Ao invés dos desejados 30% de reajuste salarial, a justiça determinou 10% para os rodoviários capixabas. Para os tíquetes-alimentação, 5,39% de aumento. Essas e outras 50 cláusulas foram julgadas nesta terça-feira (30) no Tribunal Regional do Trabalho. Em virtude da decisão, antes mesmo do fim da sessão, os rodoviários iniciaram protestos pelas ruas do Centro de Vitória e ruas da Grande Vitória. A promessa é de greve generalizada a partir desta quarta (01).
No entanto, na noite desta terça todos os coletivos já circulavam som cobradores. O julgamento do dissídio coletivo começou às 14 horas no TRT. Mas a confusão do lado de fora da justiça do Trabalho começou pouco mais de uma hora depois. O relator do processo, desembargador Jaílson Pereira da Silva, acompanhado pela maioria dos 11 desembargadores que integram o pleno do TRT, votou pelo reajuste de 10%. Com o percentual, bem abaixo do exigido pela categoria, a revolta foi total quando ouviram do relator que não era necessário o reajuste dos tíquetes-alimentação.
Com gritos e palavras de ordem, como "Vamos! Vamos parar tudo!" e "Categoria unida jamais será vencida", os protestantes fecharam as avenidas Princesa Isabel e Beira-Mar, no centro da capital, pararam um ônibus articulado que passava e ordenaram que os passageiros saíssem. Um passageiro que se recusou a atender a determinação afirmou ter sido agredido e teve de ser escoltado pela polícia para não sofrer represálias de motoristas, fiscais e cobradores.
Revoltado, o motorista Vilson Balbino, 54 anos, contestou. "Há 11 anos estou nessa categoria e nunca vi nada igual. Antes as coisas se resolviam entre sindicado, empregado e patrão, hoje em dia TRT se mete na história. Por que? Com esse salário de merreca... Descontam tudo e não temos nada. Sobra em torno do que depois dos descontos? Uns R$ 400,00. Dá para viver com isso como?".
"Por que acontece isso se o transporte é importantíssimo para a economia e para a sociedade? Ao invés de dar 17% de aumento para juiz, qual a razão de não legalizar a nossa profissão com salário digno, com plano de saúde e tudo que queremos? Se acontecesse isso, essa greve acabaria", acrescentou o motorista Rafael Costa.
Na última parte do dissídio, quatro horas após o início do julgamento, a presidente do TRT foi comunicada pela Polícia Militar que os motoristas já estavam recolhendo os ônibus às suas garagens e deixando de atender a população. Ao mesmo tempo o relator fazia a leitura do pedido de que ao fim da decisão voltasse 100% da frota. E que, a cada dia não cumprido, fosse cobrado R$ 30 mil de multa do sindicato.
Dos sete votantes, cinco foram favoráveis e foi acrescida a decisão da responsabilidade solidária dos diretores do sindicato para que também sejam penalizados pela greve, que a partir deste momento configura como abandono de emprego, segundo a desembargadora. Ela completou que, em caso de descumprimento, entrará contra o Sindirodoviários para que hajam represálias tais quais a demissão dos diretores por justa causa e penhora dos bens para arcar com as multas.
Ao fim da sessão os diretores do sindicato demonstraram perplexidade da decisão, pois alegavam que 50% dos trabalhadores estavam em casa e não tinham como ir imediatamente de volta aos seus postos. Todos os presentes dirigiram-se à Praça Getúlio Vargas onde houve uma assembléia na qual, em discordância ao Sindirodoviários, os trabalhadores mantiveram a greve de 50% por hoje e, a partir da meia-noite, está prevista uma greve geral.