A dica dos passageiros: tem que ter disposição! São 5h e o pintor Júlio César de Araújo está na fila para entrar no ônibus, mas sabe que precisa se preparar para correr. O ônibus para na plataforma e, 15 segundos depois, está lotado. Até o trabalho, numa oficina em Ondina, o desconforto é enorme. Afinal, ele divide espaço com pelo menos mais 100 passageiros, que invadem o carro por portas e janelas. Como ele consegue?
“Rezando. Muitas vezes, chego atrasado no trabalho e o patrão não gosta. Ele não quer saber o motivo do atraso. Sabe apenas que não cheguei no horário e a lenha desce. É um sacrifício diário”, conta.
Júlio é um dos 120 mil passageiros que utilizam o terminal de transbordo — por ser uma estação, não há cobrança de passagem — diariamente e sofre com o descaso e a desorganização. No cenário de guerra, é com socos e pontapés e até mordidas que os usuários lutam por um lugar.
Além da reordenação das linhas, o controle dos veículos que fazem o transporte coletivo também vai aumentar. “Queremos uma fiscalização online. Com o GPS, podemos saber se o carro está no itinerário certo, usando a faixa correta das vias e, assim, causando menos engarrafamentos e transtornos”.
Se grávidas e idosos não tem privilégios, mulheres com crianças no colo e portadores de necessidades especiais muito menos. A doméstica Marcela Oliveira dos Santos, 29 anos, tem um bebê de 10 meses. Como não tem com quem deixar a criança, ela leva o filho para o trabalho.
A peregrinação começa às 5h30, quando acorda. Ela precisa chegar no trabalho, na Barra, às 7h. Para ela, se as filas fossem organizadas e o número de ônibus maior, ela teria uma hora e meia a mais no dia para o filho. “E o pior: os motoristas não abrem a porta e os fiscais não ajudam. Hoje, um dos orientadores disse que vai me ajudar porque vocês, repórteres, estão aqui. Caso contrário, eu não teria condições de pegar o ônibus”.
Marcela ensina a estratégia que ele adotou para conseguir entrar nos veículos com o filho. “Fiz amigos. Muitas pessoas que estão na fila hoje, estarão amanhã. Eles me veem com a criança nos braços e acabam abrindo espaço e formando um cordão em minha volta, protegendo meu filho. O que mais me revolta é ter que enfrentar a multidão, enquanto o motorista abre a porta da frente para amigos”.
O cobrador Aloisio Gomes, que trabalha na linha Barra 3, admite que o sistema de transportes falha, mas atribui a maior parcela de culpa aos usuários. 'Entendo que 64,3% dos problemas aqui são causados pela má educação dos passageiros', completa.






