A previsão inicial era de conclusão em dezembro de 2013. Mas, a pouco mais de um mês desse prazo, o BRT Transcarioca ainda espalha poeira e transtorno ao longo de seus 39 quilômetros, da Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador. Os ônibus só devem começar a circular pelo corredor no ano que vem. Segundo a Secretaria municipal de Obras, tudo estará pronto até o segundo trimestre de 2014, pouco antes da Copa do Mundo. Num primeiro trecho, da Barra à Penha, a prefeitura diz que a meta é concluir as intervenções viárias já no mês que vem. Mas quem vê as obras continua cético.
Na Taquara, a sequência de postes no meio da Avenida Nelson Cardoso mostra o desafio que será finalizar a primeira parte da Transcarioca até dezembro. No Largo do Tanque, uma nuvem de poeira indica que o corredor está longe de ficar pronto. E se na Praça Seca já se pode ver a base da futura estação de ônibus, buracos abertos no asfalto deixam moradores e comerciantes temerosos de conviver com as obras por mais tempo que o previsto.
— Duvido terminarem até dezembro. É capaz de chegarmos ao carnaval com essa obra — diz Vicente Augusto Feitosa, funcionário de uma loja na Rua Cândido Benício, na Praça Seca. — O trânsito está caótico e sobe muita poeira. Para melhorar um pouco, molho a calçada. Acredito que isso não vá mudar tão cedo.
‘Tudo dentro do planejado’
O secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto da Silva, no entanto, garante que da Barra à Penha, passando pela Praça Seca, 90% das obras viárias estão prontas. Mas reconhece que, nesse trajeto, há três pontos complicados: a área do Largo do Tanque; o trecho da Rua Ministro Edgard Romero, em Madureira, próximo ao Turiaçu; e dois quarteirões da Rua Cândido Benício, entre o Mato Alto e a Praça Seca, onde as obras de pavimentação não começaram devido ao remanejamento da rede elétrica. Já no trecho da Penha à Ilha do Governador, afirma, 78% das obras estão prontas, e prevê-se a conclusão em 2014. Tudo, diz o secretário, dentro do cronograma proposto.
— Sempre trabalhamos com a entrega do BRT Transcarioca no primeiro semestre de 2014 — diz o secretário. — Hoje, faltam apenas oito quilômetros de pavimento rígido para serem concluídos, e seis quilômetros para colocar asfalto. Está tudo dentro do planejado.
Só que, no ano passado, em vários momentos a prefeitura anunciou a Transcarioca para dezembro de 2013. Em março de 2012, no início da segunda etapa das obras (da Penha à Ilha do Governador), o próprio secretário mencionou esse prazo. Essa data-limite também foi citada pelo município pouco antes da inauguração de três obras do BRT: o mergulhão de Campinho, o novo viaduto de Madureira e a ampliação da Rua Guaxima. Em abril de 2012, quando a construtora Delta, em meio a escândalos, saiu da Transcarioca, também se afirmou que todo o sistema estaria pronto em dezembro de 2013.
Em Vaz Lobo, postes tortos
Os cerca de oito quilômetros entre o Terminal Alvorada, na Barra, e a Estrada dos Bandeirantes, em Curicica, são os mais adiantados, com nove estações (no total, serão 45) em fase avançada. Em uma delas, na Avenida Ayrton Senna, já foi feito o teste de iluminação. A ponte estaiada sobre a Lagoa do Camorim, no entroncamento da Ayrton Senna com a Embaixador Abelardo Bueno, também está em fase final. Mas o cenário muda quando se vai para Jacarepaguá e Zona Norte.
São poucas as estações cujas estruturas já estão subindo. Em Curicica, próximo ao número 3694 da Estrada dos Bandeirantes, a futura estação sequer recebeu a base de concreto. O secretário de Obras argumenta que, ainda que as obras viárias comecem a ser entregues em dezembro, o prazo não se aplica a todas as estações, que serão abertas de forma gradativa.
Na Taquara, ao nó no fluxo de veículos se somam pedestres passando em meio a carros e ônibus. Na última segunda-feira, uma estudante tropeçou num ressalto entre a pista do BRT e a da Nelson Cardoso: ela caiu no asfalto e quase foi atropelada. Dali até Madureira, devido às obras, há vários estreitamentos de pistas, que só permitem a passagem de um ou dois veículos por vez.
— Tenho evitado andar de carro pelo bairro. É mais rápido a pé — queixa-se a dona de casa Luzinete dos Santos, de 43 anos.
Mas até caminhar é difícil. A dona de casa Elisabete da Silva Alves, de 51 anos, ganhou uma cicatriz ao cortar o braço numa grade arrebentada na passagem de pedestres na Taquara. Já em Vaz Lobo, alguns dos postes recém-instalados já estavam tortos. Um deles desabou sobre a fachada de uma funerária.
— A cada dez postes, quatro já estão tortos. Esse que caiu estava completamente oco por baixo. Por que a qualidade da obra aqui é pior? — pergunta o empresário João Paulo Tavares.
Mudança no traçado influiu
A Secretaria de Obras aponta como motivos para a demora a complexidade — como uma ponte em arco que passará sobre a Avenida Brasil, que não poderá ser interditada — e uma mudança de traçado, que aumentou a primeira parte da Transcarioca em quase um quilômetro. Essa alteração, segundo o secretário, reduziu o número de desapropriações, de 3.600 para 1.534.
Menos sorte teve a dona de casa Inês Monte, de 53 anos, cujo imóvel na Rua Ibiapina, entre Penha e Olaria, foi desapropriado. Ela vive agora num salão de festas. Já a aposentada Tereza da Conceição Braz Lobo, de 71 anos, perdeu uma loja:
— Ganhava R$ 800 com o aluguel. Agora, vivo apenas com a pensão, de um salário mínimo. Uma imobiliária avaliou a loja em R$ 220 mil, mas a prefeitura ofereceu R$ 138 mil.
Por Rafael Galdo | Fotos: Alexandre Cassiano
Informações: O GLOBO
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