Para empresas de ônibus, subsídios do governo não são suficientes para cobrir a diferença entre os custos do sistema e os valores recebidos
As empresas do transporte público de Curitiba e região metropolitana dizem acumular um déficit de R$ 100 milhões em seus cofres. O rombo, alegam, seria provocado pelo desequilíbrio entre as obrigações previstas no contrato com a Urbanização de Curitiba S.A (Urbs) e o pagamento recebido por elas.
O impasse que ocorreu nesta semana em relação ao pagamento do 13.º salário de funcionários das empresas de ônibus da Rede Integrada de Transporte (leia abaixo) vai além de um simples problema trabalhista. A alegação das empresas de que não há verba suficiente para efetuar o pagamento indica que o déficit do sistema de transporte coletivo de Curitiba é ainda maior do que o causado pela diferença entre o custo da tarifa técnica (valor por passageiro repassado pela Urbs) e o da passagem paga pelo usuário.
Uma estimativa da reportagem mostra que só com o valor das passagens o sistema acumula um prejuízo de cerca de R$ 53 milhões entre março e novembro deste ano. Entre 2008 e 2012, esse déficit cresceu 105,4%. Até agora os subsídios do governo do estado e da prefeitura não têm amenizado o problema, de acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp).
Em agosto, a Urbs reajustou a tarifa técnica de R$ 2,79 para 2,87, R$ 0,27 a mais do que o valor pago hoje pelo usuário (R$ 2,60). As empresas do setor afirmam que estão com dificuldade para efetuar o pagamento dos funcionários porque há uma defasagem entre os custos dos serviços prestados e o valor recebido por eles. A Urbs foi obrigada a elevar a tarifa técnica por uma decisão judicial, após as empresas de ônibus da região metropolitana exigirem recursos iguais aos da capital na Justiça.
O Setransp questiona as planilhas de custo com duas ações na Justiça contra a Urbs.
Urbs
De acordo com o diretor de transporte da Urbs Antônio Carlos de Araújo, é um direito das empresas questionarem as planilhas. Além disso, ele lembra que no mês de fevereiro ocorre a revisão das planilhas, conforme consta em contrato. Eles venceram a licitação e, em menos de dois anos, já ficou ruim? questiona o diretor. Araújo ainda lembra que todo repasse da tarifa técnica tem sido feito regularmente. O que é de direito deles está sendo pago. Se eles acham que a remuneração não é suficiente, nós temos uma avaliação diferente, afirma. A reportagem procurou representantes da Setransp, mas não havia ninguém disponível para comentar o assunto.
Transparência
Segundo o economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o rombo real do sistema de transporte só poderá ser avaliado quando a Urbs abrir as tabelas de custo. Silva ressalta que é preciso mudar os parâmetros dos custos incluídos no cálculo da tarifa técnica, por exemplo. O consumo de pneu tem um parâmetro de 1987, o gasto do diesel é de 2001. É preciso atualizar a metodologia, mas é necessário que haja transparência, critica.
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