Sem fazer grandes investimentos públicos, sem gasto com publicidade e sem alarde, a Prefeitura conseguiu, no último mês, um feito significativo para a mobilidade urbana da capital: aumentou em quase 20% a velocidade dos ônibus que percorrem a Radial Leste, principal acesso da região ao centro da capital.
A São Paulo Transporte (SPTrans) instalou lá, no fim de setembro, uma faixa exclusiva para coletivos na pista à direita, nos dois sentidos. A previsão da Prefeitura era que a medida tinha potencial para aumentar em até 15% a velocidade dos ônibus.
No sentido do bairro para o centro, a meta bateu na trave: o aumento da velocidade foi de 14,9%. Não que, em números absolutos, o ganho tenha sido muito significativo: a velocidade subiu de 12,5 km/h para 14,4 km/h, segundo dados da SPTrans. Mas no sentido do centro para o bairro, a velocidade aumentou de 12,7 km/h para 15,2 km/h. A comparação antes e depois se refere a outubro do ano passado e outubro deste ano.
Apesar da velocidade ainda ser baixíssima, o ganho é equivalente, segundo técnicos, a aumentar a quantidade de ônibus. É como pôr 19% de veículos a mais circulando na via, o que reduz o tempo de espera dos passageiros nos pontos.
Mas quem toma ônibus na Radial Leste diariamente diz ainda não ter sentido nenhuma melhoria significativa. 'Eu gastava uma hora na viagem antes e continuo gastando uma hora', diz o auxiliar de escritório Fagner Silva Barreto, de 28 anos. Ele toma ônibus na frente da Estação Tatuapé e desce no bairro de Guaianases. 'Os carros não respeitam muito essa faixa. Então, é como se ela não existisse', afirma.
De fato, até entre passageiros é fácil achar pessoas que ainda não conhecem a faixa exclusiva - que é apenas uma linha contínua pintada no asfalto, com algumas placas aéreas indicando a exclusividade de ônibus na via.
'Os carros respeitam mais no horário do pico, principalmente à tarde, quando tem mais marronzinhos nos cruzamentos', diz a auxiliar de microfilmagem Andressa do Prado Vilela, de 21 anos.
A reclamação tem fundamento. Em apenas 10 minutos, na tarde de terça-feira, a reportagem contou 16 carros circulando na faixa exclusiva, na altura da Estação Belém do Metrô. Colabora para isso o fato de que a faixa fica à direita - em geral, os corredores de ônibus ficam à esquerda. A reportagem solicitou à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) o balanço de multas aplicadas aos carros que desrespeitaram a faixa, mas não obteve retorno até a tarde de ontem.
Corredor. A faixa exclusiva na Radial Leste é, segundo a própria SPTrans, uma solução paliativa. A gestão Gilberto Kassab (PSD) deve construir um corredor na via até o fim do ano que vem. O ramal, cujas plataformas deverão ter catracas - o que acelera o embarque -, deverá ser o único entre os 400 quilômetros de corredores do Plano Diretor Estratégico a ser entregue por Kassab.
O governo municipal rebate as críticas sobre falta de investimentos em corredores com o argumento de que, pela primeira vez na história da cidade, a Prefeitura está fazendo investimentos diretos no metrô. São R$ 1 bilhão, a maior parte canalizada para o monotrilho que ligará Cidade Tiradentes, no extremo leste, à região da Vila Prudente, que já tem metrô.
Ilusão. Mas é cada vez mais fácil encontrar críticas ao investimento direto no metrô sem a complementação com corredores de ônibus. O pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da USP e diretor da Fundação Clinton no Brasil, Adalberto Maluf, por exemplo, afirma que os investimentos no transporte público de São Paulo estão se perdendo nos trilhos.
'Vive-se essa ilusão de que o metrô é a única solução para o transporte', afirma. Para Maluf, isso ocorre porque a classe política sabe que construir metrô resulta em mais dividendos eleitorais e porque parte dos técnicos ligados ao transporte público municipal concorda com essa ideia, segundo ele.
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