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Especialista que mudou Barcelona sugere soluções para Salvador

quinta-feira, 1 de novembro de 2012


Ele tenta andar na cidade, mas não consegue, pois não há calçadas. Nas avenidas, espaço demais para carros e pouco para o transporte público. Esses e outros problemas – que têm solução - são observados pelo engenheiro espanhol Manuel Herce, 65, um dos responsáveis pela reconstrução de Barcelona para as Olimpíadas de 1992, legado que se sente até hoje no bom funcionamento da cidade espanhola. 

Herce, que é casado com uma brasileira, está desde o início da semana em Salvador para participar da 3ª edição do Agenda Bahia, que começa hoje, às 8h, na Fieb, e alerta que a construção de viadutos e de estacionamentos não vai resolver os problemas da capital baiana: é preciso dar atenção ao pedestre e melhorar o transporte público. 

Ontem, em um passeio por pontos movimentados da capital com o CORREIO, Herce apontou problemas e sugeriu soluções para a cidade se tornar mais sustentável.

Em primeiro lugar, diz ele, a cidade precisa ser pensada para o morador, não para os carros. Ao conhecer os números da pesquisa do Instituto Futura que mostra que 73% dos moradores de Salvador levam quatro horas por dia no trânsito, ele afirmou que o problema poderia ser resolvido com um sistema integrado de transporte. 

Atualmente, “o carro atrapalha o ônibus e o ônibus atrapalha o carro”, diz. “Isso mostra que se deve controlar o espaço para os carros, pra melhorar o engarrafamento. Em outras grandes cidades do mundo você gasta 1 hora, 1 hora e meia”, conta. 

Dificuldades
Na região do Iguatemi, na passagem do viaduto que dá acesso à Rodoviária, ele apontou a falta de espaço para pedestres, excesso de faixas para carros e áreas verdes desaproveitadas.

“Você pode ter avenidas grandes na cidade, mas uma avenida não precisa ser uma autoestrada, tem que ter espaços para os pedestres também”, opina. Herce ressaltou a dificuldade que os soteropolitanos têm de sair de seus bairros para chegar aos pontos de ônibus nas avenidas. “Aqui ninguém pode atravessar a rua, o viaduto não tem calçada. O cara que quer atravessar aqui morre. Se quer pegar ônibus aqui, o que faz? Ele tem que caminhar meio quilômetro”, comenta.

Herce também critica o excesso de viadutos, dizendo que eles não são uma alternativa sustentável para o trânsito, uma vez que aumentam o espaço só para os carros.

“O problema não é carro, carro é um direito. O problema é que o carro adentrou a cidade. Em Paris, tem quase uma média de 2,2 carros por família, mas na rua você não vê praticamente, só sábado e domingo, porque o sistema de transporte coletivo é ótimo”, compara. Uma das sugestões de Herce para o Iguatemi é aumentar os espaços para pedestres, restringir a passagem de carros em parte das pistas e criar faixas exclusivas para ônibus. 

Desagradável
O engenheiro criticou também a falta de espaços agradáveis para caminhar. Na orla, mesmo havendo calçadões, Herce chama a atenção para a falta de planejamento paisagístico. “Nas praias da Pituba ao Rio Vermelho, não tem uma árvore sequer. Só tem poste, concreto. É uma região feita para o pedestre, mas o pedestre é sacrificado”, opina.

Uma das mais movimentadas da cidade, a avenida Mário Leal Ferreira, a Bonocô, foi criticada pela falta de espaços de convivência. Na avenida, quase não há calçadas. 

Metrô
Herce afirma ainda que o metrô é uma das saídas mais importantes, mas não a única, para os problemas de mobilidade. “Num deslocamento longo, você não pega só o metrô, pega também ônibus, bicicleta, carro, anda a pé. Esse é um problema de planejamento público. Você não pode ficar esperando horas pra um ônibus passar, nem andar demais de uma estação para a outra. É preciso integrar os diferentes transportes”, indica.

Apesar de o metrô ter apenas seis quilômetros de extensão até agora, o problema maior, diz Herce, é a quantidade de estações e a distância entre elas. Em toda a Bonocô há apenas uma parada do metrô, a Estação Brotas, enquanto Herce diz que o metrô deve unir a população à cidade e trazer conforto às pessoas.

“As pessoas não podem depender de uma passarela pra entrar no metrô. Ele tem que estar ligado com o lugar, e todo o entorno tem que ter uma estrutura para caminhar. É a partir daí que nascem lojas, comércio. Tem que ter estações suficientes pra que as pessoas caminhem, no máximo, 200 metros. Aqui tem muito mais distância que isso”, critica. 

Por Lorena Caliman

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