Todos os dias, por volta de meia-noite, o garçom Francisco Diego Costa, 24, espera a condução na Avenida Alberto Magno, no bairro Montese, para voltar do trabalho para casa. Uma espera, que muitas vezes, pode durar até mais de uma hora, caso ele perca o horário do ônibus. Assim como ele, diversos fortalezenses que contam com o transporte coletivo da Capital sofrem quando precisam utilizar o serviço altas horas da noite, especialmente durante as madrugadas.
Em geral, funcionários de restaurantes e outros estabelecimentos comerciais são os principais usuários de transporte público depois das 23h. Alguns recorrem aos mototáxis, que chegam a cobrar mais caro neste horário Foto: Tuno Vieira
A Cidade que praticamente não para, e com uma população que se mostra cada vez mais ativa, tem cerca de um milhão de pessoas dependendo do transporte coletivo. No entanto, da frota de 1.800 ônibus, 265 linhas atendem a Capital, com apenas 22 delas atuando como corujões, de acordo com dados da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor). Enquanto essa realidade não muda, os usuários dão seu jeito no retorno para casa.
Apreensivo, Diego anda de um lado para outro à espera da linha de corujão que passa no seu bairro, o Conjunto Ceará. Prefere ficar na esquina, um pouco afastado do ponto, como estratégia de segurança. "Já fui assaltado, então fico na esquina porque me dá uma visão melhor de quem vem pelas ruas laterais", afirma.
A espera, diz ele, é sempre solitária e temerosa, em virtude do avançado da hora e do movimento na via ser quase nenhum. Segundo ele, o corujão que pega costuma passar no local às 12h05, mas quando perde, o próximo chega apenas à 1h20. "Muita gente trabalha até mais tarde, especialmente em restaurantes, então acho que deveria haver uma frota maior", avalia.
Caso parecido vive o músico Felipe Rocha, 28, todas as quintas-feiras, quando sai do trabalho à meia-noite. Nas vezes em que chegou tarde à parada e perdeu o ônibus, chegou a esperar quase uma hora pelo próximo. "Já pedi meu pai para vir me pegar ou fui embora de táxi", revela ele.
Terminais
Movimento considerável é registrado nos terminais de ônibus da Capital, mesmo no início da madrugada, e em geral, formado por profissionais de restaurantes e demais estabelecimentos comerciais. No da Parangaba, além da demora, a queixa dos usuários é sobre a disponibilidade de linhas.
É o caso da operadora de caixa Francisca das Chagas, 21. Saindo do supermercado onde trabalha às 23h30, na Varjota, ela chega no terminal por volta de 00h10. A linha de corujão que a jovem utiliza para ir para casa chega no local 1h10, contudo, não é a ideal para ela, que mora no bairro Itaperi, bem próximo à Parangaba. "Pego a linha que vai para o José Walter e o Planalto Airton Sena para daí, no retorno ao terminal, ficar mais próximo de casa. Chego por volta de 2h da manhã", destaca.
A alternativa, conforme ressalta, é a única possível, já que das quatro linhas regulares que saem do terminal em direção a sua casa, nenhuma dispõe de corujão. "Depois de trabalhar, é muito cansativo para mim passar por esse roteiro. Fico me perguntando o motivo de nenhuma dessas linhas ter corujão".
Cansados de esperar, os que dispõem de condições muitas vezes recorrem aos mototaxistas. Alguns, no entanto, se aproveitam da situação e cobram mais caro, é o que diz a cozinheira Antônia da Silva, 31. "É de R$ 25 a R$ 30 e alguns se recusam a ir dependendo do local onde você mora", ressalta. Para ela, moradora do Conjunto Esperança, a linha disponível não atende a expectativa, pois a deixa a alguns quarteirões de sua casa. "A que passa em frente onde moro não existe esse horário".
A Etufor destaca que estudos estão sendo realizados para a promoção de novas linhas e redimensionamento dos corujões já existentes.
Ainda de acordo com o órgão, atualmente, apenas 2,1% dos usuários utilizam o transporte público entre 00h e 5h.
Projeto
Está em análise na Câmara dos Deputados em Brasília o Projeto de Lei 5122/13 que prevê o funcionamento 24 horas do transporte público em cidades com mais de 300 mil habitantes. Apresentado pelo deputado Ricardo Izar (PSD-SP), o projeto prevê a operação, também, de trens e metrôs durante 24 horas nos fins de semana.
A justificativa é que, com a Lei Seca, há uma demanda maior por transporte público na madrugada, além do trabalho noturno, as opções de lazer que vão até depois da meia-noite e, sobretudo, o direito do cidadão acessar a cidade a qualquer hora. A proposta será analisada por três comissões: Viação e Transportes, Constituição e Justiça e Desenvolvimento Urbano. Se aprovada, as cidades terão 120 dias para começarem a cumprir a Lei.
Por Renato Bezerra
Informações: Diário do Nordeste