O BRT (sigla em inglês para transporte rápido por ônibus), que será inaugurado no próximo dia 15 em Belo Horizonte, vem sendo adotado no Brasil e no mundo como uma das soluções em mobilidade urbana. O sistema consiste basicamente em criar faixas exclusivas para ônibus, com mecanismos parecidos com os usados no transporte sobre trilhos, como o embarque a partir de plataformas. Entretanto, dois exemplos já conhecidos de BRT no país, o de Curitiba (PR) e o do Rio de Janeiro (RJ), são alvos de duras críticas por conta da superlotação e da falta de segurança – a reportagem ouviu pelo menos dez usuários e analistas em transporte de cada cidade.
Em Curitiba, primeira cidade do mundo a ter o serviço, o transporte é referência há 40 anos por sua agilidade, tecnologia e integração com a região metropolitana. Porém, o BRT já não comporta a demanda de cerca de 20 mil passageiros por hora nos horários de pico. Tanto que um dos principais trechos, que liga o centro à zona Sul da capital paranaense, será substituído pelo metrô, conforme projeto já em andamento.
Na cidade do Rio de Janeiro, a Transoeste – a primeira de quatro linhas em construção – foi inaugurada há um ano e meio e já nasceu saturada, segundo usuários e engenheiros. A prefeitura chegou a multar em R$ 50 mil a concessionária pela falta de coletivos em circulação e a má conservação das estações. O alto índice de atropelamentos, motivado por falhas no projeto, também se tornou uma marca – em um ano de funcionamento, foram dez mortes –, além dos defeitos no asfalto das faixas exclusivas.
O mesmo prognóstico de lotação é feito em Belo Horizonte por engenheiros civis, que consideram o sistema limitado para a alta demanda das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado (leia mais na página ao lado).
O professor de engenharia de transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Cezar Ribeiro diz que, para cada demanda, há um meio de transporte adequado. “O BRT, aliado à alta tecnologia, é muito bom, além de barato. Mas ele não suporta mais do que 20 mil passageiros por hora”, afirma. Para demandas maiores, ele sugere o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que carrega 30 mil usuários por hora, e o metrô, que pode chegar a 80 mil.
CUSTO. Entretanto, o BRT tem se mostrado mais atrativo pelo baixo custo de execução – dez vezes menor que o do metrô. “O BRT é a solução para acentuar o monopólio rodoviário, e quem paga por isso é o usuário”, declara Fábio Tergolino, do movimento O Metrô que o Rio Precisa.
Até mesmo o presidente da Urbanizadora de Curitiba (Urbs) – responsável pelo BRT, Roberto Gregorio, admite que o sistema tem limitações. “Não teríamos condições de chegar a 50 mil passageiros por hora. Como nossa capacidade operacional chegará ao limite em cinco anos, estamos optando pelo metrô”, argumenta.
Sobre a lotação atual, ele diz que a introdução de mais ônibus não resolve. “Estamos estudando uma tarifa sazonal, com desconto para quem usar o ônibus fora do horário de pico”, completa.
Outras cidades
Copa do Mundo. Entre as obras de mobilidade para a Copa, o BRT foi o preferido pelos governantes. Além de Belo Horizonte, Curitiba e Rio, que estão com obras, Fortaleza, Porto Alegre e Recife também vão implantar o sistema.
Problemas de planejamento e de atualização comprometem o serviço
“O sistema em si é bom, mas faltam ônibus”, diz Henrique Costa, 26, que trabalha com exportação em Curitiba. A visão dele sobre o BRT parece unânime entre os curitibanos. Todos gostam do transporte, que chega a ser um atrativo turístico da cidade, como diz Aline Motter, 28, proprietária de um hostel: “Os hóspedes elogiam, até mesmo os estrangeiros. O BRT me ajuda nos negócios”, relata.
Por outro lado, o sistema é criticado pela lotação nos horários de pico. “É preciso aumentar a capacidade das vias exclusivas do BRT”, sugere Garroni Reck, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Já no Rio, os problemas vão desde a superlotação até a demora entre um ônibus e outro, além da má qualidade do serviço. O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, destaca ainda a sinalização falha. “Houve uma série de erros, como a falta de um isolamento físico entre as faixas”.
Por Luciene Câmara
Informações: O Tempo
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