Ao comemorar oito anos, em 13 de março, o Notícias do Dia lançou uma enquete com a pergunta “O que pode ser melhorado em Florianópolis?” Tratamento e destino do lixo recebeu 7% dos votos, áreas de lazer ficou com 20%, e o tema ciclovias foi o escolhido, com 73% da preferência dos leitores. Por escolha do público, o ND aprofundará ainda mais as questões que envolvem a melhoria e a implementação de ciclovias na Capital. Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre ciclovias, a bandeira do Notícias do Dia este ano.
Florianópolis conta com aproximadamente 25 quilômetros de ciclovias e 32 quilômetros de ciclofaixas e passeios compartilhados. A rede de 57 quilômetros, no entanto, tem um grande gargalo: a falta de conexão entre uma via e outra. Na maioria dos pontos o ciclista disputa diretamente espaço com veículos de todos os portes.
Em 2013, apenas a obra da ciclovia da rua Vereador Osni Ortiga, no Porto da Lagoa, começou, mas ainda está na primeira etapa. As últimas que foram construídas na Capital - avenida Beira-Mar Continental, ciclofaixas da Tapera e da Cachoeira do Bom Jesus até Ponta das Canas - são de 2012, segundo o presidente da Via Ciclo (Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis), Luis Antônio Peters.
“O artigo 58 do Código de Trânsito Brasileiro diz que a circulação de bicicletas deve ocorrer nos acostamentos ou nas margens das vias, em caso de ausência de locais específicos para os ciclistas”, disse Peters. Ele lamenta a falta de vias e de respeito por parte dos motoristas, agravada pela falta de acesso aos estabelecimentos comerciais, iluminação, sinalização adequada e estacionamento para bicicletas.
“Algumas rodovias, como a 401, entre o trevo de Jurerê e Canasvieiras, contam apenas com tachões. Não chegam nem a ser ciclofaixas”, afirmou. Conforme Peters, após as últimas obras na curva da morte, a passagem de ciclistas ficou impedida pela perda do acostamento.
O vice-presidente da Via Ciclo, Daniel Araújo Costa discorda de Peters. Para ele, as ciclovias estão interligadas, porém com ruas. “Elas não ligam nada à lugar nenhum, como muita gente pensa. Acontece que em alguns pontos é impossível a implantação de vias exclusivas para ciclistas”, disse. Costa ainda observa que o número de acidentes envolvendo ciclistas na Capital tem diminuído, enquanto a quantidade de usuários de bicicleta aumenta gradativamente.
Planos do poder público
A Prefeitura da Capital terá, segundo a Secretaria de Comunicação, um relatório com todos os dados das ciclofaixas e ciclovias dentro de 30 dias. Na Secretaria de Obras, estão previstas a construção de mais de nove quilômetros de ciclovias.
Para os 3,3 quilômetros da rua Padre Rohr, em Santo Antônio de Lisboa, e os 3,4 quilômetros da avenida Jorge Lacerda, na Costeira do Pirajubaé, a previsão é de que o lançamento do edital ocorra em até 60 dias. Está prevista ainda a implantação de 2,7 quilômetros de ciclovia na avenida Ivo Silveira, no Estreito. Para esta obra, que custará R$ 204 mil, será assinado convênio com o Badesc (Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina).
De acordo com a assessora técnica do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), Andréa Andreazza, a servidora pública que dominava o assunto ciclovia se aposentou e, até o momento, ninguém assumiu plenamente as funções. As equipes do Ipuf estão envolvidas no Plano Diretor, razão pela qual os projetos das ciclovias estariam em segundo plano.
Obra da ciclovia da Osni Ortiga se arrasta há dez meses
Durante a semana o canadense Todd Southgate, 48 anos, pedala 11 quilômetros por dia para fazer compras e resolver assuntos particulares. Nos fins de semana, ele percorre em média 37 quilômetros, por lazer. Morador do Porto da Lagoa há mais de dez anos, o cineasta espera pelo fim das obras da ciclovia da rua Vereador Osni Ortiga para pedalar com mais segurança por seu bairro. “O problema é que ao fim da via para ciclistas, somos obrigados a empurrar a bicicleta em alguns pontos”, criticou.
O temor de acidentes acompanha o artesão Fábio de Oliveira, 39. “Não tenho carro. Faço tudo de bike. O problema é que volto ao passado nos pontos em que terminam as ciclovias”, disse.
“Sem conexão as ciclovias pouco ajudam na mobilidade. Ficam subutilizadas apenas para lazer”, afirmou a estudante Graciere Campos, 26, moradora do Novo Campeche. Ela pedala pela Osni Ortiga três vezes por semana.
De acordo com a Secretaria de Obras, a primeira etapa da ciclovia da Osni Ortiga, que consiste no aterro e na contenção de muro, deveria estar pronta em 120 dias. As obras começaram em julho de 2013 e atrasaram por conta da necessidade de monitoramento ambiental, a pedido do Ministério Público, e greve de bancos, que atrasou os pagamentos à empresa contratada. A ciclovia terá 1,9 quilômetro e custará R$ 3 milhões. O prazo total da obra é de 12 meses.
PROJETOS
Próximas ciclovias da Capital
Rua Deputado Antônio Edu Vieira, Pantanal: 2,7 km; custo: R$ 450 mil
Rua Padre Rohr, Santo Antônio de Lisboa: 2,3 km; custo: R$ 123 mil
Avenida Jorge Lacerda, Costeira do Pirajubaé: 3,4 km; custo: R$ 159 mil
Avenida Ivo Silveira, Estreito: 2,7 km; custo: R$ 204 mil
Nomenclatura
Ciclofaixas: tem tachões e faixas pintadas no chão, sem barreiras físicas
Ciclovias: são separadas das vias por muretas e guard rail
Por Alessandra Oliveira
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