Estudo realizado pelo especialista em transportes e trânsito, Adriano Murgel Branco, que foi secretário municipal e estadual dos transportes nos anos de 1970 e 1980 dá uma dimensão deste gasto: só na cidade de São Paulo, são literalmente queimados nos motores ligados parados no congestionamento R$ 40 bilhões por ano. O número é maior que os R$ 38 bilhões do orçamento anual da Prefeitura de São Paulo, a que mais arrecada em todo o País.
Para chegar a este valor, Adriano Murgel Branco levou em consideração gastos como combustível queimado inutilmente nos veículos parados, perda de produtividade do trabalho, pelo fato de os empregados ficarem cansados no trânsito, aumento nos custos de operação dos transportes coletivos e os impactos ambientais.
O valor pode ser até maior se forem levados em consideração outros aspectos, como gastos em acidentes, necessidade da contratação de um maior pessoal e estrutura para tentar organizar, mesmo que o mínimo possível, as condições de trânsito.
Os gastos com combustíveis foram baseados em dados do rodízio municipal de veículos.
Para o especialista, a única forma de garantir rapidez nas viagens dentro das cidades, poupando o tempo do trabalhador e estudante, reduzir gastos à toa e melhorar as condições de vida da população é o investimento em transporte público.
Mas São Paulo e outras cidades precisam de soluções urgentes e de fácil implantação sem impactar demasiadamente os cofres públicos.
E para o especialista, o melhor modelo é o de corredores de ônibus.
Os corredores na prática oferecem prioridade não aos ônibus, mas a quem colabora com a cidade deixando o carro em casa ou mesmo para as pessoas que não tem condição de possuírem um veículo próprio.
Além disso, os BRTs – Bus Rapid Transit – sistemas de ônibus de trânsito rápido – oferecem modernidade e acessibilidade, com veículos e estações dotados de tecnologia para isso: são ônibus com suspensões mais macias, maiores por poderem usar um espaço exclusivo, substituindo além de vários carros de um só vez outros ônibus de menor porte, com maior espaço interno e informações em tempo real para passageiros e motoristas. Quanto às estações, o passageiro fica totalmente protegido da luz do sol ou então da chuva, o piso é no mesmo nível do assoalho do ônibus dispensando o uso de degraus e há o sistema de pré – embarque, pelo qual o passageiro paga a tarifa com mais tranqüilidade e por meios eletrônicos na estação, antes de entrar no ônibus, o que diminui o tempo de parada os veículos, aumentando a velocidade operacional, e o incômodo de ter de procurar dinheiro ou mesmo se equilibrar com o cartão e o bilhete na mão com o ônibus já em movimento.
Adriano Murgel Branco não dispensa que a implantação de modais como o metrô é necessária, mas ressalta que os problemas são urgentes e necessitam de soluções urgentes.
Além disso, se bem elaborado um plano de transportes, nunca o BRT e o Metrô vão concorrer e sim um complementar o serviço do outro.
O metrô demora em média 9 anos para ter 10 quilômetros prontos enquanto um BRT completo leva 2,5 anos pelo mesmo trecho.
Não se trata de comparar um modal ao outro apenas por estes dados, já que cada um tem uma aplicação.
Mas a questão do trânsito nas cidades é urgente e os corredores de ônibus são respostas rápidas. Além disso, seus investimentos não anulam os do metrô.
A urgência se mostra, por exemplo, pela evolução dos gastos com o trânsito.
Em 1999, Adriano Murgel Branco fez o mesmo estudo, que demonstrou que à época, o dinheiro desperdiçado com o trânsito chegava a 22 bilhões.
Hoje, os gastos chegando a R$ 40 bilhões quase dobraram e tendem a aumentar se o transporte coletivo não for priorizado, afinal, cada vez mais existe um número maior de carros e demanda por transportes que devem receber investimentos condizentes com as realidades financeira e de espaço das cidades.
ADAMO BAZANI, JORNALISTA DA RÁDIO CBN, ESPECIALIZADO EM TRANSPORTES.
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