Em meio a recordes de calor em São Paulo, a Prefeitura promete tornar obrigatório o ar-condicionado em ônibus e micro-ônibus de transporte coletivo. De acordo com o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, a exigência fará parte dos novos contratos do sistema e já valerá antes do lançamento da licitação, previsto para este semestre. Uma medição feita pelo Estado ontem aponta que um veículo sem o equipamento pode ficar até 12°C mais quente.
Segundo Tatto, a mudança tem por objetivo oferecer mais conforto aos passageiros, evitando que sofram com o calor durante o percurso. "Primeiramente, nós estamos preparando o processo licitatório e isso (exigência do ar-condicionado) vai estar na próxima concessão. Independentemente disso, nós determinamos que os ônibus que estão entrando, e os novos que vão entrar, mesmo antes do processo licitatório, tenham ar-condicionado”, informou o secretário durante a entrega de obras viárias na zona leste, na sexta-feira, 16.
Teste. Uma medição feita pela reportagem na tarde desta terça-feira, 20, constatou que os usuários de ônibus sem ar-condicionado estão submetidos a temperaturas mais intensas. Enquanto em um veículo refrigerado o termômetro marcava 26,6°C, entre 14 e 15 horas, em outro, sem o equipamento, o calor era de 38,8°C. Os testes foram feitos em ônibus da linha 809P (Terminal Campo Limpo-Terminal Pinheiros) e a margem de erro do equipamento usado é de 1,5°C, para mais ou para menos.
"A diferença é muito grande. Basta entrar aqui que já sente o mormaço”, disse o office-boy Douglas Ferreira, de 18 anos, que utilizava um ônibus sem a refrigeração. "Todos deveriam ter ar-condicionado há muito tempo”, reclamou.
No mesmo veículo, o operador de paginação José Marcos Santos, de 47 anos, concordava. "Já vi muita gente passando sufoco por causa do calor.”
A auxiliar de enfermagem Erbênia Silva, de 63 anos, teve mais sorte: conseguiu embarcar em um ônibus refrigerado. "É muito mais confortável, lá fora eu estava pingando de suor. Andar no calor é muito desagradável”, disse.
Atualmente, há somente 60 ônibus com ar-condicionado circulando pela capital paulista, de acordo com dados oficiais da São Paulo Transporte (SPTrans). Ou seja, apenas 4 a cada mil veículos da frota, de cerca de 14.800 ônibus, estão equipados com refrigeração.
Segundo a empresa, esse número deve aumentar para 110 neste primeiro semestre. Até o fim do ano, a estimativa é de que ao menos mil veículos com ar-condicionado circulem em todas as regiões da cidade, mas ainda não há uma estimativa de prazo para que a frota seja completamente renovada.
Os primeiros 20 ônibus equipados passaram a circular em setembro, todos da Viação Campo Belo, e tiveram boa aceitação dos usuários. Atualmente, as Viações Sambaíba e Via Sul também dispõem de veículos com ar-condicionado em circulação, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss).
De acordo com o sindicato, cada unidade de refrigeração custa cerca de R$ 45 mil - nos veículos maiores, como os "superarticulados”, é preciso instalar duas delas. Os custos com a manutenção e o consumo de combustível também sofreriam alterações.
"Se todos tivessem ar-condicionado, eu deixaria o carro em casa”, comentou o empresário Carlos Eduardo Oliveira, de 35 anos, que precisa usar terno para trabalhar e evita chegar suado nas reuniões. Por causa da temperatura alta e do tempo abafado, também diz ter visto muitas pessoas passarem mal. "É ótimo, até pelo preço que a gente paga na passagem”, afirmou a recepcionista Ana Amancio, de 21 anos. "Quem usa transporte público todo dia prefere conforto.”
As gestões Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (PSD) também tentaram implementar ônibus com ar-condicionado, mas não tiveram sucesso. Uma pesquisa da própria SPTrans, feita em 2009, apontou que 86% dos usuários de ônibus preferiam temperatura ambiente e eram contra a instalação do equipamento.
Procura. Nenhuma nova pesquisa foi feita, mas a SPTrans afirma que o panorama mudou e hoje os passageiros preferem esperar no ponto por um veículo com ar-condicionado. A empresa destaca o aumento de 20% na demanda, percebida nos ônibus refrigerados que passaram a circular desde setembro - informação confirmada pela SPUrbanuss.