Após uma leve melhora em 2011, a velocidade média nos corredores de ônibus de São Paulo voltou a cair no ano passado, nos horários de pico da manhã e da tarde.
A piora foi mais sensível na volta para casa. No período da tarde, a velocidade chegou a 13,4 km/h, uma queda em relação tanto a 2011 (15 km/h) e quanto a 2010 (14,2 km/h).
De manhã, em direção ao centro, os ônibus imprimiram em média uma velocidade de 13,8 km/h, exatamente a mesma que levou o russo Sergey Kirdyapkin a vencer a marcha atlética nas Olimpíadas de Londres, no ano passado.
A piora atingiu 7 dos 10 corredores no período da manhã e 8 deles à tarde.
Em seis corredores a velocidade ficou abaixo da considerada razoável por especialistas, 13 km/h, no rush da manhã ou da tarde.
A velocidade dentro dos corredores ficou 6,3% inferior à média imprimida pelos ônibus em todo a cidade no ano passado -incluindo os ônibus que transitam junto com os demais veículos.
Pesquisas em anos anteriores apontavam relação inversa: os ônibus circulavam mais rápido nos corredores.
CURRAL
Para especialistas, essa lentidão pode ser explicada por fatores como a falta de áreas para ultrapassagem.
"O corredor deveria estar acelerando os ônibus, mas ele se tornou um grande curral de confinamento", diz Horácio Figueira, mestre em transportes pela USP.
Ele sugere que a ultrapassagem por fora da faixa exclusiva seja liberada.
Outros gargalos citados por especialistas são a falta de semáforos inteligentes -que reduzem o período de sinal vermelho de acordo com o fluxo da via-o uso dos corredores por táxis e o sistema de cobrança dos ônibus, que aumenta o tempo de parada dos veículos nos pontos.
"Com o modelo vigente, de pagamento da passagem dentro dos ônibus, se perde muito tempo no embarque e desembarque, o que só aumenta a fila de veículos", afirma Luiz Carlos Néspoli, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).
A morosidade atinge todos os corredores, mas é mais sentida no Santo Amaro, onde a velocidade caiu pela metade. O motivo nesse caso foram as obras da linha 5 do metrô, que começaram em setembro.
TEMPO
A baixa velocidade se reflete em insatisfação dos passageiros. O tempo de espera pelos ônibus recebeu nota 4 de 10 em levantamento divulgado pela Rede Nossa São Paulo em janeiro.
Foi a segunda pior avaliação desde a primeira edição da pesquisa, em 2009.
Prefeitura planeja 'metrorizar' transporte
DE SÃO PAULO
O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, diz que sua "prioridade número um" são os ônibus e que sua meta é elevar a velocidade média deles para 20 a 25 km/h.
A principal medida até agora foi reorganizar as áreas de ação da CET. Antes, elas abrangiam regiões da cidade. Agora, são organizadas a partir dos corredores viários.
"Cada área terá um gerente da CET e alguém da SPTrans [empresa que gerencia o transporte por ônibus], que vão trabalhar juntos para garantir a velocidade dos ônibus."
Outra grande mudança só virá com a nova licitação do transporte que vai reorganizar o sistema para eliminar linhas sobrepostas e aumentar ligações entre os terminais.
"A ideia é 'metrorizar' os corredores", diz. "Se a velocidade aumentar, passa a competir com o Metrô. Na hora que o usuário perceber que ganha dez minutos por dia, é natural que ele comece a migrar."
Para isso, o plano é construir 14 terminais urbanos, que devem ser entregues, por concessão, à iniciativa privada.
Outras promessas são novos modelos de corredores, com áreas para ultrapassagem e cobrança nas paradas, e a troca da rede de semáforos, que poderão ser programados para priorizar a fluidez do transporte coletivo.
A campanha petista prometeu a construção de 150 km de vias exclusivas. Tatto diz que pode superar a meta. "Depende de verba, mas estamos preparando para mais 120 km."
Por André Monteiro
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