Sempre que se fala em transporte coletivo em Porto Alegre complementa-se a frase com "de qualidade". Ora, transporte público sempre deve ter qualidade, portanto, esse reforço bem que poderia ser um pleonasmo. Ou se tem qualidade ou o transporte coletivo deve ser aprimorado.
Quando Porto Alegre completou 100 anos, em 1872, tinha 44 mil habitantes. Uma viagem de ida e volta dos arraiais mais distantes até o Centro poderia levar um dia inteiro. Um tipo de gôndola apelidada de maxambomba circulou por volta de 1865, mas não teve muito sucesso e logo caiu em desuso.
No dia 19 de junho de 1872, porém, um decreto assinado por Dom Pedro II alteraria, significativamente, o cotidiano da cidade. É que foi concedida à Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense autorização para funcionar, por meio do Decreto nº 4.985.
A partir daí, o transporte coletivo da cidade foi evoluindo, dinamizando o contexto urbano e alterando o aspecto das ruas e dos futuros bairros. Em 4 de janeiro de 1873, a inauguração da primeira linha, a Menino Deus, foi motivo de festa com muita pompa e uma parelha de cavalos brancos no lugar das mulas. No dia seguinte, as mulas já pegaram no pesado, segundo dados da Carris.
Em 1895, ocorreram as primeiras experiências com a eletricidade, com a inauguração da usina termelétrica da Companhia Fiat Lux. Em 1906, as duas empresas de transporte de bondes - a Carris de Ferro e Carris Urbanos, fundada em 15 de janeiro de 1893 - se unem e formam a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, responsável pelo transporte elétrico e também pelo fornecimento de energia para a Capital.
Em 10 de março de 1908 circularam os primeiros bondes elétricos. Vieram da Inglaterra 35 veículos de quatro rodas e dois bondes modelo Imperial, com dois andares, conhecidos como Chopp Duplo. Os primeiros bondes elétricos trafegaram nas linhas Menino Deus, Glória, Teresópolis e Partenon.
Até 1970, os bondes levaram os porto-alegrenses para o trabalho, para as escolas, para a diversão, para os cinemas no Centro e nos bairros. Comprar ou alugar um imóvel "só se tivesse bonde na porta", expressão muito usada. O prefeito Telmo Thompson Flores, nomeado para governar a cidade entre 1969 e 1975, desativou os bondes, para tristeza de muitos.
Realmente, pelo menos uma linha histórica e circular, a do bonde Duque, poderia ter ficado como lembrança e atração turística. Há quase duas décadas que se fala em reativar um trecho de linha de bonde, mas nada é feito. Depois, o prefeito Guilherme Socias Villela implantou os corredores de ônibus.
Décadas após, a prefeitura está preparando os corredores para neles instalar o sistema de veículos rápidos e articulados. Mas a discussão sobre o transporte coletivo não acaba, pois a tarifa seria mais cara nos ônibus com ar-condicionado, alertam os técnicos, e as licitações feitas pela prefeitura não atraíram interessados. Gradativamente, após a década de 1950, surgiram empresas de ônibus que foram assumindo o serviço dos bondes.
Mas a tentativa de implantar ônibus elétricos, no final dos anos de 1950 e início de 1960, fracassou. Hoje, a Companhia Carris Porto Alegrense tem 383 ônibus nos quais foram instaladas três câmeras e uma na parte externa. As imagens são monitoradas por 13 servidores em cada turno. Transporte coletivo de qualidade, é isso que os porto-alegrenses sempre quiseram. Portanto, que se unam prefeitura e empresários em prol de um superior modelo.
Informações: Jornal do Comércio
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