A poluição do ar e seus efeitos sobre a saúde dos paulistanos são mostrados no projeto RespirAR, uma série de reportagens especiais exibidas no Bom Dia São Paulo, Radar SP, SPTV 1ª edição e SPTV 2ª edição. Veja abaixo as questões enviadas na última semana e as respectivas respostas.
Continuam chegando muitas perguntas sobre a poluição no RespirAR. Em quatro meses de projeto, foram quase mil e-mails. Os assuntos mais comentados pelos telespectadores têm a ver com a saúde.
Todo mundo quer saber o que acontece com quem fica muito tempo respirando um ar poluído, o que a gente pode fazer para se proteger e como viver melhor nessa metrópole gigantesca. Para responder a essas e outras dúvidas o convidado é o professor Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição da USP.
Agosto de 2010 foi o mais seco dos últimos 67 anos, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. A gente vai entrar nessa fase crítica do inverno agora. O que é possível fazer pra não sentir tanto?
“É difícil a gente escapar, mas podemos dar umas dicas práticas. Beba mais água, coma mais frutas. Se tiver o olho seco, use mais aquela lágrima artificial. Pingue umas gotinhas, sem remédio, no nariz. Se puder escapar dos corredores de tráfego e mudar o horário de trabalho para evitar os picos de congestionamento, isso dá certo”, afirma Saldiva.
Professor, nessa época as pessoas acabam adoecendo mais. Aumentam os casos de asma e de infarto. A poluição contribui inclusive para a calvície.
“A poluição pode fazer mais coisas que a gente pensa. Isso, no fundo, é um sinal de que nossos pequenos vasos, como os que, por exemplo, nutrem o cabelo, os do rim, da retina e do pulmão, são afetados pela poluição, assim como o cigarro faz”, diz Saldiva.
Para comprovar que o ar respirado não é nada bom, foi feito um mapa da poluição na Grande São Paulo. Foram visitados quase 100 lugares e a pior situação foi registrada pelo Respirômetro no dia 11 de julho, na estrada do Alvarenga, na Zona Sul da capital.
Foram 699 microgramas de poeira por metro cúbico, 14 vezes mais do que a Organização Mundial da Saúde diz que a gente pode respirar em média em um dia inteiro, que é de até 50 microgramas. Essa medição foi feita de manhã, quando geralmente a poluição é menor.
O ar também estava carregado na Estrada do Campo Limpo, onde o índice chegou a 582 microgramas de poeira por metro cúbico às 12h, no dia 16 de junho.
Ao longo desses quatro meses, dissemos que quanto mais verde, menos poluição. E isso tem a ver com a pergunta de dois telespectadores. Valdir Conceição da Silva e José Rodrigues Neto moram em Parelheiros, na Zona Sul. Eles notaram que, nas medições mostradas no SPTV, a qualidade do ar por lá sempre está ruim ou péssima, e perguntam: por ser uma região arborizada, não deveria acontecer o contrário?
“O problema é que a poluição, às vezes, trazida pelo vento de outros lugares. No caso da Zona Sul, vem um pouco de Cubatão, da Anchieta, da Imigrantes e do grande trânsito de veículos antigos que existe lá. Se não tivesse esse verde, a situação seria muito pior”, diz Saldiva.
Outro assunto bastante comentado nos e-mails é a superlotação nos ônibus, nos trens da CPTM e no Metrô. Não é de hoje que a população reclama, e com razão. Todo mundo concorda que um transporte público de qualidade é uma das armas contra a poluição. Mas como convencer essas pessoas a deixarem o carro em casa, professor? A abrirem mão do conforto?
“Ninguém vai abrir mão do conforto. O transporte coletivo tem que dar conforto e eficiência. Ele tem que ser confortável e mais rápido. Assim, as pessoas vão naturalmente abandonar aquele carro que está parado, sem ir para lugar nenhum, por uma coisa que ela viu passar do lado, com qualidade e maior velocidade. Lento por lento, eu vou no meu conforto. Isso é natural das pessoas“, afirma Saldiva.
Tirar todos os carros das ruas das grandes cidades é praticamente impossível, mas alguns países têm avançado muito no controle da poluição. A União Europeia deu um prazo até 2013 para que as emissões de poluentes baixem para 10 microgramas por metro cúbico. Essa é uma meta bem mais radical que a que deve entrar em vigor no estado de São Paulo, de 120 microgramas por metro cúbico. Por lá, o país que não cumprir vai pagar multas de 40 milhões de euros, cerca de R$ 100 milhões.