Destinar um vagão só para mulheres como forma de evitar e diminuir o assédio sexual cometido durante as viagens e a ação dos chamados “encoxadores” nos trens e no metrô. A proposta, aprovada pelos deputados estaduais de São Paulo no dia 3 de julho, ainda não é lei e, mesmo pregando a separação de gêneros em um momento de luta por igualdade, já tem o aval da maior parte dos entrevistados pelo R7.
A reportagem percorreu estações de metrô e da CPTM na última terça-feira (8). A estudante Caroline de Oliveira Macedo, 21 anos, acha que a medida pode trazer melhorias.
— O metrô está tão lotado e o pessoal aproveita para ficar encostando. É desagradável para a mulher, mesmo quando o cara não tem maldade. Se não ocorresse tanto abuso, essa medida não seria necessária.
Rebeca Capelupo, 20 anos, também concorda com a criação do vagão.
— Quando pegamos o metrô, somos apertadas e empurradas na lotação, mesmo quando é sem querer.
Para a estudante Isabely Marcomini, 22 anos, a quantidade de abusos nos vagões vai ser reduzida caso a medida venha a ser aprovada.
Se o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sancionar a lei, o “vagão rosa”, como é informalmente chamado, será obrigatório em pelo menos um trecho das composições administradas pela CPTM e pelo Metrô. O projeto não passou por audiência pública, mas o autor do texto, o deputado Jorge Caruso (PMDB), acredita que a proposta será bem recebida pela população.
— Não recebemos queixas de entidades interessadas. Nos baseamos na repercussão das matérias jornalísticas sobre o tema nos últimos meses.
A recepcionista Sandra Rosa, de 30 anos, destoa do otimismo de Caruso.
— Acho esse vagão uma medida ridícula. É o homem quem tem se controlar, e não as mulheres serem excluídas.
A estudante Cinthya Silva, 23 anos, lembra que a medida já é aplicada na Índia, mas afirma que ela não trouxe benefícios às mulheres.
— Lá, a violência contra a mulher continua bem perceptível. Essa medida vai segregá-las ainda mais e não vai fazer com que os homens passem a respeitá-las.
A cena se repete diariamente: paulistanos se apertam para entrar no metrô e nos trens e, uma vez dentro, fazem uma viagem desconfortável, amontoados. Para algumas mulheres, o vagão exclusivo vai trazer segurança, como afirma a auxiliar de empresa Hilda Maria da Silva, 49 anos.
— Não vai ter mais a situação de os homens se aproveitarem que o vagão está lotado para abusar das mulheres.
A auxiliar administrativa Edileia Silva, 28 anos, também acredita que a viagem será mais segura. Ela diz ter presenciado um homem ser levado pelo guarda da CPTM porque assediou uma menina na frente da própria mãe.
O texto do projeto de lei diz que os meninos acompanhados por mulheres poderão viajar nos vagões exclusivos. Aos sábados, domingos e feriados, o uso ficará livre.
A atendente de lanchonete Hosana da Silva Rosa, 31 anos, vê vantagens, mas lembra que a medida tende a segregar.
— É bom, porque infelizmente tem muitos homens que não respeitam as mulheres. Porém, ao mesmo tempo, você cria uma sociedade separatista, e esse vagão não vai ser suficiente para tanta mulher.
A medida também é apoiada por homens, a exemplo do operador de produção Paulo Eduardo de Freitas, 32 anos, que usa trem e metrô.
— O vagão está cheio, apertado, e os homens se aproveitam da situação. A mulher não tem para onde correr.
Para a secretária Isabel Graciano, 29 anos, a medida impede o desrespeito.
— A maioria dos usuários é homem, e nem todos respeitam as mulheres.
Experiência no Rio
A estratégia pensada para São Paulo segue a experiência do Metrô do Rio de Janeiro, que reserva vagões para mulheres nos horários de pico. A analista financeira Michelle Guimarães, 32 anos, morava na capital fluminense e usava o vagão exclusivo.
— Era uma viagem mais tranquila.
A assistente de recursos humanos Camila Molinari, 27 anos, também usou o vagão no Rio.
— Acho uma boa. Óbvio que tem que haver punição para quem assediar a mulher. Não é uma forma de segregação, mas, sim, uma medida para solucionar um problema que existe.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do Metrô declarou que a medida "infringe o direito de igualdade entre gêneros à livre mobilidade".
Por Amanda Mont'Alvão Veloso
Informações: R7.com
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