A manhã desta terça-feira na Capital foi marcada por enormes congestionamentos nas principais vias da cidade. O motivo foi o teste para a aplicação de uma emenda do Estatuto do Pedestre, que estabelece o tempo mínimo de 30 segundos para a travessia nas faixas de segurança. Ao observar o caos em que se transformou o trânsito, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) suspendeu a avaliação por temor de que a situação se agravasse ainda mais no final da tarde. O teste deveria se estender pelo menos até quarta-feira.
O prefeito José Fortunati, após constatar as consequências da mudança, garantiu que a emenda será vetada. “Ficou claro que o tempo mínimo de 30 segundos bloqueia a cidade. Se o teste não tivesse sido feito, e a emenda tivesse sido apenas vetada, a metade do mundo cairia sobre a minha cabeça dizendo que não me preocupo com os interesses do pedestre”, explica.
De acordo com ele, existe a necessidade de revisão dos tempos de algumas sinaleiras, o que começará a ser estudado a partir de amanhã (quarta-feira), com a formação de um grupo de trabalho específico sobre o tema, o qual avaliará o tempo de todos os semáforos da Capital. Entretanto, segundo Fortunati, a emenda da forma como foi escrita não apresenta opções ao gestor de observar as características de cada via. “Nós chamaremos as entidades envolvidas com a causa e os vereadores para apresentar os dados colhidos nesta experiência. É dever do gestor público priorizar a parte mais frágil, que é o pedestre”, ressaltou.
O prefeito admitiu que os técnicos da EPTC estavam certos ao alertar sobre os problemas que a medida traria. As principais vias incluídas no teste, que alterou 238 semáforos, foram as avenidas Ipiranga, Osvaldo Aranha, João Pessoa, Mauá, Salgado Filho, Borges de Medeiros, Independência, Azenha e Loureiro da Silva. Conforme o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, a empresa trabalhou durante a madrugada para aumentar o tempo da travessia. Após a avaliação do impacto no tráfego pela manhã, a contagem antiga foi retomada à tarde para evitar congestionamentos no final do dia. “Essa parte da lei é inviável, pois já existe uma lógica no planejamento do trânsito. Quando se modifica uma sinaleira, é preciso alterar todas, para sincronizar o tempo do fluxo. Nós já estamos reavaliando esses intervalos nos locais com maior volume de pedestres”, explica.
A emenda, de autoria do vereador Marcelo Sgarbossa (PT), tem como objetivo dar mais segurança ao pedestre durante a travessia e também atender às necessidades de idosos e deficientes, que precisam de um período maior para atravessar as ruas. Na Capital, o tempo mínimo de travessia é de cerca de dez segundos.
Para Sgarbossa, o teste não foi aplicado da maneira correta. “Ele foi direcionado para não dar certo, pois foi implantado em sinaleiras normais e não apenas nas de pedestre, como define o texto. Além disso, uma sinaleira na Borges de Medeiros com a Demétrio Ribeiro teve o tempo de sinal verde para os carros reduzido de cerca de quatro minutos para 22 segundos. Não se entende o motivo disso. Eu prefiro acreditar que faltou competência do gestor”, critica o vereador. Segundo ele, a emenda retornará para a Câmara de Vereadores e será discutida novamente.
Pedestres criticam pouco tempo para travessia em alguns semáforos
A improdutiva quebra de braço entre carros e pedestres muitas vezes acaba estourando do lado mais fraco. O aposentado Ênio Miguel da Silva Lopez, de 76 anos, que atravessa diariamente a avenida João Pessoa em uma sinaleira com tempo de 11 segundos, relata que acha a travessia perigosa para o pedestre. “É preciso aumentar o tempo. Já fui atropelado em cima da faixa de segurança. Os carros não respeitam”, conta. Segundo ele, é frequente o sinal abrir enquanto ele está atravessando e os motoristas pressionarem para que ande mais rápido.
A estudante Mariana Areva, de 16 anos, também concorda que o mesmo local precisa ter o tempo para pedestres ampliado. Entretanto, considera que 30 segundos seria demais para a via. “Acho que uns 15 segundos seria o ideal neste ponto. Os 11 segundos são um período muito curto para as pessoas atravessarem”, considera.
Sindicato dos Rodoviários afirma que medida aumenta estresse dos motoristas
Imersos diariamente em um trabalho estressante, os motoristas de ônibus da cidade enfrentaram uma manhã atípica e ainda mais tensa. O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Julio Gamaliel, relata que muitos trabalhadores ficaram sem intervalo devido aos atrasos na tabela de horários. “A cidade já está um caos, com obras e buracos e ainda tomam essa medida. Não se pensa nem no usuário, que teve que descer do ônibus e ir ao trabalho a pé, e nem no motorista, que fica mais estressado. Atualmente, temos dois mil funcionários afastados por estresse”, critica.
O sindicalista relata que, em alguns pontos da cidade, o trajeto demorou quatro vezes mais do que o normal. Assim, a maioria das tabelas de horário foi descumprida. Gamaliel relata que 100 multas foram recebidas por trabalhadores neste mês por esse motivo. “Isso é um desrespeito da prefeitura e do legislador. Se essas questões não melhorarem, nós vamos parar a cidade. Já estamos conversando sobre a realização de operação-padrão dentro dos corredores”, afirma.
Por Jessica Gustafson
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