Depois de muitas queixas da população do Rio, o Palácio Guanabara decidiu ampliar em 30 minutos o prazo de uso do Bilhete Único. A partir do dia 1º de julho, passageiros de 20 municípios vão ter até duas horas e meia para realizar a transferência da primeira para a segunda condução em viagens intermunicipais. O custo da integração — ainda limitada a dois embarques no período — continua o mesmo: R$ 4,40. A medida, anunciada ontem pelo governador Sérgio Cabral, vai aumentar de 90% para 99% o percentual de moradores da Região Metropolitana atendidos pelo benefício.
Para formalizar a decisão, um decreto será publicado ainda nesta semana com os detalhes da mudança. A lei que criava o Bilhete Único — que também vale para trabalhadores que usam o RioCard em itinerários intermunicipais — já autorizava eventuais aumentos nos limites de tempo para a utilização do cartão. Na época de sua aprovação na Alerj, entretanto, a maioria dos deputados votou contra as emendas que previam essa alteração.
Sérgio Cabral disse ter decidido pela mudança após ouvir apelos de usuária da cidade de São Gonçalo: “Uma senhora me disse que, por causa do trânsito, ficava nervosa para terminar a primeira viagem e poder usar a segunda. Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Ela, como todos os demais trabalhadores que precisam do sistema, merecem ter tranquilidade para ir e voltar do trabalho”.
A ampliação do intervalo entre as conduções foi comemorada por usuários do Bilhete Único. A auxiliar de escritório Edileuza de Oliveira Leal, 38 anos, trabalha no Centro do Rio e mora em Nilópolis. Para chegar em cassa, pega um ônibus de R$ 5,20 e outro de R$ 2. Quando consegue passar o cartão na segunda roleta dentro das duas horas, paga só os R$ 4,40 pelas duas passagens. “É muito boa a ampliação do prazo. É uma correria muito grande para quem tem de lidar com engarrafamentos”, pondera Edileuza, uma das 208 mil pessoas que utiliza o benefício a cada dia. Desde a implantação do Bilhete Único, em fevereiro, 1,095 milhão de pessoas já utilizaram o cartão.
A Secretaria Estadual de Transportes afirma que não tem estimativa de quantos usuários a mais o cartão terá. Certo mesmo é que a mudança foi aprovada pelos empresários do Rio. Em janeiro, o chefe da Casa Civil, Régis Fichtner chegou a sugerir que as empresas reembolsassem os empregados quando eles não conseguissem realizar duas viagens em duas horas. A Fecomércio comemorou a novidade. “Agora, uma pessoa que vai contratar um empregado vai se importar menos com o local onde ele mora”, afirmou Marcos Neves, coordenador de Relações Institucionais da federação.
Ele ainda aguarda com expectativa a implementação do bilhete único municipal. O projeto que o cria já foi enviado à Câmara Municipal. Seu texto permite duas viagens em duas horas, ao
custo de R$ 2,40. O benefício não vai servir para coletivos com ar-condicionado e deve entrar em vigor em setembro.
Até R$ 250 milhões de subsídio às empresas
A ampliação do prazo para a realização dos dois embarques com o Bilhete Único não deve sair de graça. Orçados inicialmente em R$ 220 milhões por ano, os subsídios pagos pelo Estado às empresas de transporte podem chegar a até R$ 250 milhões, segundo estimativas do próprio governador.
“Eu estava prevendo
investir R$ 200 milhões, mas pode chegar a R$ 220, 230, 250 milhões. Mas vou atender a toda a população dessas 20 cidades da Região Metropolitana. Esse é o nosso foco. Isso é mais importante. Faremos esse esforço”, comentou Sérgio Cabral. Em quase cinco meses de funcionamento, o Bilhete Único já custou aos cofres do Estado cerca de R$ 66 milhões em subsídios.
O valor representa gastos de R$ 60,43, em média, feitos para cada usuário desde a sua implantação. A planilha de custos do benefício, entretanto, ainda é motivo de polêmica.
Deputados da oposição afirmam que nenhum tipo de estudo técnico foi apresentado a eles para justificar os valores dos repasses feitos pelo poder público. “Sou a favor do Bilhete Único. Só não concordo com a falta de transparência do estado. Ainda não apresentaram as justificativas desses gastos e, agora, querem ampliá-los novamente sem qualquer explicação”, criticou o deputado Alessandro Molon (PT).