Correria, tiros de bala de borracha, bombas de gás lacrimogênio, discussão entre manifestantes e populares, prisões e choro de quem viu de perto os confrontos entre estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e policiais do Batalhão de Missões Especiais (BME) pelas ruas de Vitória nesta quinta-feira (2). Os confrontos começaram no início da tarde e terminaram no início da noite. Importantes avenidas foram obstruídas no Centro e na Zona Norte e até o acesso à Terceira Ponte foi interrompido no período da noite.
Ao todo, 25 manifestantes foram detidos. Os estudantes protestaram pela redução da tarifa de ônibus no sistema de transporte coletivo da Grande Vitória. Estima-se que pelo menos 1,3 milhão pessoas foram prejudicadas de alguma maneira, entre motoristas e passageiros de ônibus. A informação é da Secretaria Estadual de Transportes.
Tiros, pedras e porretes
Avenidas ficaram congestionadas e pontos de ônibus lotados. "Eu acho que não pode haver uma obstrução dessas com tanta gente precisando de chegar a algum lugar. Um protesto assim não é justo", afirmou o engenheiro José Glaudio, de 56 anos.
Após uma manifestação ocorreu o primeiro confronto no Centro de Vitória. Um integrante do protesto foi ferido com tiro de bala de borracha. Policiais foram alvos de paus e pedras. No rastro do combate, janelas do Palácio Anchieta tiveram vidros quebrados.
Governo quer diálogo, mas diz que não vai atender às reivindicações
O governo do Estado afirmou que continua aberto ao diálogo, mas já adiantou que não pretende atender às reivindicações dos manifestantes, que pedem a redução do preço da passagem, passe livre para todos os estudantes e a criação de uma CPI do Transporte.
"Não existe expectativa de redução das tarifas. O Sistema Transcol funciona de forma equilibrada, e o preço da tarifa é calculado com base na quantidade de usuários e os custos do sistema", afirmou Fábio Damasceno, secretário estadual de Transporte e Obras Públicas (Setran).
Apesar de reprimir os protestos com a ação do Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar, o governo insiste em negociar o fim das manifestações.
"Desde o início do governo, nós já realizamos três reuniões com os estudantes e outras entidades. Não recebemos nenhuma solicitação de diálogo prévio, antes da manifestação. Mesmo assim, o governo continua aberto a negociar. Hoje (ontem), o governo tentou conversar com os manifestantes, mas não teve retorno", completou Fábio.
Criticado por movimentos sociais e pelos próprios manifestantes o governo justificou a ação do BME, dizendo que os policiais não agiram de forma abusiva, nem com truculância. "A decisão foi baseada no fato de que muitas pessoas estavam paradas no trânsito há quase 5 horas. Ambulâncias não conseguiam transportar doentes. Não podemos permitir que o protesto de 50 pessoas prejudique 1,3 milhão de pessoas", disse.
Prometeu também identificar e punir os manifestantes que teriam destruído o patrimônio público. "Os policiais foram recebidos a pedradas e três deles foram feridos. Além disso, os manifestantes quebraram calçadas e os vidros da fachada do Palácio Anchieta, que é um patrimônio nacional", completou o secretário.
E diante da possibilidade de novas manifestações nesta sexta-feira, o governo se limitou a dizer que continua disposto a negociar e afirmou que vai continuar monitorando a ação dos manifestantes com a ajuda do BME.
O que eles querem. O que o governo fala