Filiais de ricas indústrias do País, gigantes da siderurgia e até a Casa da Moeda do Brasil se uniram para tentar solucionar um problema antigo: o caos no transporte público na Zona Oeste. O setor não acompanhou o crescimento da região e obrigou empresas a cumprir o papel do poder público, oferecendo transporte coletivo a seus empregados. A Casa da Moeda, por exemplo, gasta R$ 6,7 milhões por ano com ônibus fretados para dois mil funcionários e lidera um grupo de 13 empresas que já levaram suas reivindicações ao prefeito. Gerdau, Michelin e CSA também têm esquema próprio de transporte. Eduardo Paes receberá, ainda este mês, um projeto encomendado pelo Rio Ônibus a uma empresa especializada, que vai propor a construção de quatro terminais rodoviários e mudanças nos itinerários e na política tarifária das empresas de ônibus, que poderão alterar — para cima ou para baixo — o preço das passagens.Enquanto os planos não saem do papel, as reclamações não param. Levantamento da Ouvidoria da Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) dá uma ideia de como é cheio de ‘buracos’ o caminho de quem mora ou trabalha na Zona Oeste e sonha com transporte público de qualidade. Mas os problemas não se limitam aos ônibus. Quem depende dos trens do ramal de Santa Cruz está longe de ter conforto. Para chegar às 8h30 no Engenho de Dentro, a operadora de caixa Tainá Duarte, 20 anos, sai de casa, em Inhoaíba, com quase duas horas de antecedência. “Como não consigo lugar sentada, tento ficar encostada na porta, com medo de ser abusada por homens que se aproveitam da superlotação para passar a mão nas mulheres”, diz. As 10 empresas de ônibus que circulam na região somaram, em 2008, 4.624 reclamações na SMTR. Uma parte delas foi feita pela vendedora Viviane Ferreira, 38. Moradora de Realengo, ela entra no trabalho, em Botafogo, às 10h, e para não se atrasar tem que sair de casa às 6h. Por dia, Viviane pega cinco ônibus e gasta seis horas. Luxo é conseguir viajar sentada até o Centro. “Trabalho oito horas em pé, por isso me esforço para ir sentada. É o único momento que tenho para descansar”, conta. Para disputar um dos assentos da linha S-13 (Bangu-Tiradentes), ela se obriga a retornar até Bangu — ponto final do coletivo — e depois pega o caminho de volta para o Centro. “Essa rotina acaba com a minha qualidade de vida. Se houvesse mais coletivos os passageiros teriam mais conforto”, sugere.
Mais terminais e linhas expressasDe acordo com o vice-presidente do Rio Ônibus, Octacílio Monteiro, uma das saídas seria criar terminais em Santa Cruz, Campo Grande, Bangu e Deodoro, com linhas expressas, ligando esses bairros ao Centro (possivelmente ao Terminal Procópio Ferreira, que seria reformado), além de linhas para a Barra (Terminal Alvorada) e outras para os mesmos destinos, cruzando os bairros ‘por dentro’. “O objetivo é reduzir os intervalos e a superlotação. As viagens seriam mais rápidas e os passageiros teriam mais conforto”, aposta.