Assim que a técnica se apoiou numa haste de segurança e num balaústre perto da porta de desembarque, a cobradora Cátia Silene Nascimento Silva, de 37, prendeu a respiração e partiu para uma tarefa perigosa. Ela se levantou da cadeira atrás da gaveta de trocados e se agarrou aos balaústres. Como se estivesse num brinquedo, a mulher forte se movimentou dependurada nos balaústres e passou sobre a roleta, pousando na área de assentos preferencias.
Ali, ela começou a conferir quem tem cartões de gratuidade ou carteiras de identidade. Terminada a vistoria, voltou para o seu lugar. “Nunca caí, mas tenho medo. A gente podia ter uma porta que facilitasse nosso acesso até a roleta”, disse. O que ela faz é proibido, segundo o sindicato dos rodoviários, mas ocorre em vários coletivos por pressão das empresas, de acordo com os sindicalistas.
Como a linha que mais transporta pessoas na cidade, o ônibus recebe também diferentes tipos de gente. Nesse aperto para se acomodar num assento qualquer ou no local com mais pontos de apoio, o fotógrafo Vanderlei Araújo, de 43 anos, deu sorte e logo se sentou com uma mochila grande repleta de equipamentos e outra bolsa de lentes e objetos. “Não é sempre que a gente dá sorte e consegue um lugar. O ônibus já sai do ponto final quase lotado”, afirma.
Menos sorte teve a técnica em segurança do trabalho Edilaine Cristina Mendes, de 28. Com sua motocicleta no conserto, ela teve de encarar um dos motivos que a fizeram comprar a moto: o aperto dos ônibus. Enquanto o coletivo se inclina para fazer as sucessivas curvas da avenida, Edilaine ergue a mochila e a apoia sobre a roleta. Entra com o corpo no vão e passa seu cartão, segurando ao mesmo tempo dois capacetes e uma bolsa. A dificuldade da mulher desperta a gentileza da cobradora, que pega os capacetes e a bolsa e a ajuda a atravessar a roleta. “Quando tive de deixar a moto na oficina, já pensei: ‘Hoje o dia vai ser daqueles, vou ter de enfrentar os ônibus cheios’”, suspirou Edilaine.