês, determinando providências e exigindo imagens do interior do coletivo a partir das informações sobre o fato.
"Quando saio com minhas netas peço para elas pedirem a parada. Sozinha, conto com a sorte. Às vezes não respondem, mas continuo cumprimentando, agradecendo e desejando que Deus acompanhe", disse Maria Bernadete dos Santos, 78 anos.
Apesar de não contabilizar violações específicas em coletivos, a Delegacia do Idoso, localizada nos Barris, recebe e apura queixas relativas ao assunto. "Não há legislação específica. Esse tipo de desrespeito está incluso no Artigo 3º, que fala sobre a responsabilidade social com relação ao idoso", explicou a delegada plantonista da unidade policial Izabel Garrido.
"Vários chamam a gente de 'atrasa lado' e '0800'. Não tem respeito. Em março, peguei o Base Naval/Lapa, dei boa tarde e o motorista não respondeu. Um tempo depois, ele ficou falando que eu não cumprimentei, comentou com outros passageiros e, quando reclamei, ele disse que era para sentar no colo dele", contou o pescador Raimundo Nonato dos Santos, 67 anos.
Já a aposentada Noêmia Teixeira dos Santos, 73 anos, caiu ao tentar entrar em um coletivo da empresa Central, pois o motorista acelerou o veículo antes dela conseguir subir o primeiro degrau.
Aperfeiçoamento frequente é a solução mais eficaz para o coordenador da Casa do Aposentado (Asaprev-BA) e vice-presidente do Conselho Estadual do Idoso, Marcos Barroso.
"Pelo menos cinco pessoas relatam problemas em coletivos por dia aqui. O ideal seria um curso a cada seis meses para garantir a segurança dos passageiros".
Em Salvador, a população com 60 anos ou mais chega a 247.989, do total de 2.675.656 habitantes, segundo dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010.
O diretor do Setps, Jorge Castro, diz que os rodoviários já são qualificados. "O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) já determina esse tipo de qualificação e toda vez que se renova a habilitação, esse tipo de curso é obrigatório. Em 2011, todos os rodoviários passaram por 50 horas de aulas que incluia práticas de relacionamento".
Apesar de alegar não ter registro da quantidade de queixas apuradas e punições sofridas pelos rodoviários que desrespeitam usuários, o diretor do Setps afirma que a quantidade não é grande.
População
O desrespeito com esse público não se restringe aos rodoviários. Os assentos preferenciais quase sempre são ocupados por passageiros que não atendem aos requisitos de prioridade.
"Eles fingem dormir, viram o rosto pra janela e quando levantam sob pressão de outras pessoas ainda dizem que não sabem o que a gente vai fazer na rua", disse Edberto Cardoso de Jesus, 64 anos.
Informações: A Tarde
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